O Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), localizado no bairro da Encruzilhada, na Zona Norte do Recife, integrante do complexo hospitalar da Universidade de Pernambuco (UPE), suspenderá temporariamente o atendimento de casos não emergenciais e cirurgias eletivas programadas a partir desta sexta-feira (11). Com um grande número de enfermeiros e técnicos de enfermagem adoecendo e precisando se afastar do trabalho, o hospital universitário não está conseguindo atender a demanda. Os casos de covid-19 são maioria entre os profissionais de licença, mas há também outras doenças registradas.
O hospital também solicitou que a Central de Regulação de Leitos do Estado não realize encaminhamentos de novos pacientes para o serviço, mas ressaltou que o atendimento dos casos considerados de urgência está mantido.
A unidade hospital possui, segundo informações do seu site oficial, 104 leitos cadastrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), integrado à Central de Leitos do Estado de Pernambuco, disponibilizando todos os seus leitos ao SUS e a Unidade Ambulatorial. O Cisam dispõe de várias especialidades médicas das clínicas ginecológica, obstétrica, médica, cirúrgica e pediátrica e demais profissionais, como biomedicina, psicologia, fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, nutrição, odontologia, serviço social e enfermagem. Também são ofertados os serviços de laboratório, patologia clínica, histeroscopias, imagem e imunização.
O Cisam faz uma média de 400 procedimentos por mês, entre partos normais, cesarianas e curetagens, que geram internação, fora os atendimentos que chegam na emergência, são atendidos, ficam em observação e vão embora pra casa. Hoje, a maternidade está com todos os 104 leitos ocupados.
Segundo a assessoria de imprensa da UPE, o número de profissionais afastados nesta semana foi maior do que a capacidade de remanejamento. "A reserva técnica atual é insuficiente para suprir a necessidade de 38 enfermeiros e 39 técnicos para recompor as escalas. A UPE recebeu autorização para contratação imediata de 8 enfermeiros e esforços estão sendo feitos para aumentar o efetivo do Cisam", informou em nota.
Também nesta sexta-feira, Benita Spinelli, professora de UPE e coordenadora de enfermagem do Cisam publicou um vídeo nas redes sociais, detalhando a situação delicada do quadro profissional do hospital e informando a decisão de interromper as atividades. De acordo com Benita, a unidade de saúde vem trabalhando desde o início da pandemia com um déficit constante de recursos humanos.
"Este déficit já era um problema rotineiro da nossa instituição. Com o agravamento da crise da pandemia, os afastamentos se somaram e nos colocaram em situações de muitos constrangimentos e de precária assistência sendo prestada à população", disse no vídeo. "Os déficits continuam acontecendo. Não é só covid-19 que afasta os nossos profissionais do trabalho, mas outros tipos de adoecimento também têm levado os nossos técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem, enfermeiros e outras categorias ao afastamento, mas nosso foco nesse momento está na equipe de enfermagem", contou.
A coordenadora do Cisam informou também que o número de afastamentos é alto e constante a ponto de impossibilitar que a unidade consiga dar conta dos atendimentos. "Desde outubro a gente vem trabalhando na possibilidade de remanejar profissionais, de solicitar às autoridades locais a reposição do nosso quadro", disse.
Segundo Benita, o hospital está recebendo apoio das autoridades do Estado, citando o reitor da UPE, Pedro Falcão, o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação de Pernambuco, Lucas Cavalcanti Ramos, e o secretário de Saúde do Estado, André Longo. "Todos têm sido parceiros na nossa luta e têm tentado imbuir esforços para nos ajudar", pontuou. Atualmente, o Cisam precisa contratar, em caráter de emergência, 38 enfermeiros e 39 técnicos de enfermagem. Inicialmente, planejava-se reduzir 37 leitos do atendimento a partir de 1º de janeiro, mas não foi possível aguardar até lá.
"A medida que as pacientes que estão no hospital atualmente forem recebendo alta, elas sairão e nós esperamos que os leitos não sejam ocupados por outras pacientes, porque esse está sendo o nosso trabalho agora, evitar que entre alguém porque não temos equipe suficiente para tomar conta, mas as autoridades já estão se organizando para resolver nosso problema", acrescentou.
Benita destacou que a suspensão das atividades também vai prejudicar a graduação e os cursos de pós da UPE. O Cisam tem três residências, fora residentes de outros hospitais que também passam por lá. "Temos a residência de Enfermagem, Multiprofissional em Neonatologia e uma de Ginecologia e Obstetrícia. É um prejuízo incalculável para todas essas pessoas e para a sociedade em geral. Vamos apelar para que nossas autoridades busquem formas mais rápidas de admissão desses profissionais para que o Cisam retome seu papel", disse.
Na tarde desta sexta-feira, as codeputadas Juntas (PSOL) enviaram um ofício ao secretário de Saúde, André Longo, pedindo informações sobre o fechamento do Cisam. No documento, o mandato coletivo também cobrou e questionou a pasta sobre medidas para reverter a situação atual.
Quais as medidas serão tomadas para proteção e recuperação dos profissionais de saúde, quais as alternativas para substituir o déficit já existente anteriormente e agravado pela pandemia foram dois dos três questionamentos feitos pelas Juntas. Elas também questionaram se existe a possibilidade de empossar concursados que aguardam nomeação do governo estadual.
"Manter o Cisam operando é garantir o direito das mulheres que precisam de cuidados, as Juntas solicitam a garantia e proteção deste que é um patrimônio do Estado de Pernambuco, que há mais de 70 anos forma profissionais e atende à população mais necessitada, em especial às mulheres nos mais diversos casos que dizem respeito à saúde e à proteção da vida das mulheres atendidas pelo Cisam", escreveram em comunicado publicado nas redes sociais.
Segundo o boletim da última quinta-feira (11), Recife contabilizava 43.365 casos de covid-19. A capital é o município do Estado com mais registros da doença provocada pelo novo coronavírus. Em Pernambuco, a covid-19 vem avançando com seguidas altas desde o começo do mês. Já são dez dias seguidos com uma média acima de mil, próxima ao pico da pandemia, que se deu entre os meses de abril, maio e junho.
Nesta sexta-feira (11), o Estado de Pernambuco apresentou a maior média móvel de casos desde 4 agosto, quando a média ficou em 1.308. Atualmente, o número médio de confirmações diárias está em 1.276, o 11º dia seguido com o dado acima de mil.
A tendência é de alta de 46% em comparação com 14 dias atrás. No pico da pandemia, em 29 de julho, a média de casos foi de 1.451. Para a chegada de 2021, a taxa de ocupação geral do Estado hoje gira em torno de 80,6%, com a permanência média também de três dias.