Atualizada às 22h16
A nova variante B.1.1.529 do coronavírus, detectada pela primeira vez na África austral, foi classificada nesta sexta-feira (26) como "preocupante" pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e terá o nome de "omicron".
"A variante B.1.1.529 foi relatada pela primeira vez à OMS pela África do Sul em 24 de novembro de 2021 (...) Esta variante tem um grande número de mutações, algumas das quais são preocupantes", disse o grupo de especialistas comissionados pela OMS para acompanhar a evolução da covid-19.
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- Ministério da Saúde emite alerta de risco para nova variante e recomenda uso de máscara
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Cientistas preocupados com a omicron
A comunidade científica espera com preocupação os resultados das primeiras análises da nova variante.
"Esta é preocupante, e é a primeira vez que afirmo isso desde a delta", escreveu no Twitter o virologista britânico Ravi Gupta sobre a nova variante denominada B.1.1.529.
Do ponto de vista genético, ela tem um número de mutações elevado, cerca de trinta delas na proteína spike, a chave de entrada do vírus no organismo.
Com base na experiência de variantes anteriores, sabe-se que algumas dessas mutações podem representar um aumento na capacidade de transmissão e uma diminuição na eficiência das vacinas.
"Pensando em termos de genética, é certo que há algo muito particular que pode ser preocupante", disse à AFP Vincent Enouf, do Centro Nacional de Referência de vírus respiratórios do Instituto Pasteur de Paris.
Além disso, preocupa o fato de que o número de casos e o percentual atribuído a esta variante estão aumentando de forma muito rápida na província sul-africana de Gauteng, que compreende as cidades de Pretória e Johanesburgo, onde foi detectada pela primeira vez.
Serão necessárias "várias semanas" para compreender melhor a nova variante e saber se ela é mais transmissível, mais perigosa e mais resistente às vacinas, destacou a OMS nesta sexta-feira (26).
"É preciso ser razoável, continuar monitorando e não alarmar completamente a população", ressaltou o especialista do Instituto Pasteur.
Ela vai superar a variante delta?
Esta é a pregunta de 'um milhão de dólares' que ninguém é capaz de responder neste momento.
A variante delta é praticamente hegemônica em todo o mundo graças às suas características, que lhe permitiram substituir a alfa.
A delta é a mais robusta e a de transmissão mais rápida. As variantes mu e lambda, que surgiram nos últimos meses, não foram capazes de superá-la.
Os cientistas chegaram a pensar que a próxima variante preocupante seria o resultado de uma evolução da delta. Contudo, a B.1.1.529 é de uma cepa completamente distinta.
A situação na província de Gauteng gera o temor de que essa nova variante possa se sobrepor à delta, mas ainda não há certeza sobre isso.
"Pode ser que um grande acontecimento de supercontágio [um único acontecimento que provoca um grande número de casos] relacionado com a B.1.1.529 dê a impressão falsa de que ela pode superar a delta", opina a especialista britânica Sharon Peacock, citada pela organização Science Media Centre.
Por outro lado, a nova variante parece se expandir por toda a África do Sul, o que seria mais um sinal de sua capacidade de rivalizar com a delta.
É possível impedir sua expansão?
Menos de 24 horas depois da apresentação da variante por parte das autoridades sul-africanas, muitos países europeus suspenderam os voos provenientes da África austral.
Contudo, a Bélgica já anunciou o primeiro caso na Europa. Trata-se de um indivíduo não vacinado que viajou ao exterior.
Suspender os voos "é uma medida que permite desacelerar" a expansão de uma variante muito contagiosa, "mas não consegue interrompê-la completamente", disse Enouf, que lembrou os precedentes de alfa e delta.
Alguns cientistas pedem o fechamento das fronteiras com esses países o mais rápido possível, como medida de precaução, para reabri-las logo que se dissiparem os temores.
Outros especialistas consideram o fechamento prejudicial à África do Sul e ao Botsuana, outra nação que registrou a nova variante. Temem que isso seja contraproducente e leve outros países a tentar mascarar o surgimento de novas variantes no futuro.
A OMS também desaconselhou a restrição viagens neste momento.
Qual é o seu impacto sobre as vacinas?
Ainda não é possível afirmar que a nova variante reduzirá a eficiência das vacinas.
"É preciso verificar se os anticorpos produzidos pelas vacinas atuais continuam funcionando, até que nível e se impede os casos graves", explicou Vincent Enouf.
Para isso, estão sendo realizados testes em laboratório e com base nos dados reais nos países onde circula a variante.
