TÓQUIO, Japão - O infectologista japonês Kentaro Iwata, crítico da gestão da pandemia do coronavírus pelas autoridades de seu país, afirmou nesta segunda-feira (20) estar "muito pessimista" com a possibilidade de que os Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados em um ano, possam ser realizados em julho de 2021.
"Honestamente, não penso que seja provável que os Jogos Olímpicos ocorram no ano que vem", declarou Iwata, professor do departamento de doenças infecciosas da Universidade de Kobe (oeste), durante coletiva de imprensa pela internet.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) tomou em final de março a decisão histórica de adiar os Jogos (que deviam inicialmente começar em 24 de julho de 2020) devido às preocupações crescentes com a crise de saúde mundial. Os Jogos de Tóquio deverão agora acontecer entre 23 de julho e 8 de agosto de 2021.
Nos últimos dias, diante da evolução mundial da doença, surgiram dúvidas sobre a possibilidade de organizar o maior evento esportivo mundial, mesmo que seja daqui a um ano.
"Os Jogos Olímpicos precisam de duas condições: controlar a covid-19 no Japão e no resto do mundo, já que se convidará atletas e espectadores do mundo inteiro", afirma Iwata.
"O Japão poderia estar em condições de controlar a doença até o próximo verão (boreal, em junho), eu espero, mas não acredito que isso possa acontecer em todos os lugares do planeta e por isso sou muito pessimista em relação à organização dos Jogos Olímpicos em 2021", completou o especialista.
A única possibilidade seria, ainda segundo Iwata, organizar os Jogos respeitando novas medidas de contenção, como, por exemplo, "sem espectadores ou com uma participação muito limitada de espectadores".
Questionados pela AFP, os organizadores dos Jogos de Tóquio garantiram novamente nesta segunda-feira que a missão é "preparar o evento para o verão do ano que vem". "Não acreditamos ser apropriado responder a perguntas especulativas", completaram via mensagem eletrônica.
O comitê de organização japonês e o COI "cooperam estreitamente com a Organização Mundial da Saúde" (OMS) para elaborar medidas de combate à covid-19, lembraram.
"Não há plano B", havia declarado na semana passada à imprensa Masa Takaya, um porta-voz do Comitê de Organização dos Jogos de Tóquio. Mas o CEO do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de Tóquio, Toshiro Muto, afirmou, há dez dias, não ser possível garantir que o megaevento ocorra em 2021. Ele entende que não dá para assegurar a realização da Olimpíada em razão da imprevisibilidade do novo coronavírus, que gerou uma crise na saúde mundial.
Iwata já havia sido manchete em fevereiro, quando classificou de "totalmente caóticas" as medidas implementadas pelo governo japonês no caso do Diamond Princess, o navio de cruzeiro com mais de 3.700 pessoas a bordo que foi colocado em quarentena no porto de Yokohama. Mais de 700 pessoas ficaram infectadas a bordo e treze morreram.
Iwata, porém, não é o único especialista a expressar dúvidas sobre a possibilidade de Tóquio poder organizar os Jogos em 2021.
Na quinta-feira passada (16), Devi Sridhar, professora de saúde pública da Universidade de Edimburgo, na Escócia, classificou como "irreal" pensar que os Jogos poderiam acontecer em 2021, a não ser que uma vacina "acessível" para todos estivesse disponível, em declarações para a BBC