Com leitos lotados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) neonatais em alguns dos principais hospitais referência em atendimento materno-infantil do Estado, os bancos de leite têm enfrentado dificuldade em manter os estoques. O alimento tem papel fundamental no desenvolvimento da criança e pode ajudar a salvar a vida de bebês prematuros.
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Na última terça-feira, o Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), na Encruzilhada, Zona Norte do Recife, tinha todas as 10 vagas da UTI neonatal ocupadas. Sem espaço na unidade intensiva, alguns bebês em estado grave e entubados também ocupavam leitos em berçários do hospital. Com a alta demanda, o estoque acabou afetado. "A situação está muito ruim. Temos hoje apenas 25% da nossa necessidade. Acabamos priorizando os prematuros que estão em UTIs, mas o ideal é que pudéssemos atender todos que estão sem leite", pontua a médica pediatra e coordenadora do banco de leite do Cisam Igara Melcop.
Pernambuco tem dez bancos de leite, entre unidades de saúde da rede pública e privada, e outros cinco pontos de coleta de leite humano em maternidades e clínicas. Quatro desses bancos são mantidos pela gestão estadual. O banco que funciona no Hospital Barão de Lucena (HBL), no bairro da Iputinga está atualmente com 20 litros de leite em estoque, para uma demanda de 1,2 litro diário. No Hospital Jesus Nazareno, em Caruaru, Agreste pernambucano, há 26 litros estocados, para uma média de consumo diário de 1,4 litro. Localizado em Petrolina, no Sertão, o banco do hospital Dom Malan está em situação crítica: tem apenas dois litros de leite guardados para 800 ml de consumo médio diário.
Na rede estadual, apenas o banco do Hospital Agamenon Magalhães (HAM), em Casa Amarela, tem situação estável. Até a última terça-feira, a unidade tinha 48 litros em estoque para uma demanda de 1 litro por dia. Todos os 16 leitos de UTI neonatal estavam ocupados na data. "Esse volume nos deixa em uma situação estável, mas quanto maior o estoque melhor", afirma Agnes Freitas, coordenadora do banco de leite do hospital.
No Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), 42 dos 50 leitos de UTI neonatal estavam ocupados na terça-feira. A instituição é referência em banco de leite, mas também não tem estoque suficiente para a demanda. Em outubro, a instituição cobriu apenas 74,6% da quantidade de leite solicitada para a UTI neonatal. "Não conseguimos cobrir quase 30% da solicitação. Isso é muito preocupante", lamenta Vilneide Braga-Serva, médica pediatra e coordenadora do banco.
A pandemia diminuiu o número de doações nas unidades. O HAM, por exemplo, estima que a queda tenha sido de 50%. Os bancos têm buscado as doações na residência das doadoras que não puderem se deslocar. Podem doar mulheres que estejam saudáveis e tenham excedente de leite – quando o bebê mama e ainda sobra no peito. Também é necessário apresentar os exames do pré-natal. As orientações para coleta e entrega podem ser obtidas através do telefone das instituições. No Cisam, o número é 3182-7720; no HAM o contato é através do 3184-1690; já no Imip o telefone é 2122.4719.
O comerciante Hugo Marques, de 46 anos, conhece bem a importância das doações de leite. A esposa Natália faleceu poucos dias após dar à luz ao pequeno Henrique, que nasceu três semanas antes do tempo. Desde o início da semana, o bebê está fazendo uso do leite do banco, após uma campanha iniciada pela família por doações. "Foi uma coisa muito grande e muito forte, que alcançou quase 450 pessoas. Teve muita doação. Isso nos fortalece, acalma os nossos corações. O leite não é só para Henrique, mas para outros bebês que precisam."
O menino, que tinha o nascimento programado para o dia 20 de novembro nasceu em 29 de outubro. "Apesar de faltar cerca de três semanas, ele já estava praticamente formado. Existem casos muito mais graves, de bebês que não chegam a pesar nem um quilo. Essa campanha é para eles também. É uma realidade que a gente só conhece quando precisa."
O bebê recebeu doação de Michele Maximino, conhecida como a maior doadora de leite do Brasil. A técnica em enfermagem, que é mãe de Gabriel, de 10 anos, Mariana, de 8, e do pequeno Miguel, de nove meses, percorreu cerca de 170 quilômetros de Quipapá até o Recife para realizar a doação. "Fico muito realizada em fazer isso. A mensagem que deixo para as outras mães é que vá ao banco de leite mais próximo da sua cidade e doe. Não jogue o leite fora, ajude quem precisa", apela a mãe, que já doou mais de 800 litros de leite nos últimos anos.