O laboratório alemão BioNTech, que desenvolveu um dos imunizantes atuais em pareceria com a Pfizer, espera os primeiros resultados, "o mais tardar dentro de duas semanas", relacionados à variante, disse um porta-voz à AFP.
"É urgente adaptar as vacinas de RNA mensageiro e as doses de reforço às variantes em circulação", assinalou no Twitter o virologista francês Etienne Decroly.
Apesar de tudo, a vacinação continua sendo essencial. Nesse sentido, é preciso que os países mais pobres tenham acesso aos imunizantes, insistem os cientistas.
"Quanto mais o vírus circular, mais ele vai evoluir e veremos mais mutações", advertiu Maria Van Kerkhove, uma das responsáveis da OMS.
Brasil fechará fronteiras aéreas para seis países da África
Mesmo após o presidente Jair Bolsonaro colocar-se de maneira contrária ao fechamento de fronteiras aéreas para conter a nova variante do coronavírus, o governo brasileiro decidiu seguir a orientação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e vai restringir voos de países africanos com surto da cepa Omicron. A medida foi anunciada nesta sexta-feira (26) pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, em uma rede social.
A decisão abrange passageiros vindos de África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue e foi tomada pelo grupo interministerial formado pelas pastas da Saúde, Casa Civil, Justiça e Infraestrutura.
"O Brasil fechará as fronteiras aéreas para seis países da África em virtude da nova variante do coronavírus. Vamos resguardar os brasileiros nessa nova fase da pandemia naquele país. Portaria será publicada amanhã e deverá vigorar a partir de segunda-feira", publicou o ministro no Twitter.
O Ministério da Saúde emitiu nesta sexta-feira (26) uma "comunicação de risco" sobre a nova variante. No alerta, a pasta afirma que a vacinação "provavelmente" contribuirá na resposta à doença, destaca que medidas como o uso de máscara, o distanciamento social e o isolamento de casos suspeitos são "essenciais" e aponta que, até agora, nenhum caso dessa variante foi identificado no Brasil.
A "comunicação de risco" é um documento produzido pelo Ministério da Saúde para "apoiar na divulgação rápida e eficaz" de dados que ajudem na "tomada de medidas de proteção e controle em situações de emergência em saúde pública". "Estar vigilante é fundamental", aponta o documento de 12 páginas.
O Estadão apurou que a Saúde já fez reuniões multidisciplinares, com servidores de diferentes secretarias, como a de Vigilância em Saúde (SVS) e a Extraordinária de Enfrentamento à Covid (Secovid) para tratar da nova variante. A previsão é de que as equipes continuem discutindo a extensão do que está ocorrendo na África do Sul e os impactos em outros países, incluindo o Brasil, durante o fim de semana.
A avaliação da Saúde, no comunicado, é de que "a vacinação irá provavelmente contribuir para a resposta" e "as medidas não farmacológicas continuam sendo essenciais até que as vacinas estejam disponíveis em número suficiente e demonstrem ter um efeito atenuante".
O número de pessoas vacinadas com ao menos uma dose contra a covid-19 no Brasil até esta quinta-feira (25) chegou a 158.447 349, o equivalente a 74,28% da população. Um total de 52 mil pessoas receberam a primeira aplicação da vacina, de acordo com dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa junto a secretarias de 26 Estados e Distrito Federal.
Entre os mais de 158 milhões de vacinados, 131,64 milhões estão com a imunização completa contra o coronavírus, o que representa 61,72% da população total. Em 24 horas, 1,27 milhão de pessoas receberam a segunda dose e outras 23,1 mil receberam um imunizante de aplicação única.
As diretrizes de prevenção e controle para a B.1.1.529 continuam as mesmas já apontadas pela própria Saúde, segundo o documento. Os procedimentos devem ser seguidos "de forma integrada, a fim de controlar a transmissão da covid-19 e suas variantes, permitindo também a retomada gradual das atividades desenvolvidas pelos vários setores e o retorno seguro do convívio social".
"Entre as medidas indicadas pelo MS, estão as não farmacológicas, como distanciamento social, etiqueta respiratória e de higienização das mãos, uso de máscaras, limpeza e desinfeção de ambientes e isolamento de casos suspeitos e confirmados conforme orientações médicas", informa o comunicado.
O documento da Saúde também destaca as ações que devem ser tomadas pelos profissionais de saúde na identificação de qualquer nova variante, incluindo a B.1.1.529. A notificação deve ser "imediata" à vigilância epidemiológica local.
Segundo o Ministério da Saúde a investigação de casos de novas variantes deve seguir um passo a passo, que inclui o monitoramento de viajantes com sinais e sintomas declarados por pelo menos 14 dias e de viajantes assintomáticos pelo menos por 7 dias.