Os Estados Unidos realizaram um ataque "defensivo" com drones a um veículo carregado de explosivos neste domingo (29) em Cabul para "eliminar uma ameaça iminente" do grupo Estado Islâmico de Khorasan (EI-K) contra o aeroporto, informou o Pentágono, o que aumenta a tensão na capital do Afeganistão a apenas dois dias do fim das operações de retirada de milhares de civis do aeroporto da cidade.
"As forças dos EUA realizaram hoje um ataque aéreo defensivo com drones", lançado de fora do Afeganistão, "contra um veículo em Cabul, eliminando uma ameaça iminente do EI-K ao aeroporto internacional", disse Bill Urban, porta-voz do Comando Central americano.
"Temos certeza de que atingimos o alvo", acrescentou.
"Estamos verificando a possibilidade de vítimas civis", disse ele, e especificou que "não há indicações neste momento" a esse respeito.
"As explosões secundárias significativas do veículo indicaram a presença de uma quantidade substancial de material explosivo", acrescentou. "Permanecemos atentos a possíveis ameaças futuras".
Mais cedo, a explosão de um foguete assustou Cabul, poucas horas depois de o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, alertar sobre a possibilidade de um novo ataque terrorista, apenas três dias após o atentado no aeroporto, que matou pelo menos 90 civis - a imprensa afegã cita um balanço de 170 vítimas fatais.
A explosão foi provocada pelo lançamento de foguetes que, segundo as "primeiras informações atingiram uma casa", afirmou um ex-funcionário do governo derrubado há duas semanas pelos talibãs
Quase 114.000 pessoas foram retiradas do país desde que os talibãs assumiram o poder há duas semanas. A operação aérea liderada pelos Estados Unidos deve terminar na terça-feira 31 de agosto, o que significa que milhares de pessoas podem permanecer em Cabul, em sua maioria afegãos que temem represálias porque trabalharam para as potências estrangeiras.
"A situação no local continua sendo extremamente perigosa e a ameaça de um ataque terrorista no aeroporto segue elevada", advertiu Biden em um comunicado divulgado no sábado à noite.
"Nossos comandantes me informaram que é muito provável que aconteça um ataque nas próximas 24 a 36 horas", acrescentou.
Poucas horas depois, a embaixada dos Estados Unidos em Cabul fez um apelo para que os cidadãos do país se afastem do aeroporto "devido a uma ameaça específica e plausível".
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O secretário de Estado, Antony Blinken, declarou neste domingo ao canal ABC que "300 americanos ou menos" continuam no Afeganistão.
Biden viajou neste domingo à base aérea de Dover, em Delaware, onde prestará homenagem aos 13 militares americanos que morreram no atentado contra o aeroporto de Cabul. Este foi o maior ataque contra as tropas dos Estados Unidos no Afeganistão desde 2011.
Em resposta, Washington atacou com drones, na região norte do Afeganistão, alvos do Estado Islâmico de Khorasan (EI-K), o braço do grupo extremista na região que reivindicou o atentado suicida.
"Dois alvos importantes, organizadores e operadores do EI-K, morreram e outro ficou ferido", anunciou o Pentágono no sábado.
"Este ataque não será o último", advertiu Biden. "Continuaremos perseguindo qualquer indivíduo envolvido neste atentado detestável e faremos com que pague", completou.
Fortemente armados, combatentes islamitas circulavam neste domingo na área próxima ao aeroporto sob os olhares atentos dos marines americanos posicionados no telhado do terminal.
Os talibãs bloquearam as estradas que levam ao aeroporto e permitem apenas a passagem de ônibus autorizados.
Após o atentado, talibãs e americanos intensificaram a colaboração. "Temos listas dos americanos (...) se o nome está na lista, pode passar", disse à AFP um dirigente talibã.
O aeroporto, última área controlada pelas forças estrangeiras no Afeganistão, não registra mais as imagens caóticas de milhares de pessoas desesperadas tentando sair do país.
A Turquia negocia com os talibãs para uma possível cooperação na administração do aeroporto. O presidente Recep Tayyip Erdogan declarou que o regime afegão vai supervisionar a segurança e propôs a Ancara assumir a parte logística.
A possibilidade, no entanto, 'esfriou' e o próprio Erdogan já questionou sua viabilidade.
Criticado em seu país e no exterior pela gestão da retirada do Afeganistão, Biden se comprometeu a respeitar a data-limite. Otan e União Europeia solicitaram uma prorrogação de alguns dias para conseguir retirar todos os afegãos aptos a receber proteção ocidental.
França e Reino Unido defenderão na segunda-feira, em um encontro do Conselho de Segurança da ONU, a criação de uma "zona segura" em Cabul para permitir a continuidade das operações humanitárias após 31 de agosto, afirmou o presidente francês, Emmanuel Macron.
"Isto estabeleceria um marco às Nações Unidas para atuar em caráter de urgência e permitiria, sobretudo, a cada um assumir suas responsabilidades e à comunidade internacional manter a pressão sobre os talibãs", disse Macron.
Muitos países, incluindo, França, Itália, Espanha, Alemanha, Canadá e Austrália, já concluíram suas operações de retirada. Algumas nações admitiram que deixaram civis afegãos que correm perigo no país.
O papa Francisco pediu neste domingo, durante a tradicional oração do Angelus, que o mundo continue ajudando os afegãos. O pontífice rezou por uma "coexistência pacífica e de esperança" no país.
Com o retorno ao poder, os talibãs tentam apresentar uma imagem mais aberta e moderada. Muitos afegãos, no entanto, temem a repetição do regime fundamentalista e brutal imposto entre 1996 e 2001, quando o Talibã foi derrubado por uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.