No rastro de um supertufão, a população de Hong Kong, na Ásia, viu cair em um dia a chuva esperada para três meses. A consequência de 600 milímetros de precipitação foi a inundação de vias e estações do metrô em vários pontos da cidade. Apenas em uma hora durante a noite, o temporal registrado chegou a 158 milímetros, maior volume em 140 anos. A mesma região asiática já havia experimentado temperaturas recordes no verão, e agora, é palco de tempestades cuja força é atribuída, pelos cientistas, às mudanças climáticas em curso no planeta.
No Brasil, o estado no extremo sul do país atravessa situação semelhante, após a passagem de um ciclone. Enchentes em municípios do Rio Grande do Sul causaram dezenas de mortes e desaparecidos. A intensificação dos fenômenos climáticos extremos vem preocupando pesquisadores espalhados pelo mundo. Ondas de calor no hemisfério norte provocaram mortes, meses atrás, e a temperatura média da Terra alcançou números recordes, com destaque para a elevação do calor nos oceanos – responsáveis pelo equilíbrio climático e a regulação de chuvas. Com a mudança na temperatura dos mares, parece que o comportamento pluviométrico começou a mudar.
Mas até quando? E em que escala? Por enquanto, a dimensão da relação direta de causa e efeito ainda é uma hipótese, embora forte, entre a febre oceânica e o suor das nuvens. A esta altura, não se sabe o que nos aguarda no horizonte do clima global, nos próximos meses ou décadas. As reações das instituições foram lentas, e agora precisam correr para impedir novas tragédias diante do desequilíbrio climático – na verdade, na superfície que habitamos, pois o planeta vai se acomodando, compensando as mudanças, à revelia da espécie humana.
É fato que muito poderia ter sido feito para minimizar os impactos de chuvas e prevenir enchentes em diversas localidades do Brasil, assim como em outros países. Sobretudo por aqui, a cultura da prevenção quase sempre foi vencida pela do improviso, deixando-se para depois as providências que poderiam ter poupado muitas vidas. No entanto, agora, medidas como a do Ministério Público Federal no RS, instaurando inquéritos para averiguar a responsabilidade pelos estragos de um ciclone, soam atrasadas. Governos estaduais e municipais, além do federal, deveriam ter prestado mais atenção nos sinais de agravamento das condições climáticas nas áreas de risco. Ou, ainda antes, poderiam ter se articulado para contribuir efetivamente para a redução da emissão de gases poluentes que produziram efeito estufa, aumentando a temperatura da Terra. Daqui para frente, pelo que se desenha, a prevenção se tornará mais difícil – e muito mais cara.
O preço do modelo civilizatório que consome o planeta em sua biodiversidade vai se elevando na proporção das mudanças climáticas. A gestão pública, as iniciativas privadas e de organizações não-governamentais podem ter que se deparar com a difícil tarefa de se preparar para cenários extremos em muitos lugares, com poucos recursos para lidar com o curso dos acontecimentos.