Em plena quaresma, período que começa na Quarta-feira de Cinzas e acaba na Páscoa, muitos católicos optam por não comer carne e frango e investem no consumo de peixes. Mas muitos estão assustados depois da notícia de que uma mulher morreu no Recife, semana passada, com a suspeita de ter sido vítima da síndrome de Haff, doença provocada por uma toxina encontrada em pescados e crustáceos. A Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) tranquiliza a população e informa que foi um caso esporádico e ainda em investigação. O órgão destaca que não há nenhuma restrição voltada para o consumo de peixes e crustáceos em território pernambucano. Ressalta, entretanto, a importância das pessoas ficarem atentas quando forem comprar os pescados, observando as características e armazenamento do produto.
“Uma amostra do peixe consumido pela vítima foi levada para o Laboratório Central de Pernambuco. Depois encaminhada para o Instituto Federal de Santa Catarina, local que realiza esse tipo de análise no País. Quando acontece qualquer surto precisamos fazer um estudo para saber o que aconteceu. Mas classificamos como um caso esporádico”, diz o gerente geral da Apevisa, Josemaryson Bezerra. “Como as características sintomatológicas apontam para a síndrome de Haff, a análise vai identificar se há toxina no peixe. Será pesquisado também se existem bactérias ou microorganismos que geram outras doenças”, explica Josemaryson.
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A veterinária Pryscila Andrade, 31 anos, morreu na última quarta-feira, após 14 dias internada na UTI de um hospital particular do Recife. A irmã dela, a empresária Flávia Andrade, 36, também contraiu a doença, mas se recuperou e teve alta depois de quatro dias de internamento. As duas almoçaram um peixe do tipo arabaiana no dia 18 de fevereiro na casa de uma delas. O pescado foi comprado no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. Após comerem, sentiram fortes dores abdominais e foram hospitalizadas. A síndrome de Haff é popularmente conhecida como doença da urina preta porque o doente fica com a urina escura. Nos últimos cinco anos, Pernambuco registrou dez casos confirmados da enfermidade, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Seis deles no ano passado. Outros cinco seguem em análise.
A investigação desse último caso envolve, além da Apevisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério da Saúde, as Coordenações Nacional e Estadual de Doenças Transmissíveis por Alimentos (ligadas às Secretarias de Saúde), a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente. A morte da veterinária pode ser a primeira provocada pela síndrome de Haff em Pernambuco.
Segundo o gerente da Apevisa, a família de Pryscila comprou o peixe a um varejista que costuma vender pescados para ela. Após o episódio, o órgão conversou com o comerciante, que indicou a empresa que adquiriu o produto. “O peixe que elas consumiram veio do Pará. O empresário de Recife que vendeu para o varejista comprou 5 mil quilos no Pará. Quando estivemos na empresa, havia só 298 quilos do pescado pois o restante tinha sido vendido”, explica. “Retiramos uma amostra também do que havia lá para análise e o restante ficará reservado até a conclusão da investigação. Ressalto que não houve nenhuma reclamação dos quase 4.700 quilos que a empresa já vendeu. E diferentemente de um produto que tem lotes, no caso dos pescados cada exemplar é único”, diz Josemaryson.
“Não há restrição quanto ao consumo de peixe em Pernambuco. Ao comprar, as pessoas devem ficar atentas ao fornecedor e ao ambiente em que o peixe é conservado. Vale verificar o odor. As escamas devem estar aderentes à pele do peixe e os olhos, brilhantes”, explica o gerente. Apesar disso, as Vigilâncias Sanitárias dos municípios prometem intensificar as fiscalizações nesse período que antecede a Páscoa.
FIQUE ATENTO
O que é a síndrome de Haff?
A doença é causada por uma toxina que pode ser encontrada em determinados peixes e crustáceos. A substância gera danos no sistema muscular e em órgãos como rins. Ela se constitui em um tipo de rabdomiólise, nome dado para designar uma síndrome que gera a destruição de fibras musculares esqueléticas e libera elementos de dentro das fibras (como eletrólitos, mioglobinas e proteínas) no sangue
Por que tem esse nome?
O nome foi dado em razão da descoberta da doença em um lago chamado Frisches Haff, na região de Koningsberg em 1924. O território, à beira do Mar Báltico, pertencia à Alemanha, mas foi incorporado à Rússia posteriormente, constituindo um enclave entre a Polônia e a Lituânia
Quais são os sintomas?
A doença de Haff gera fortes dores musculares e rigidez nos músculos. Além disso, frequentemente ocorre como consequência o aparecimento de uma urina escura em função da insuficiência renal, razão pela qual é também chamada popularmente de doença da urina preta
O que faz os peixes e crustáceos produzirem essa toxina?
Infectologistas explicam que ocorre quando o peixe ou crustáceo não é armazenado em temperaturas corretas. Pesquisas indicam que a toxina não tem nem gosto nem cheiro específicos, o que torna mais complexa a sua percepção. Ela também não é eliminada pelo processo de cocção do peixe ou crustáceo
Como se prevenir?
A melhor forma de prevenir a doença é consumindo peixe com boa procedência. Se for comprar o alimento em uma feira, é necessário observar se o peixe está sendo mantido no gelo, para conservar a temperatura correta
Dicas para escolher o peixe ou crustáceo
* Saiba a procedência
* Os olhos do peixe devem estar brilhantes
* Brânquias avermelhadas
* Carne com textura mais firme
* Armazenamento em temperatura variando de -1° a 3°
Fontes: Agência Brasil, infectologista Filipe Prohaska e professor Paulo Oliveira (UFRPE)