Quase 100% dos políticos pernambucanos ficaram indignados com o fato do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, anunciar, no final de julho, que seria concluído o ramal da Ferrovia Transnordestina que iria para Pecém, nas imediações da capital do Ceará, e abandonar o ramal que viria para Suape. "Concluir o ramal de Suape da Transnordestina é uma política do Estado", atesta o presidente do Porto de Suape, Roberto Gusmão. Em obras desde 2006, a Transnordestina é uma ferrovia de 1752 quilômetros, que sai da cidade de Eliseu Martins, no Sul do Piauí, indo até Salgueiro e a partir daí se dividiria em dois ramais, um seguindo para o Porto de Pecém e outro, para Suape.
Se este projeto tivesse lógica, o primeiro ramal a ser concluído viria para Suape, o porto que, no Nordeste, é líder em movimentação de contêineres, em gás de cozinha, em combustíveis, em veículos, entre outros. Acontece que o grupo empresarial que está à frente do empreendimento já tem um terminal privativo no Porto de Pecém, segundo vários políticos.
- PEC da Transnordestina começa a tramitar na Alepe; deputados articulam frente em defesa do Ramal de Suape
- Paulo Câmara vai ao ministro da Infraestrutura alegar que manter a obra da Transnordestina em Pernambuco é mais barato que concluir trecho do Ceará
- Na Amupe, prefeitos discutem defesa da Transnordestina em Suape
- Alepe cria Frente Parlamentar em defesa do Ramal de Suape da Transnordestina
A ferrovia ligando o Sul do Piauí ao Porto de Suape é estratégico para o desenvolvimento de Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Por quê? Vai fazer as mercadorias, de um modo geral, chegarem mais baratas ao consumidor final. Geralmente, quando se substitui o transporte feito pela rodovia (em caminhões) pela ferrovia há uma redução na despesa do frete em torno de 30%. Ou seja, os produtos ficariam mais baratos, dependendo do quanto se gasta no seu transporte.
Autor de um livro muito interessantes sobre o desenvolvimento regional, o deputado federal Raul Henry (MDB) mostra que uma das principais diferenças que fez os Estados Unidos ficarem mais competitivo do que o Brasil foram a implantação das ferrovias. Além de contribuir para baixar o preço das mercadorias, isso também leva várias empresas a ficarem mais competitivas, conseguindo crescer mais e colocarem seus produtos em outros lugares do mundo. Ou seja, em muitos locais, por onde a Transnordestina passar, vão se desenvolver novos negócios. E o impacto pode ser grande em cadeias que já existem, como a fruticultura irrigada, o gesso, a avicultura, entre outros. Uma das maiores estudiosas em desenvolvimento regional, a economista Tânia Bacelar, lembra que é importante que os dois ramais da ferrovia sejam implantados e que isso poderia ser uma pauta de todos os governadores do Nordeste.
A atual empresa que está à frente das obras, a TLSA, é do grupo empresarial que tem à frente o empresário Benjamin Steinbruck, que ganhou uma concessão para explorar a antiga Malha Nordeste em 1997. A única coisa que fez foi acabar com a ferrovia existente no Nordeste. Não cumpriu as metas de concessão e nunca teve nenhuma penalidade.
Não se constrói uma ferrovia pensando no hoje, mas no amanhã. Gastaram R$ 6,4 bilhões e cerca de 80% destes recursos foram públicos. Um dos que mais trabalharam pra recursos públicos bancarem a Transnordestina foi o finado ex-vice-presidente da República Marco Maciel (DEM) pois Steinbruck não queria entrar com aporte financeiro já que o projeto só vai dar lucro no muito longo prazo, como geralmente ocorre com todas as ferrovias. Do total, somente 600 km foram implantados.
A ferrovia está praticamente paralisada desde 2016. A retomada das obras voltou a ser falada agora, porque o preço do minério de ferro está alto no mercado internacional. É o minério de ferro, principalmente o que está no subsolo no Sul do Piauí, que vai dar viabilidade econômica a Transnordestina. Este boom dos minérios com o preço em alta pode passar em dois anos, segundo alguns especialistas.
BANDEIRA
A Transnordestina devia ser uma bandeira de todos os pernambucanos, porque deixaria o Nordeste ficar mais competitivo, saindo da dependência das estradas, o meio de transporte mais caro e o único usado na região mais pobre do País. Todo mundo se lembra da última greve dos caminhoneiros de 2018, não é ? Se os trens circulassem na região tinha ocorrido menos desabastecimento.
Com exceção do Norte que tem um solo cortado por rios, o Nordeste é a única região brasileira que atualmente não tem trem e isso tem tudo a ver com esse grupo empresarial que está à frente da Transnordestina. E isso vai nos deixar ainda mais longe do sonhado desenvolvimento. Todos os governadores do Nordeste deveriam se unir para este projeto sair do papel.
Paulo Câmara está se mexendo, porque se o ramal for só para o Ceará, eleitoralmente é muito ruim. E o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) vai aproveitar esse fato durante a campanha do filho dele a governador, o atual prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (MDB), que pode acontecer em 2022. Só que F.B.C. esqueceu que foi presidente de Suape e secretário de Desenvolvimento Econômico da gestão de Eduardo Campos. Por causa disso, ele está dizendo que o Estado não fez nada nos últimos oito anos... A politicagem de sempre que não vai nos levar a lugar algum...