Trabalhar, estudar, celebrar, se divertir e... malhar. Em casa. A pandemia da covid-19 alterou completamente a vida de adultos e crianças e impôs uma rotina doméstica às atividades que antes eram praticadas, na maioria das vezes, fora da residência. E foi um tal de subir e descer escada do prédio, pular corda, fazer yoga na sala e até correr dentro do apartamento. Mas será que o exercício em casa tem o mesmo resultado e benefícios que a malhação na academia? Segundo os professores de educação física, sim.
"Virou febre treinar em casa. Todo mundo quer, mesmo com a volta das academias. Há ainda uma certa insegurança, apesar dos protocolos, e segurar a máscara no exercício não é fácil, principalmente para quem começa. Além das aulas, tenho treinado apenas em casa e é maravilhoso. Dá para treinar com a família, em dupla, e é possível atingir resultados. Só é preciso adaptar o treino e planejar a aula, observar o ambiente e materiais a serem usados, por exemplo", afirma a personal trainer Joana Barros, 35 anos. Há 12 anos, ela atua com treinamento para idoso e consultoria online para emagrecimento.
O primeiro alerta de Joana é que não dá para ver o vídeo nas redes sociais e sair se exercitando. "Os vídeos postados por influencers e atletas não são feitos para todo mundo. É algo muito geral, que não leva em consideração o corpo ou o nível do aluno. Ter acompanhamento é essencial também em casa", salienta.
A opinião é dividida com outra professora de educação física, Carina Cabral, 43 anos, 20 deles voltados à atividade. "Sem acompanhamento, é mais fácil se lesionar. Na academia, a pessoa faz com o professor do lado, corrigindo o movimento. Em casa, seguindo vídeos ou uma live, se não tem essa correção, não tem espelho, vai se lesionar de verdade. É essencial o acompanhamento", comenta Carina, que já dava aulas online antes da pandemia, mas viu a procura se multiplicar em 2020. "Comecei a testar aulas no digital em 2019, nos vídeos do Programa de Alívio da Dor [PAD], que eu ministrava na academia e hoje acontece no meu estúdio. O PAD é indicado quando a fisioterapia já curou, mas a pessoa tem medo de voltar para a academia e ter nova lesão. Atendo pessoas com dor crônica e idosos, mas, com a pandemia, até crianças já atendi. Em março, quando tudo fechou, veio a oportunidade de lançar as aulas online de fato. Os alunos não queriam ficar sem, porque teriam dor se ficassem parados", lembra.
A iniciativa deu tão certo que Carina chegou a montar turmas com dez alunos pelo aplicativo Zoom. "Comecei com uma aula semanal, via YouTube, fechada só para os alunos, e no Instagram, live aberta. Com o tempo, transformei em duas aulas e a live. Pelo aplicativo e com até dez pessoas, consigo corrigir o movimento. Hoje, tem gente que gostou tanto que não quer voltar para a academia", revela a professora.
Além dos pacotes do PAD – que inclui movimentos do pilates, SGA, método Busquet, move flow e liberação miofascial -, Carina dá aula a distância para brasileiros que moram fora do País. "Tenho alunos no Canadá e nos EUA e mando vídeos fechados formatados para eles. Faço a "aula deles", gravo, comento exercício por exercício e envio. Eles assistem, tiram as dúvidas e fazem a aula, gravando também. Se sentem alguma dor ou incômodo, me indicam e eu tenho como analisar o movimento pelo vídeo. Dessa forma, consigo fazer as correções mesmo não sendo uma live, e eles ainda escolhem o melhor horário de treino", diz ela, que já retomou as aulas presenciais, no estúdio no Parnamirim. "São apenas duas pessoas na sala, ou aulas individuais, e com máscara, como manda o protocolo."
O formato a distância praticado por Carina se assemelha às consultorias, que ganham cada vez mais adeptos pela praticidade e custo reduzido: não precisa pagar a academia. Hoje, 50% dos alunos de Joana são adeptos desse gênero. "Na pandemia, dobrei o número de alunos da consultoria. A anamnese é feita por e-mail, os objetivos são definidos, e o treino é prescrito para fazer em casa. São exercícios que dá para executar sem material nenhum, na varanda, no quarto. Eles mandam foto do local escolhido para eu saber se tem parede livre, janela, tapete, que possam ser explorados. Colchonete, pesinhos de alimento, cabo de vassoura, enfim, o que tiver à mão a gente usa para treinar."
Engana-se quem pensa que a falta da presença física e do clima da academia significa que o aluno fique à deriva. Mesmo longe do professor, ele é acompanhado e o que é melhor, incentivado. "O treino é colocado num app e, quando ele acessa para fazer a aula, recebo a notificação. Se não acontece no horário combinado, eu ligo, pergunto, lembro da razão pela qual ele começou a se exercitar. Isso é essencial para animá-lo a organizar a rotina e dedicar um tempo para se exercitar e cuidar da saúde".
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