Quase 60 pessoas foram processadas por participarem das manifestações sem precedentes de 11 de julho em Cuba, indicou neste sábado (24) um alto funcionário judicial que não informou o número total de detidos durante os protestos e negou que tenham ocorrido julgamentos "sumaríssimos", conforme relatado por alguns familiares dos presos.
"Até ontem (sexta-feira), haviam chegado aos tribunais municipais do país (primeira instância) 19 processos judiciais, casos envolvendo 59 pessoas, acusadas de cometer supostos crimes" durante "esses distúrbios", disse o presidente do Tribunal Supremo Popular, Rubén Remigio Ferro.
Gritando "temos fome", "abaixo a ditadura" e "liberdade", milhares de cubanos protestaram nos dias 11 e 12 de julho em mais de 40 cidades do país, deixando um morto e dezenas de feridos.
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Ferro especificou em coletiva de imprensa junto com a procuradora-geral da República, Yamila Peña, que dos 59 processados por "delitos menores" como desacato, desordem pública ou lesões leves, um já foi absolvido e os demais ainda "não têm uma sentença definitiva", contra a qual podem apresentar recursos.
"Na realidade, não são muitos os casos que chegam aos tribunais", acrescentou. Questionado sobre o número de detidos durante as manifestações, Ferro respondeu que também está curioso quanto a isso.
"Também tenho curiosidade, não sei. Fala-se de uma cifra de um lado, de outras por outros (...), está sendo investigado, mas não conheço esse dado, não é um dado que está disponível", afirmou ele.
Segundo lista publicada no Twitter por grupos cubanos como o 27N e veículos de comunicação independentes como o Periodismo de Barrio, mais de 600 pessoas foram presas.
Remigio Ferro admitiu que os cubanos estão sendo julgados em processos "mais desobstruídos, mais ágeis, mas não isentos (...) do devido processo, incluindo, é claro, o direito de defesa". "Não são processos sumaríssimos", mas "abreviados", destacou.
A família de Ányelo Troya, de 25 anos, um dos realizadores do vídeo do polémico rap "Patria y Vida", denunciou que ele foi condenado nesta quarta-feira a um ano de prisão pelo crime de "desordem pública", num procedimento de "atestado direto" (julgamento acelerado), junto com outros 12 manifestantes.