O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu neste sábado (12) que os governos declarem "estado de emergência climática" na abertura de uma reunião de cúpula virtual para comemorar o quinto aniversário dos Acordos de Paris.
Apesar da severa recessão causada pela covid-19, os países devem se esforçar e cumprir suas metas de redução das emissões de gases de efeito estufa.
Os compromissos atuais "estão longe de ser suficientes" para limitar o aumento da temperatura média do planeta a um máximo de 1,5 ºC, alertou Guterres, ao discursar na cúpula, na qual dezenas de chefes de Estado e de Governo participam por videoconferência.
O encontro tem como objetivo voltar a pressionar a comunidade internacional após quase quatro anos de incertezas, causadas pela saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris (COP21), que lançou as bases históricas de um pacto de combate às mudanças climáticas.
"Se não mudarmos o curso, poderemos estar caminhando para um aumento catastrófico na temperatura [média] de mais de 3 ° C neste século", explicou Guterres, conclamando "todos os líderes do mundo a declarar um estado de emergência climática em seus países até atingirem a neutralidade do carbono".
De acordo com o consenso entre os cientistas, um aumento da temperatura além de 2ºC causará mudanças irreversíveis na face da Terra.
A neutralidade do carbono - com a qual mais de 110 países se comprometeram - significa que um país não deve emitir mais gases do efeito estufa do que pode absorver.
O presidente francês Emmanuel Macron, a chanceler alemã Angela Merkel e o presidente chinês Xi Jinping, além de representantes empresariais, da sociedade civil e dos povos indígenas, participam do encontro organizado pelas Nações Unidas, Reino Unido e França, além de Chile e Itália.
Os oradores foram selecionados pela ambição de seus objetivos climáticos, segundo os organizadores, que prometem que "não haverá espaço para declarações genéricas".
Os ausentes incluem Brasil e Austrália, cujas metas são consideradas insuficientes.
A reunião virtual, da qual não se esperam grandes compromissos, é considerada uma etapa anterior à COP26, que será organizada em novembro de 2021 em Glasgow, na Escócia.
No dia 12 de dezembro de 2015, entre os aplausos das delegações de 195 países, terminaram 13 dias de duras negociações em Paris na reunião da ONU sobre clima COP21.
Quase todo o planeta se comprometeu a reduzir o aquecimento "claramente" abaixo de + 2 ° C, e se possível + 1,5 ° C, em relação à era pré-industrial.
Mas depois da decisão histórica, o entusiasmo diminuiu, soterrado um ano depois pela eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, que anunciou a saída do Acordo.
Os signatários do Acordo de Paris devem apresentar até o fim de 2020 uma revisão de seus compromissos. Mas apenas 20 países já o fizeram, respondendo por menos de 5% das emissões globais.
Para dar o exemplo, a União Europeia concordou na sexta-feira em aumentar seu compromisso com a redução das emissões, que agora serão de 55% até 2030 (40% anteriormente). O Reino Unido, por sua vez, comprometeu-se a reduzir em 68% suas emissões de gases.
Ao mesmo tempo, "sente-se que é necessário relançar a máquina chinesa", disse à AFP a ministra francesa de Transição Ecológica, Barbara Pompili.
A China é o principal emissor de gases de efeito estufa, e os compromissos que assumiu em Paris foram menores, o que motivou em grande parte a retirada dos Estados Unidos.
Pequim disse recentemente que deseja atingir a neutralidade de carbono até 2060.
Para o diretor executivo do Greenpeace, John Sauven, com esta cúpula "há motivos para ter esperança".
"Com Donald Trump fora da Casa Branca e ações climáticas mais fortes da China, Coreia do Sul e Japão, agora temos a chance de reunir o mundo em um esforço maciço para reduzir as emissões de gases de efeito estufa", enfatizou em uma declaração.
Da América Latina, em meio à crise do coronavírus, as demandas por ajuda continuam. O Equador pediu mais "cooperação internacional" para mitigar e se adaptar às mudanças climáticas, enquanto a Costa Rica anunciou na sexta-feira um acordo com o Banco Mundial para financiar a compensação às comunidades locais com 60 milhões dólares para combater o desmatamento.