Membros do Movimento Pró-Pernambuco (MPP) - grupo empresarial que reúne cerca de 20 entidades como a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Fecomércio-PE, CDL Recife e Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) - realizaram uma coletiva de imprensa no início da tarde desta segunda-feira (15) na qual cobraram maiores transparência e diálogo do governo do Estado na elaboração e execução de medidas restritivas para o enfrentamento à covid-19. O MPP também reivindica um assento, ainda que de ouvinte, no comitê que debate as ações que serão adotadas pelo Executivo para combater o coronavírus em Pernambuco, pois diz que pode contribuir com a gestão para que medidas mais assertivas sejam desenvolvidas para evitar a escalada da doença no Estado.
"O MPP representa entre 90% e 95% da atividade produtiva de Pernambuco, e temos acompanhado nos últimos meses uma mudança de comportamento do vírus e o esforço do governo de Pernambuco no sentido de minorar os impactos desta segunda onda. No entanto, nós reivindicamos o simples fato de sermos ouvidos. Nós queremos ouvir o governo, queremos transparência no processo", afirmou Avelar Loureiro Filho, presidente do MPP, pouco antes do anúncio da nova , de 18 a 28 de março, pelo governador Paulo Câmara (PSB).
George Trigueiro, presidente do Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde, Laboratórios de Pesquisas e Análises Clínicas do Estado de Pernambuco (Sindhospe), disse que há um ano a entidade tem colaborado com a administração estadual no combate à enfermidade, mas cobrou do Palácio do Campo das Princesas "coordenação e comunicação". "(Há um ano) Nós colocamos leitos à disposição (da Secretaria Estadual de Saúde) e há 15 dias, após chamamento do secretário André Longo, renovamos essas contratualizações e estamos colaborando para que se evite o colapso dos sistemas público e privado no Estado de Pernambuco. Mas nós vimos que é necessário um maior controle, em termos de comunicação e coordenação. Já sabemos que o governo federal está com uma certa dificuldade de assumir essa coordenação, mas sugerimos que, pelo menos aqui em Pernambuco, haja uma coordenação estadual em relação aos municípios de todas as macrorregiões para que haja o cumprimento do que é determinado pelo governo", declarou.
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Nesta nova quarentena, segundo o governo do Estado, "ficarão proibidos de funcionar os serviços de bares e restaurantes; shoppings e galerias comerciais; óticas; salas de cinema e teatros; academias; salão de beleza e similares; comércio varejista de vestuário, calçados, eletroeletrônicos e linha branca, cama, mesa e banho e produtos de armarinho; escolas e universidades (públicas e privadas); clubes sociais , esportivos e agremiações; práticas e competições esportivas; praias, parques e praças; ciclofaixas de lazer, eventos culturais e de lazer, além dos sociais. Igrejas e demais templos religiosos poderão abrir para atividades administrativas e para preparação e realização de celebrações via internet".
Presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), Bernardo Peixoto afirmou estar preocupado com os impactos que 10 dias de fechamento podem trazer para esses estabelecimentos. "No ano passado, o setor de serviços caiu mais de 12%. A queda do de turismo ficou em torno de 40% e apenas o setor de papelaria também caiu mais de 40%. Nós estamos em uma situação muito difícil. É impossível as empresas aguentarem mais de 10 dias de lockdown. Nós já estamos no final do mês, na segunda quinzena, como as pequenas e médias empresas vão pagar os seus funcionários?", questionou.
"O que nós desejamos, através do MPP, é a transparência do governo, porque se nós tivéssemos pelo menos uma previsão do que o Estado pretende fazer de pelo menos sete dias de antecedência, ficaria muito mais fácil de podermos nos preparar para tomar decisões. Mas somos sempre pegos de surpresa, e isso é muito ruim para o setor. Por isso nós queremos uma cadeira no comitê estadual que trata dos temas relacionados à covid-19. Não é ser crítico, nem querer bater, é querer ajudar com opiniões que podem amenizar a situação do setor privado", completou Peixoto.
