Pesquisas no Google confirmam que as pessoas que estão praticando o isolamento social em combate à pandemia do coronavírus, estão o sentindo e tentando, de alguma forma, aproveitá-lo com uma certa redução de danos psicológicos. Pesquisas como "delivery de bebida", "cerveja artesanal", "claustrofobia", "terapia online", "ocupar crianças", de acordo com o Google Trends, tiveram um pico nas pesquisas desde o início do confinamento.
Em Pernambuco, praias e parques continuarão fechados pelo menos até 30 de abril, a decisão foi por meio de um decreto assinado pelo governador Paulo Câmara (PSB), para estimular o isolamento social. Comércio e atividades não essenciais também permanecerão fechados; apenas serviços relacionados à alimentação, hospitais e serviços de abastecimento de água, gás, energia e internet continuam abertos.
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Com todas as questões que a alteração da rotina e a ociosidade diante do confinamento - para quem tem o privilégio de poder ficar em casa - é necessário entender as alterações comportamentais e psicológicas causadas em parte das pessoas.
A psicóloga Jéssica Andrade faz um alerta sobre a atualização emocional das mudanças externas que podem, naturalmente, causar ansiedade. "É um ajustamento criativo, nos desafia a encontrar novas formas, possibilidades e isso pressupõe um gasto de energia muito grande, porque nos tira da zona de conforto. A experiência de não conseguir prever e nem ter um arco temporal que diz exatamente quanto tempo falta para acabar, que nos faz enxergar o outro lado".
"Nesse período de maior vulnerabilidade emocional, elas vêm à tona. O confinamento veio revelar que somos estrangeiros de nós mesmos e que vivemos viajando por aí, sem voltar para dentro. O aumento da procura pela psicoterapia vem de maneira gritante através do confinamento. Também pelas questões familiares, conflitos relacionais que surgem devido a uma proximidade muito grande. Todas as distrações foram embora. Muitas pessoas se dão conta que o que resta não é muito agradável e buscam algum tipo de suporte nesse sentido. Questões como solidão, alguém que mora sozinho e não tem muita rede de apoio próximo de si pode ficar mais vulnerabilizado nesse momento", afirma.
Ela destaca maior atenção para os sintomas psicossomáticos, que são os efeitos de fatores sociais e psicológicos sobre o corpo e o bem-estar das pessoas. "Pessoas que nunca tiveram podem ter um estranhamento muito grande. Muitas vezes, quando os sintomas são emocionais como tristeza e angústia, são ignorados. Mas quando se tornam físicos, são mais vistos e pode trazer maior preocupação para as pessoas irem em busca da psicoterapia e tentar entender o que está acontecendo consigo".
"Claustrofobia" também faz parte das problemáticas que envolvem o confinamento e estão associadas ao medo. A pesquisa teve aumento na plataforma nos últimos 90 dias. De acordo com a psicóloga clínica Angela Vilela, o número de pessoas que sofrem de ansiedade, fobia e pânico já era expressivo.
"Agora, é como se tivesse nivelado um medo para todos. O interesse foi ampliado e muitas vezes os sintomas são parecidos com o que se narra no contágio do vírus. Falta de ar e sufocamento, produção de pensamentos negativos e muita imaginação para os sentidos. A prevenção a claustrofobia está relacionada a uma rotina de afazeres produtivos e práticos em casa e, principalmente, não ver notícias o tempo todo", afirma.
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O Google Trends mostra que nos últimos 90 dias, pesquisas relacionadas a "como fazer cerveja artesanal?" e "delivery de bebida" aumentaram nos meses de março e abril. O aumento do consumo de álcool durante o confinamento se tornou um fator preocupante para a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead) e para a Organização Mundial de Saúde (OMS), que, por sua vez, recomendou a limitação de venda de bebidas alcoólicas durante a quarentena.
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Segundo Angela, o aumento do consumo de bebida alcoólica pode estar relacionado ao sustento da dependência, ou para "buscar um relaxamento frente às questões que envolvem as problemáticas econômicas e psíquicas que a insegurança frente ao nosso futuro nos causa". "Uma hipótese para a cerveja artesanal é a união do útil ao agradável. Buscar a criação de uma cerveja saborosa como bom apreciador, e ainda encontrar uma possibilidade de empreendimento futuro. Outro fator que interfere é a insegurança quanto o futuro, a vida, que nos deixa tensos e o álcool é, cientificamente comprovado, usado aliviar a tensão. Promove um alto bem estar, que pode piorar as tensões a longo prazo e até levar a uma dependência."
A produção de cervejas artesanais durante o confinamento pode ser tornar um empreendedorismo no futuro pós-pandemia, de acordo com o Google Trends, isso mostra a preocupação com a "recessão econômica" devido a atual situação nacional e mundial, tendo em vista que todos os Países estão passando por problemas econômicos por conta da pandemia do coronavírus e sendo obrigados a fechar o comércio, no Brasil, não poderia ser diferente. Aqui, mesmo o presidente da República defendendo a reabertura precoce do comércio dando prioridade a economia e não a vida das pessoas, aparentemente, já existe um “preparo” para o que está por vir economicamente, tendo em vista o aumento das pesquisas.
Segundo a cientista política e professora da Facho, Priscila Lapa, as pessoas começaram a perceber a gravidade do momento. "À medida que as contas e os débitos se acumulam, vem o crescimento das estatísticas sobre a doença. Aumenta a ansiedade para voltar ao trabalho, mas cresce o medo do contágio. O que parecia uma crise passageira, parece ganhar ares de crise sistêmica. As pessoas não sentem confiança nas lideranças políticas e empresariais e não têm certeza se as medidas adotadas são as corretas. Assim, temos vários ingredientes para as pessoas sentirem medo do que vai acontecer a partir de agora".
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Famílias que têm filhos pequenos apresentam maior dificuldade em como "ocupar crianças" durante o isolamento, já que elas que são muito ativas e precisam liberar energia. A psicóloga Jéssica Andrade chama atenção para as relações familiares, que podem sentir o efeito do estranhamento "porque mexe na dinâmica da família". "Esse período convida a uma necessidade de adaptação que nem todo mundo dispõe de recursos suficientes para lidar. Inclusive, fala sobre a busca por psicoterapia. É preciso usar muitos recursos emocionais que muita gente está vendo que não dispõe”.
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Jéssica defende a importância da conversa com as crianças, explicando a atual situação que estamos vivendo. “Todas as famílias vão precisar de reajustes nesse momento. Umas mais, outras, menos. Organizar uma rotina é interessante principalmente para as crianças, que precisam dessa organização melhor psiquicamente falando, porque ajuda a separar cada coisa do dia. É interessante conversar com elas sobre o que está acontecendo, se utilizando de recursos lúdicos, não necessariamente falando sobre mortes, mas explicando um pouco o que está acontecendo".