Atualizada à 17h41
A Rússia invadiu a Ucrânia na madrugada desta quinta-feira (24), em uma ofensiva com bombardeios aéreos e incursões terrestres que em poucas horas se aproximaram de Kiev e tomaram a usina nuclear de Chernobyl, deixando dezenas de mortos.
A ofensiva gerou uma enxurrada de condenações: a União Europeia (UE) se prepara para anunciar novas sanções contra a Rússia e a Otan planeja uma reunião por videoconferência na sexta-feira.
Os Estados Unidos apresentarão um projeto de resolução ao Conselho de Segurança da ONU para condenar a Rússia por esta "guerra".
Já o Ministério da Defesa russo disse que todas as missões neste primeiro dia de operações "foram concluídas com sucesso".
O presidente Vladimir Putin, que durante semanas enviou mais de 150.000 soldados nas fronteiras com a Ucrânia, cruzou um ponto sem retorno na madrugada de quinta-feira.
"Tomei a decisão de uma operação militar", declarou Putin em um discurso televisionado na madrugada, que provocou a condenação imediata do presidente americano, Joe Biden, e de outros líderes ocidentais e afetou os mercados financeiros internacionais.
Putin, que exige que a Otan feche suas portas à Ucrânia, garantiu que não busca a "ocupação" desta ex-república soviética, mas "uma desmilitarização e desnazificação" do país e a defesa dos rebeldes pró-russos.
Pouco depois começaram a ser ouvidas explosões em várias cidades ucranianas, da capital, Kiev, a Kharkov, a segunda cidade do país na fronteira com a Rússia, mas também em Odessa e Mariupol, às margens do Mar Negro.
O exército russo afirmou que destruiu 74 instalações militares, incluindo 11 aeródromos, e que os separatistas no leste da Ucrânia estão avançando e assumindo o controle dos territórios.
Em Moscou, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a ofensiva vai durar o tempo que for necessário, dependendo de seus "resultados".
À tarde, Putin sustentou que o ataque foi "uma medida forçada, já que não nos deixaram outra forma de proceder".
O exército ucraniano alegou ter matado 50 russos e derrubado cinco aviões e um helicóptero no leste do país.
Todas essas informações sobre as vítimas são, por enquanto, impossíveis de verificar com fontes independentes.
Primeiras baixas
O governo ucraniano relatou dezenas de baixas civis e militares. Um primeiro balanço de 40 soldados e uma dúzia de civis mortos foram adicionados relatos de 18 mortos em um bombardeio contra uma base militar perto de Odessa e 13 civis e nove soldados mortos em Kherson (sul).
Guardas de fronteira disseram que tropas russas entraram de Belarus, 150 quilômetros ao norte de Kiev, para realizar um ataque com mísseis contra alvos militares.
Também houve incursões terrestres do sul na península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014.
Com o passar das horas, as forças russas pareciam estar se aproximando de Kiev, onde um toque de recolher foi imposto.
O presidente ucraniano, Volodomir Zelensky, que declarou lei marcial, disse que suas forças estavam tentando retomar um aeroporto militar perto de Kiev, onde "paraquedistas inimigos foram detidos".
O governo ucraniano também anunciou que as tropas russas invadiram a usina nuclear de Chernobyl, depois de lutar perto do depósito de resíduos da planta que explodiu em 1986, quando a Ucrânia fazia parte da União Soviética.
"Fiz as malas e fugi"
A Rússia garantiu que os civis da Ucrânia “não têm nada a temer”, mas em Kiev centenas de pessoas correram para o metrô em busca de refúgio ou tentaram deixar a cidade.
"Acordei com o som das bombas, fiz as malas e fugi", disse à AFP Maria Kashkoska, 29 anos, em estado de choque no metrô.
No meio da noite, o trânsito da capital parecia hora do rush. Veículos cheios de famílias deixavam a cidade, rumo ao oeste, o mais longe possível da fronteira russa, localizada a 400 km de distância.
Em Chuguev, perto de Kharkiv, uma mulher e seu filho lamentaram a morte de um homem em um ataque com mísseis, uma das primeiras vítimas.
"Eu disse para ele ir embora", repetiu o filho incansavelmente, ao lado dos destroços de um velho carro Lada e da cratera causada pelo projétil que caiu entre dois prédios de cinco andares.
Nas ruas de Moscou, habitantes manifestavam sua preocupação e outros, apoio a Putin.
"Não estou feliz, estou muito nervoso", disse Nikita Grushin, empresário de 34 anos, dizendo não ter ideia de quem "está certo" nesta crise.
"Não vou criticar uma ordem do comandante supremo. Se ele acha que isso é necessário, deve ser feito", disse Ivan, um engenheiro de 32 anos.
À tarde, houve manifestações contra a guerra em Moscou e protestos em São Petersburgo, nos quais várias centenas de pessoas foram presas.
"O dia mais triste"
Joe Biden ligou para o presidente Zelensky para lhe expressar seu "apoio", condenou "o ataque não provocado e injustificado por parte das forças militares russas" e assegurou que "o mundo responsabilizará a Rússia" pelo ataque à Ucrânia.
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, denunciou o "ataque irresponsável e não provocado da Rússia à Ucrânia, que põe em risco incontáveis vidas civis".
E o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, alertou que "a Rússia enfrentará um isolamento sem precedentes" e prometeu "o pacote de sanções mais robusto e severo que já adotamos".
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que este era "o dia mais triste" de seu mandato.
A China, aliada de Moscou, disse com cautela que "entende as preocupações de segurança razoáveis da Rússia".
Tempestade nos mercados
A invasão atingiu os mercados internacionais. O petróleo Brent superou os US$ 100 por barril pela primeira vez em sete anos e as ações em todo o mundo despencaram nesta quinta-feira.
A Bolsa de Valores de Moscou, que interrompeu as negociações por algumas horas, sofreu perdas de mais de 30% e a moeda russa, o rublo, registrou sua baixa histórica em relação ao dólar antes da intervenção do banco central russo.