Opinião

Nadando no Capibaribe

O Sena despoluído foi o símbolo da valorização de um dos mais valiosos ativos de Paris e apresentado ao mundo durante os Jogos Olímpicos

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SÉRGIO C. BUARQUE

Publicado em 30/07/2024 às 16:36
E o Capibaribe? Quando será possível nadar nas suas águas sem sair sujo e carregado de bactérias e metais pesados? - GENIVAL PAPARAZZI / VOZ DO LEITOR

Para demonstrar que as águas do Sena estavam aptas para provas de natação das Olimpíadas, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, mergulhou sorridente e nadou por alguns minutos no rio. Foram investidos US$ 1,5 bilhão, ao longo de nove anos, para despoluir um dos rios mais poluídos da Europa. O Sena despoluído foi o símbolo da valorização de um dos mais valiosos ativos de Paris e apresentado ao mundo durante os Jogos Olímpicos.

E o Capibaribe? Quando será possível nadar nas suas águas sem sair sujo e carregado de bactérias e metais pesados? Atualmente, nem pensar. A prática do remo continua, mas os remadores não podem cair na água sobe risco de pegar uma grave infecção.

Entretanto, é importante lembrar que até o início dos anos 60 do século passado, o Rio Capibaribe recebeu várias competições de natação dos principais clubes do Recife, num momento em que apenas o Clube Português tinha piscina e algumas equipes de natação treinavam na piscina da Escola de Aprendizes Marinheiros de Pernambuco.

Meu amigo Silvio Romero, com 15 anos na época, participou da competição Cruzador Bahia, com cinco quilômetros, saindo do Iate Clube da Torre até a sede do Correio no Centro do Recife.De lá para cá a população do Recife dobrou, sem que tivesse havido um aumento correspondente da coleta e tratamento de esgoto que contamina o Rio Capibaribe.

Pensando no futuro, podemos seguir o exemplo de Paris e do mergulho da prefeita nas águas limpas do Sena para recuperar o rio que estrutura o território do Recife. O projeto Parque Capibaribe, implementado pela Prefeitura, e a estratégia do plano Recife 500 anos, elaborado pela ARIES-Agência Recife para Inovação e Estratégia, apontam nesta direção. Podemos sintetizar com uma frase a visão do futuro do Recife: “Na festa de comemoração dos 500 anos do Recife será realizada uma competição internacional de natação no Rio Capibaribe com os maiores nadadores olímpicos, com a participação especial de Michael Phelps, com 52 anos”.

Sonho? Ilusão? Pode ser. Mas, se começamos agora um esforço para despoluir o Capibaribe, até o Recife completar 500 anos (em 2037) teremos mais tempo que teve Paris para entregar o Sena à natação dos parisienses.

Na verdade, já começamos, mas precisamos acelerar. Além do projeto de universalização do saneamento na RMR, a implantação de jardins filtrantes nos canais que desaguam no Capibaribe vai permitir a limpeza do Rio no médio prazo.

O jardim filtrante do Riacho do Cavouvo, implantado recentemente, é um exemplo muito bem-sucedido da capacidade de contenção das águas poluídas dos canais, devendo reduzir até 85% da poluição da água.

Considerando que o Recife tem 99 canais, a maioria deles desaguando no Capibaribe, o investimento para garantir a limpeza completa do rio é muito elevado (o jardim filtrante do Cavouco custou cerca de sete milhões de reais).

Mas, o resultado na qualidade da cidade, o simbolismo do nosso rio limpo e disponível para natação e outros esportes náuticos, será inestimável. Com isso, vamos tornar real e concreto a proposta do movimento “Eu quero Nadar no Capibaribe. E você?” que, por enquanto, se limita a atividades culturais e lúdicas nas margens do Capibaribe.

Sérgio C. Buarque, economista

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