A queda no movimento nas ruas no período de pandemia se soma à informalidade como desafio na atividade dos flanelinhas. Mesmo com a retomada de uma parcela dos setores econômicos em Pernambuco, algumas regiões não recuperaram o mesmo nível de circulação de pessoas. Mais de quatro meses depois da chegada do coronavírus no Estado, o cenário do Bairro do Recife continua está bem diferente do que costumava ser. Com ruas vazias e estabelecimentos fechados, quem depende da boa vontade dos motoristas para sobreviver ainda sofre.
Os guardadores de carro tiveram um alívio com doações de cestas básicas pela Prefeitura, por volta de maio. No entanto, o benefício seria válido por três meses, mas só foi distribuído uma vez, segundo o guardador de carro Genésio da Silva, 68, cadastrado na Rua São Jorge, próximo ao prédio da Receita Federal.
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Depois disso, ele contou que não teve mais contato da administração. Ele pede por resposta e pela continuação do amparo. “A cesta básica vai ajudar muito”, pediu.
Aposentado, Genésio não tem direito ao auxílio emergencial do Governo Federal. O complemento de renda que fazia como flanelinha se perdeu com a propagação da covid-19 no Estado.
“Dependemos muito do movimento na Receita Federal, que até agora não abriu. O turismo também não está existindo. Da praça na Primeiro de Março (Praça do Diário, no bairro de Santo Antônio) para lá, o movimento é total. Mas, do outro lado da ponte, é tudo fechado. A gente está se virando com a Marinha (na Praça do Arsenal), que não fechou”, descreveu.
O dinheiro que tem ganhado ainda não é suficiente para quitar as dívidas. “O salário mínimo (da aposentadoria) não dá para nada. Meu cartão de crédito está atrasado há quatro meses e eu não pago. Era com a renda extra aqui eu cobria”, contou.
Carlos Antônio da Fonseca, 52, flanelinha cadastrado na Rua da Guia, vive unicamente do benefício emergencial de R$ 600. “A gente se vira. Está ruim para todo mundo. Mas o que ajudou mais foi quando deram a feirinha da Prefeitura”, revelou.
Mesmo quando arrisca ir ao local de trabalho, não ganha nada. “ O Recife Antigo parou. A gente vem aqui só para não estar em casa parado”, revelou.
Carlos disse que os primeiros trabalhadores no Bairro do Recife a receberem a cesta básica foram os donos de quiosques. “E gente recebeu, depois os quiosques receberam de novo, e a gente até agora, nada.”
Procurada, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife (Semoc) disse que está “realizando os últimos ajustes pra fazer uma nova entrega de cestas básicas aos flanelinhas cadastrados da área central da cidade”, e que avisará aos trabalhadoras quando deverão fazer a retirada.
A pasta informou, também, que entregou 141 cestas a flanelinhas cadastrados do Bairro do Recife e do Cais de Santa Rita, e que “está atenta às necessidades dos trabalhadores afetados pela pandemia do novo coronavírus”.