O País foi inundado pela nefasta segunda onda da Covid-19, dizimando vidas em um crescente sem precedentes. A variante brasileira, conhecida como P1, aliada ao moroso programa de vacinação e, ainda, à não adesão das medidas efetivas de segurança, por muitos, provavelmente justifiquem a situação calamitosa que vivenciamos.
A principal certeza desta doença é a incerteza da sua evolução. Aprendemos que existe um grupo de risco para desfecho desfavorável, composto pelos idosos e os portadores de comorbidades. Porém, tem sido registrado, a ocorrência de casos de indivíduos jovens, muitos dos quais atletas e sem doença aparente, que são penalizados com internações demoradas em unidades de terapia intensiva e, até, com desfecho letal.
Assim, poderíamos comparar o futuro daqueles acometidos pelo referido vírus, com o de uma loteria. Os contemplados com o bilhete um, que constitui quase 80%, vão ser assintomáticos ou apresentarão sintomas leves, não requerendo internação hospitalar. Sabemos que muitos desses "sortudos" não adquirem imunidade duradoura e, ainda é incerto, se não sofrerão consequências futuras.
Já os aquinhoados com o bilhete dois, 15% dos pacientes, geralmente exibem manifestações moderadas, com sinais clínicos de pneumonia, mas com saturação de oxigênio (O2), no sangue periférico, maior do que 90% em ar ambiente, requerendo, às vezes, internação em enfermaria e suplementação de O2, via cateter nasal, sem, todavia, recorrer a tratamentos intensivos.
Por outro lado, os 5% azarados, que receberam o bilhete três desta impiedosa doença, vão passar por um verdadeiro calvário, necessitando de UTI, muitas vezes de intubação endotraqueal, podendo apresentar as formas críticas, com falência respiratória, choque cardiovascular e insuficiência renal e/ou hepática agudas, algumas vezes, irreversível.
Fica patente que o mais sensato é evitar, de todas as formas, a traiçoeira loteria da Covid-19, porque, por mais sadio que seja o jogador, como em todo jogo de azar, a sorte pode não estar ao seu lado. Ressalte-se, ainda, que, até o momento, não existe comprovação científica de tratamento precoce para esta mazela, embora insensatamente defendido por alguns.
Só nos resta continuar insistindo com as eficazes medidas de distanciamento social, uso de máscaras e higiene das mãos enquanto aguardamos que o vírus deixe de circular, quando a maioria da população for, efetivamente, vacinada.
Antônio Carlos Sobral Sousa, professor titular da UFS, membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação
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