Os segundo impeachment aprovado contra Donald Trump serve mais como uma "mácula política" do que como qualificante para que ele seja inelegível nas eleições futuras. A avaliação é do cientista político e professor universitário Thales Castro. Em entrevista à Rádio Jornal, na manhã desta quinta-feira (14), o especialista abordou os dois processos de impeachment contra o presidente dos Estados Unidos, que deve permanecer no cargo até a próxima quarta-feira (20), quando Joe Biden toma posse como novo presidente americano.
"Dificilmente o impeachment de Trump passa no Senado. E o impeachment não é qualificante para que o presidente seja inelegível. As primárias são a forma adequada para que qualquer cidadão americano em pleno gozo de seus direitos políticos possa se candidatar ao cargo eletivo máximo. Ainda assim, há uma mácula política, que é um veto para que Trump não tenha a dinâmica para obter votação nas primárias", explicou.
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Nessa quarta-feira (13), a Câmara dos Representantes aprovou pela segunda vez um pedido para que Trump seja afastado do cargo, a apenas seis dias do final de seu mandato. Mesmo assim ele continua no comando da Casa Branca, até que ocorra o julgamento no Senado, que é o próximo passo do processo. No primeiro processo, Trump foi absolvido no Senado, de maioria republicana.
De acordo com Thales Castro, a situação política de Trump é delicada dentro do próprio partido Republicano. "Observamos que o partido está fraturado, por conta dos votos dos deputados federais dados em favor do impeachment. E vemos que as hostes mais conservadores do partido republicano, como no Texas, já não apoiam Trump de maneira clara", disse.
Foram 232 votos a favor do impeachment de Donald Trump e 197 contra, e quatro deputados não votaram. Entre os que votaram a favor estão 10 membros do Partido Republicano. Outros quatro republicanos não votaram. Os democratas foram unânimes nos votos a favor. O presidente americano foi considerado culpado por incitar à violência que resultou na invasão do Capitólio, sede do Congresso americano, na última semana. Em 2020, ele já havia sido sido declarado culpado por obstrução ao Congresso e abuso de poder.
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Ainda que Trump saia da Casa Branca com uma mancha na imagem, ele não está totalmente isolado, explica Thales Castro. "Quando o capitólio foi invadido, uma pesquisa foi realizada entre os eleitores do partido Republicano e 42% apoiaram a invasão. Isso é um dado gritante numa democracia consolidada. As pessoas disseram ter sido um ato de defesa de Trump. Então, nos Estados Unidos profundo, principalmente em estados como Montana, Nebraska, Oklahoma, que são muito conservadores, com tempero religioso, as pessoas apoiam as ações de Trump", afirmou o professor.