Artesanato

Fenearte 2022: Tecidos com grafismo dos povos indígenas Juruna e Arara são novidade na feira nesta 22ª edição

Bel Juruna apresentou o artesanato dos Povos Juruna e Arara, de Altamira (PA), durante a abertura do Roda de Conversas, no Espaço Janete Costa, na 22ª edição da Fenearte

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Adriana Guarda

Publicado em 08/07/2022 às 16:51 | Atualizado em 08/07/2022 às 21:04
BEL JURUNA Artesã traz o xingu com grafismo em tecidos no Janete Costa - DAY SANTOS/JC IMAGEM

A artesã e líder indígena Bel Juruna se apresentou na Fenearte com as ondas do Rio Xingu desenhadas no corpo. Foi a filha Juliana, 18 anos, quem pintou a pele da mãe com tinta de jenipapo. O grafismo é parte da identidade e da cultura dos povos indígenas.

Pela primeira vez em Pernambuco, Bel estreia na Fenearte trazendo tecidos pintados com traços dos povos Juruna e Arara, habitantes da Volta Grande do Xingu, no município paraense de Altamira.

As peças estão expostas e à venda no Espaço Janete Costa, onde Bel Juruna participou na quinta-feira (7) da abertura da Roda de Conversas, discutindo o tema 'Artesanato e Arte Popular', junto com a jornalista e curadora Adélia Borges e com o antropólogo e pesquisador, Ricardo Gomes Lima.

Durante a palestra, ela contou como os povos indígenas precisaram conviver com a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte na região e de que forma as compensações socioambientais exigidas permitiram incentivar algumas atividades, como o artesanato.  

Com padrão de animais, frutas e traços etnicos, os tecidos podem ser utilizados em quadros, capas de almofadas, toalhas de mesa, caminhos de mesa e tantos outros usos. Os preços variam de R$ 100 até perto de R$ 300.

Para manter a identidade dos povos Juruna e Araras, os tecidos podem ser utilizados para todos esses usos, desde que a produção artesanal seja assinada por eles.

Durante o evento, Adélia Borges contou um caso em que os grafismos indígenas foram utilizados para fazer papéis de parede para decoração e gerou conflito. Os rolos acabaram sendo queimados, porque os povos explicaram que aqueles traços não poderiam ser utilizados fora dos rituais sagrados do grupo. 

Bel Juruna e Adélia Borges na Roda de Conversas da Fenearte 2022 - Jan Ribeiro/Divulgação
 

"Cada povo tem o seu grafismo, simbolizando cultura e identidade. Os traços têm significado próprio e ajudam a identificar as diferentes etnias indígenas. As pinturas trazem o dia a dia da nossa região, como as ondas do rio, os cachos de açaí e outras coisas. Nos pintamos para nos sentir fortes espiritualmente,  preparados para uma situação. A gente se pinta para dançar, caçar, ir à festa, ir a uma reunião ou a uma feira", diz Bel.   

Bel Juruna e Adélia Borges na Roda de Conversas da Fenearte 2022 - Ricardo Henri/Divulgação

Artesanato Juruna e Arara

Precursora da produção artesanal entre as mulheres do povo Juruna, Bel conta que o trabalho começou em 2102 com a confeção de colares, brincos e pulseiras em miçanga. Os tecidos vieram depois, em 2015.

O artesanato na região foi incentivado dentro do programa de cultura do projeto de compensação ambiental da Usina de Belo Monte, chamado de Plano Básico Ambiental - Componente Indígena (PBA-CI). 

Ao longo da história, os povos indígenas da região de Altamira se separaram. Cinco aldeias se juntaram para criar o Parque Indígena do Xingu, enquanto os povos Juruna e Arara não quiseram participar da formação do Parque e permaneceram na Volta Grande do Xingu.

"Essa separação fez com que perdéssemos parte da nossa identidade e esquecêssemos o grafismo, os cânticos e a língua. O programa cultural pernmitiu que fizéssemos intercâmbio com o Parque para realizar uma busca ativa e recuperar o que perdemos", revela Bel.  

Fenearte 2022 - Bel Juruna apresenta artesanato xingu de grafismo em tecidos no Espaço Janete Costa - DAY SANTOS/JC IMAGEM

Entender e conseguir se inserir no mercado 

Para garantir escala e viabilidade de comercialização dos produtos, os povos Juruna e Arara precisaram se adaptar ao mercado.

"A gente gosta de pintar os tecidos à mão, mas demora muito tempo. Então a empresa de São Paulo Verthic, que presta consultoria ao nosso projeto, nos ensinou uma nova técnica de pintura", diz Bel.

"O desenho é feito no papel, depois colocamos o acetato sobre ele, cobrimos o desenho, cortamos com estilete e pintamos com pincel de rolo. Por ser uma coisa nova, no começo todo mundo achou uma loucura, mas depois entendemos que é preciso produzir mais rápido para atender o mercado", conforma-se.  

O aumento da capacidade de produção vai permitir ao grupo buscar mercados para além do Pará. "Estamos começando a ganhar espaço fora da região.

Antes, as vendas aconteciam dentro das próprias aldeias, em momentos de visitas externas; no evento anual da Canoada Bye Bye Xingu, com parada dos atletas e outros participantes nas aldeias e na Flix - Feira Literária Internacional do Xingu", afirma.

A artesã conta que quem se dedica à atividade e busca sua renda a partir dela pode chegar a ganhar R$ 3 mil por mês.  

Tecidos com grafismo indígena podem virar capas de almofadas, quadros, caminhos de mesas e outros - Day Santos/JC Imagem

Em julho, as duas etnias participaram da exposição "Arte e Artesanato Juruna e Arara da Volta Grande do Xingu", no Espaço São José Liberto, em Belém.

Foi lá que a organização da Fenearte viu um quadro gigante pintado por Bel Juruna com grafismo do seu povo e decidiu convidar a artesão para contar sua história e expor o artesanato do grupo no Espaço Janete Costa.   

"É tanta coisa nova. A Fenearte é um lugar pra gente abrir a mente a coisas possíveis. Usar nossos saberes em produtos que ainda não tínhamos visão de fazer. Eu nunca tinha vindo a Pernambuco. Ô lugar pra ter arte, ô lugar pra gente se inspirar. Eu amei esse lugar e vou voltar cheia de ideias pra aldeia", entusiasma-se Bel Juruna.

 

Fenearte 2022 - primeira edição da feira após a pandemia pretende movimentar R$ 40 milhões em negócios. Tema da 22ª edição foi homenagem aos 30 anos do Manguebeat - DAY SANTOS/JC IMAGEM

A Fenearte continua

A Fenearte segue até o próximo dia 17, no Centro de Convenções de Pernambuco (Cecon), em Olinda, com uma programação que inclui, além da feira de artesanato, palestras, oficinas, programação cultural, Cozinha Fenearte, moda e outras atrações. Nesta 22ª edição o evento homenageia os 30 anos do movimento Manguebeat, que mexeu o caldeirão cultural de Pernambuco nos anos 1990. 

Veja os preços, horários e dias da Fenearte em 2022

22ª Fenearte

Horário de abertura:

Das 14h às 22h, de segunda a sexta

Das 10h às 22h, aos sábados e domingos

Ingressos:

Segunda a quinta: R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia)

Sexta, sábado e domingo: R$12,00 (inteira) e R$6,00 (meia)


 

 


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