Durante a pandemia de covid-19, muitas pessoas foram desligadas do emprego. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), só Pernambuco encerrou 2020 com o saldo negativo de 5.163 postos de trabalho. Foram 382.843 admissões contra 388.006 demissões entre janeiro e dezembro de 2020. Depois de cinco meses de alta, entre julho e novembro, o estado voltou a apresentar queda no saldo de empregos gerados em dezembro, com o recuo de 2.711 postos. No último mês do ano, foram 31.022 contratações contra 33.733 desligamentos. O saldo do ano de Pernambuco foi o segundo pior do Nordeste, atrás apenas da Bahia, que teve desempenho negativo em 5.307 vagas.
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Uma das pessoas demitidas nesse período foi o faturista Andrio Amorim, 31 anos. Em setembro, o que era para ser mais um dia normal de trabalho tornou-se o último dele na empresa. Junto com ele, outros sete funcionários foram desligados da companhia, que atua no ramo contábil. “Eu perguntava aos meus chefes se a empresa era financeiramente saudável para aguentar o rojão da pandemia. A resposta era praticamente a mesma sempre, que isso não cogitado ou demissões seriam a última opção.” Menos de dois meses depois, ele foi demitido.
Andrio conta que, para minimizar os danos aos demitidos, que representavam cerca de 30% da equipe, a empresa garantiu benefícios aos ex-funcionários, como plano de saúde por dois meses, vale-alimentação também por dois meses e vale-transporte por um mês. “Por mais que tenha sido difícil, esse pacote ajudou para que o processo fosse mais tranquilo”, diz ele, que foi contratado para o setor administrativo de um hospital do Recife neste mês.
O pacote de benefícios faz parte do que o mercado tem chamado de demissão humanizada ou com responsabilidade, uma expressão que ganha relevância com a alta de demissões e a taxa de desemprego no momento em que vivemos. Do lado das empresas, a ajuda aos demitidos também é uma forma de manter a reputação da corporação, já que ela não tem obrigação de dar esse tipo de suporte, como explica a advogada trabalhista Patrícia Teixeira.
“O desligamento humanizado não é obrigatório legalmente, mas tem um impacto social importante”, conta. “Além disso, quando as empresas fazem demissão humanizada, o empregado pensa duas vezes antes de ajuizar uma demanda trabalhista”, afirma ela, para quem os frutos são colhidos depois. “A imagem de proteção ao empregado é cada vez mais importante. Muitas pessoas estão indo trabalhar não só pelo salário, mas por benefícios, contexto moral e sensação de confiança e bem estar com a empresa.
Na avaliação de Luana Cepellos, especialista em gestão de pessoas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), independentemente do tempo que passou como funcionário daquela empresa, a pessoa que está de saída precisa ser tratado com respeito, de forma humana e nada robótica ou meramente processual. "A premissa da demissão humanizada é uma dispensa cuidadosa, explicada, justificada e comunicada de maneira atenciosa; com transparência nas informações e no procedimento, de maneira que a pessoa demitida compreenda completamente seus direitos, os valores recebidos e o porquê de cada informação".
Dessa forma, o tratamento empático é essencial, em que o contratante coloca-se no lugar do colaborador. “Além da forma de tratamento e dos benefícios monetizáveis, indicações em redes sociais e criação de banco de talentos também integram a lista nesse tipo de demissão", pontua ela.
EXEMPLOS GLOBAIS
Engana-se quem pensa que o conceito é novo. O que ocorre é que em meio à crise da covid-19, essa empatia ganhou mais força. Empresas globais como Linkedin e Airbnb optaram por anunciar suas demissões por meio do pronunciamento de seus respectivos CEOs. O Linkedin afirma que, além do suporte financeiro, que varia de acordo com as práticas específicas de cada país onde tem escritório, continuaria dando suporte nos âmbitos de: saúde ; transição de carreira e apoio tecnológico, assim os funcionários puderam ficar com celulares e laptops da empresa).
O Airbnb tomou medidas similares, onde todos os empregados desligados têm direito a pelo menos 14 semanas de pagamento; suporte na recolocação e também poderiam continuar com seus computadores. Procuradas pelo JC, tanto Airbnb quanto Linkedin não retornaram o contato.
Para a psicóloga e professora universitária Geórgia Menezes, a pandemia é causadora de um grande medo e, quando associada a outra questão como a demissão, o processo fica mais doloroso, tanto para quem demite quanto para quem é demitido. “A demissão tem uma série de complicadores, porque o trabalho não tem só uma função econômica, mas também faz parte da realização de um grupo."