As informações se multiplicam, se contradizem, se avolumam... Os passos continuam lentos. Percorro o corredor, entro no quarto de estudos, vou até a varanda. Há um silêncio assustador: a atmosfera tenta se adaptar à lassidão do momento. A paisagem parece estranha e desconhecida. Trago as mãos vazias e o olhar lânguido como se o tempo estivesse parado. Pura ilusão. Os dias avançam com a mesma velocidade anterior. Apenas não sou capaz de escutar as melodias que o vento me sopra. Por que será? O poeta me acalma: "O mundo não se fez para pensarmos nele /(Pensar é estar doente dos olhos)/ Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo..." Absorvo a mensagem, estremeço. O corpo se retrai. Não consigo ir adiante, perplexa diante de mim. Assumo o receio da minha covardia.
A ausência de vozes me incomoda. Quase tudo, estático na vaguidão das circunstâncias. Devo caminhar ou aguardar o próximo minuto? Não sei o que fazer. Estou simplesmente atônita face ao excesso de calmaria. Imagino mil coisas e permito que as folhas das árvores silenciem. A perplexidade me invade. Não sou capaz de vencê-la. A imensidão do universo de mim se apodera. Tenho receio de tudo. Olho as árvores com afeto e estabeleço um monólogo de difícil interpretação. Nada digo, ainda que os sentimentos irrompam no íntimo. Então, ouço e vejo demais por entre o espaço que a janela me permite. Estarei louca ou a solidão me favorece em um profundo monólogo? O recorte de quem sou começa a se expandir entre a imensa e efervescente natureza. A alma balbucia, os lábios não se mexem. Guardo as palavras no imo, ainda que existam com tanta força que abalem a interioridade do que sou. A árvore antiga, lá ao fundo, me transmite a tremulação do instante. O gato mia na terra que não se mexe, a borboleta voa no livre e grandioso espaço; as ruas se recolheram, os carros sumiram... Então, olho da direita para a esquerda e, de vez em quando, para trás... O que me assusta é aquilo que antes nunca tinha ouvido ou visto. O silêncio é extremamente barulhento, tem impulsos que vão e que vêm, não despreza o menor detalhe, sabe guardar a força do seu poder. Deixo-me envolver pelo pasmo existencial. De cabeça baixa.
Necessito de paz para escutar vozes silenciosas. Acode-me a disposição de abraçar a alucinação dos desejos. Por que temê-la? Volto ao poeta quando afirma: "Porque pensar é não compreender. (...) Amar é a eterna inocência,/E a única inocência é não pensar...)"
É hora de apreender a vida. Não pensando...
Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras
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