Ricardo Essinger, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), chamou a atenção para a queda de arrecadação que a gestão estadual precisará enfrentar com medidas mais restritivas de isolamento. "Nós ficamos muito preocupados com essa notícia do lockdown. (...) Várias indústrias que demitiram, não têm perspectiva de admitir. Com uma nova quarentena, a perspectiva que nós temos é que haja ainda mais desemprego. Quem é que produz, quem é que gera recursos para o Estado? É o setor produtivo. Se o setor produtivo não trabalha, se o comércio não vende, não tem imposto. Se não tem imposto, o Estado não tem arrecadação. O Estado, então, estará se autossustentando, e nós ficamos muito apreensivos com isso", frisou.
Na entrevista, Eduardo Catão, diretor administrativo-financeiro da CDL Recife, mostrou-se preocupado com a situação dos lojistas do Estado, pois, segundo ele, o ano de 2020 já foi bastante duro com o setor. "Eu estou aqui representando cerca de 60 CDLs de Pernambuco e nós geramos muitos empregos no Estado, muitos impostos, muita arrecadação para o governo. Com o lockdown do ano passado, a queda nas vendas até hoje não foi recuperada. Muitas lojas já fecharam, muitas pessoas estão desempregadas, e com a chegada de medidas mais agressivas, com certeza vai haver o fechamento de mais diversas lojas no estado de Pernambuco, o que vai gerar ainda mais desemprego. Como participantes ativos do MPP, eu acho que nós deveríamos ser escutados, com o objetivo de ajudar e fornecer dados para melhorar as medidas que o governo adotar, até porque quem conhece o seu negócio é cada um que trabalha nele, não quem está de fora e toma decisões que acabam prejudicando a todos", pontuou Catão.
SUGESTÕES
Antes de conhecer as normas do lockdown que entra em vigor a partir do dia 18, Avelar Loureiro Filho afirmou que medidas menos duras poderiam ser pensadas pelo Executivo para tentar frear o avanço do coronavírus em Pernambuco, entre elas ao aumento dos subsídios para as o transporte público no Grande Recife, para evitar aglomerações nos horários de pico.
"A máxima que a gente tem aqui é que ninguém deve sofrer mais do que o necessário. E algumas ações adotadas pelo governo levam a sacrifícios que não fazem sentido, enquanto que em outras situações, o governo pode exigir mais de alguns setores. Por exemplo, os shoppings podem trabalhar um pouco mais tarde e terminar mais tarde. A construção civil, por outro lado, pode puxar o seu horário para mais cedo, nunca para mais tarde. Vários ajustes finos só podem ser feitos com os diversos setores sendo coordenados. Será que não seria mais sensato gastar mais subsídio no transporte público, deixar ele um pouco mais folgado para evitar aglomerações, do que fazer um lockdown, que vai fazer o Estado perder receita? A gente tem que fazer essa conta linearmente", argumentou Avelar.
OUTRO LADO
Secretário de Planejamento e Gestão de Pernambuco, Alexandre Rebelo afirmou não haver falta de diálogo do Executivo com "nenhum segmento", mas disse que o Estado não tem condições de atender aos pleitos de todos os setores que vão à mesa com a gestão. "A gente tem, de forma reiterada, conversado com segmentos econômicos, segmentos sociais, associações, sindicatos ou qualquer entidade que precise e deseje conversar com o governo de Pernambuco. O que ocorre, na verdade, é uma divergência de agenda. A gente compreende os pleitos que são apresentados, mas muitas vezes esses pleitos não podem ser atendidos e isso acaba gerando uma frustração por parte de quem o fez", declarou Rebelo.
As declarações do auxiliar do governador Paulo Câmara foram dadas durante coletiva à imprensa no fim da tarde. Na ocasião, o secretário também informou algumas ações que já foram adotadas pela administração estadual para tentar amenizar os impactos da pandemia junto ao setor produtivo.
"Nós estamos fazendo tudo o que é possível para auxiliar o setor. Postergamos o pagamento de impostos de micro empresas; mandamos agora um projeto de lei para a Assembleia Legislativa para fazer o Refis, que é a redução de juros e multa de pagamentos em atraso; fizemos créditos específicos para empresas em dificuldade; conseguimos pagar o 13º do Bolsa Família, que é um valor significativo de recursos, mais de R$ 150 milhões para o conjunto mais vulnerável da população, nós estamos no limite do nosso esforço de, por um lado, ampliar o sistema de saúde, e do outro lado, criar a maior rede de proteção social possível", observou Alexandre Rebelo.