Pesquisas científicas, manutenção de aparelhos e confecção de equipamentos de proteção individual (EPIs) são algumas das ações desempenhadas em instituições de ensino, públicas e particulares, para ajudar na guerra que o mundo vem travando contra o novo coronavírus. Embora na maioria das vezes as iniciativas sejam com verba pública, no caso das universidades e institutos federais, a doação de recursos de empresas privadas contribui para viabilizar importantes estudos, como a busca por vacinas e o desenvolvimento de drogas contra a doença. Além de proporcionar que jovens estudantes coloquem em prática o que estão aprendendo durante a formação superior. Até esta sábado (09), Pernambuco tinha registrado 12.470 infectados pela covid-19 e 972 mortes.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) já consertou 12 respiradores que estavam quebrados e sem uso em unidades de saúde. Outros 10 estão em fase de recuperação e mais 25 deverão ser reparados pela Fiat. No Senai, a força-tarefa está ocorrendo em um laboratório da unidade do Senai no bairro de Santo Amaro, área central do Recife. Docentes das áreas de eletrônica, mecânica e calibração de equipamentos participaram dos consertos.
“A iniciativa começou com uma campanha da Fiepe para arrecadar recursos para EPIs. No meio da campanha, a Fiepe e o Senai também estavam consertando respiradores. Só que não havia recursos suficientes. Foi quando iniciamos uma grande mobilização. Contactei cerca de 70 empresários e todos foram muito receptivos. Arrecadamos R$ 400 mil em um dia e meio de campanha”, relata o empresário Marcelo Tavares de Melo, um dos articuladores da iniciativa.
Nove dos respiradores foram entregues esta semana à Maternidade Brites de Albuquerque, em Olinda, no Grande Recife, onde está funcionando um hospital provisório para atendimento de pessoas com o novo coronavírus. “Acho importante a participação da sociedade, a gente ter um ato de solidariedade num momento como esse. E os empresários têm tido um papel fundamental, realizando campanhas fortes”, observa Marcelo Tavares de Melo.
A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que figura entre as 10 mais conceituadas instituições federais de ensino do País, recebeu R$ 800 mil do Ministério Público do Trabalho (MPT) para ações contra a covid-19. O dinheiro foi repassado por empresas obrigadas, judicialmente, a pagar multas trabalhistas. O montante acabou dividido em quatro projetos: exames de detecção do novo coronavírus, sequenciamento genético, impressão de EPIs em 3D e desenvolvimento de válvulas que podem ser usadas no caso de não haver respiradores.
Veja lista de instituições que precisam de ajuda
Uma das ações, no câmpus Caruaru, no Agreste, envolve alunos e professores dos cursos de design e engenharia de produção. Estão confeccionando escudos faciais para profissionais de saúde. O principal material usado é o amido de milho, ou seja, os equipamentos fabricados não levam petróleo e não possuem substâncias tóxicas em sua composição.
“E o modelo que desenvolvemos é mais rápido de ser produzido, leva de 15 a 20 minutos, enquanto a maioria gasta de duas a três horas”, diz o coordenador do projeto, Lucas Garcia. Já foram produzidas 600 máscaras. Com o dinheiro repassado pelo MPT, outras 1.500 estão previstas.
“Fico feliz em contribuir na luta contra um dos que parece ser o maior desafio da minha geração. Fazer parte do desenvolvimento de um produto é enriquecedor. Apesar da situação complicada por causa da pandemia, conseguimos desenvolver, aprender e inovar. E o melhor, em prol da segurança e do bem estar do próximo”, afirma o estudante Ronaldo Carlos, 24 anos, aluno do 6º período de engenharia de produção.
Outra iniciativa da UFPE que deve ser contemplada com a verba destinada pelo MPT é coordenada pelo professor do Departamento de Química Fundamental Petrus Santa Cruz: válvulas em 3D. No caso de não haver respiradores, o equipamento pode ser uma alternativa. “Emergencialmente, se o hospital não tiver respirador, pode-se usar essa válvula no paciente que esteja no estágio de pré-intubação”, explica Petrus Santa Cruz.
“Normalmente, as peças feitas em 3D não podem ser esterilizadas em autoclave, pois ficam deformadas. As válvulas e outros materiais que estamos desenvolvendo para os hospitais não precisarão ser esterilizados. Serão feitos com uma textura que impede a fixação de vírus e bactérias. Além disso, é usado um material com nanopartículas metálicas. Para matar as bactérias e inviabilizar os vírus que eventualmente consigam se fixar na peça”, informa Petrus Santa Cruz.
"Se houvesse mais recursos em pesquisas, teríamos métodos de diagnóstico mais rápidos e eficientes, com mais dados para que as autoridades de saúde agissem mais rapidamente nesta pandemia. Se tivesse havido grandes investimentos na ciência e nas pesquisas nos últimos 20 anos na área de vacinas, possivelmente existiria hoje uma vacina contra o novo coronavírus, que surgiu seis meses atrás na China. O mundo já estaria vacinado, mas até agora não temos nada", comenta o médico e diretor do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika), da UFPE, José Luiz de Lima Filho.
"Por isso, é fundamental que setores públicos e privados destinem mais verbas para ciência", complementa o pesquisador. Entre as ações do Lika relacionadas à covid-19 estão suporte ao monitoramento de medidas restritivas, à vigilância e à testagem de possíveis casos da doença. O laboratório também desenvolve estudos epidemiológicos, além de apostar em plataformas de vigilância bioepidemiológica hiperespectral, como satélites e drones, e em atividades de telemedicina para monitoramento de pessoas que possam ter sido infectadas.
No Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), no Recife, a doação de empresas, junto a uma campanha de arrecadação de recursos, possibilitou que três alunos e cinco docentes fabricassem 500 máscaras de acrílico. A meta é chegar a 700. “Próximo passo será fazer modelos para crianças”, explica o professor Heber Silva. Para essa etapa, no entanto, ainda não há verba.
Empresas e cidadãos estão convidados a aderirem ao projeto Atitude Cidadã - Está em nossas mãos, lançado pelo Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC) na última quinta-feira (07). A meta é sensibilizar empresários e a sociedade em geral a fazerem doações para iniciativas contra o novo coronavírus. Também mostrar entidades que precisam de ajuda. Na próxima quarta-feira (13) haverá uma grande ação, na Rádio Jornal, durante todo o dia.
A programação das seis emissoras da rede (Recife, Caruaru, Petrolina, Garanhuns, Limoeiro e Pesqueira) vai abordar o assunto. Começa às 5h com o programa A Voz do Povo e segue até meia-noite, no Movimento, passando pela Super Manhã, com Geraldo Freire; o Rádio Livre, o Balanço de Notícias e a programação esportiva. Serão apresentadas reportagens e entrevistas ao vivo com os empresários que fizerem doações.
“Vivemos uma crise de saúde e econômica sem precedentes. Para nós, da imprensa, cuja atividade é essencial para a população, abre-se um grande desafio: o de informar bem e, ao mesmo tempo, poder ser ponte para que as pessoas que precisam de ajuda possam ser vistas e atendidas em suas necessidades”, destaca a diretora de jornalismo da TV e Rádio Jornal, Mônica Carvalho. “A Rádio Jornal, líder absoluta de audiência e que atinge públicos variados, vai ser a âncora desta ação”, diz.
Na próxima segunda-feira (11) será divulgado um número de telefone para que as pessoas interessadas em fazer doações – pessoas físicas ou jurídicas – entrem em contato com a Rádio Jornal no dia 13. Mas o JC Online já disponibilizou uma lista com entidades que estão necessitando de apoio.