URINA PRETA

Apevisa reforça que não há restrição em Pernambuco para consumo de peixe

Morte de uma mulher suspeita de ter contraído Síndrome de Haff, provocada por uma toxina existente um um peixe, deixou consumidores preocupados

Cadastrado por

Margarida Azevedo

Publicado em 07/03/2021 às 14:05 | Atualizado em 07/03/2021 às 14:08
Consumidores devem ficar atentos às características do peixe antes de comprá-los - DAY SANTOS/JC IMAGEM

Em plena quaresma, período que começa na Quarta-feira de Cinzas e acaba na Páscoa, muitos católicos optam por não comer carne e frango e investem no consumo de peixes. Mas muitos estão assustados depois da notícia de que uma mulher morreu no Recife, semana passada, com a suspeita de ter sido vítima da síndrome de Haff, doença provocada por uma toxina encontrada em pescados e crustáceos. A Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa) tranquiliza a população e informa que foi um caso esporádico e ainda em investigação. O órgão destaca que não há nenhuma restrição voltada para o consumo de peixes e crustáceos em território pernambucano. Ressalta, entretanto, a importância das pessoas ficarem atentas quando forem comprar os pescados, observando as características e armazenamento do produto.

“Uma amostra do peixe consumido pela vítima foi levada para o Laboratório Central de Pernambuco. Depois encaminhada para o Instituto Federal de Santa Catarina, local que realiza esse tipo de análise no País. Quando acontece qualquer surto precisamos fazer um estudo para saber o que aconteceu. Mas classificamos como um caso esporádico”, diz o gerente geral da Apevisa, Josemaryson Bezerra. “Como as características sintomatológicas apontam para a síndrome de Haff, a análise vai identificar se há toxina no peixe. Será pesquisado também se existem bactérias ou microorganismos que geram outras doenças”, explica Josemaryson.

A veterinária Pryscila Andrade, 31 anos, morreu na última quarta-feira, após 14 dias internada na UTI de um hospital particular do Recife. A irmã dela, a empresária Flávia Andrade, 36, também contraiu a doença, mas se recuperou e teve alta depois de quatro dias de internamento. As duas almoçaram um peixe do tipo arabaiana no dia 18 de fevereiro na casa de uma delas. O pescado foi comprado no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. Após comerem, sentiram fortes dores abdominais e foram hospitalizadas. A síndrome de Haff é popularmente conhecida como doença da urina preta porque o doente fica com a urina escura. Nos últimos cinco anos, Pernambuco registrou dez casos confirmados da enfermidade, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES). Seis deles no ano passado. Outros cinco seguem em análise.

A investigação desse último caso envolve, além da Apevisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Ministério da Saúde, as Coordenações Nacional e Estadual de Doenças Transmissíveis por Alimentos (ligadas às Secretarias de Saúde), a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente. A morte da veterinária pode ser a primeira provocada pela síndrome de Haff em Pernambuco.

Segundo o gerente da Apevisa, a família de Pryscila comprou o peixe a um varejista que costuma vender pescados para ela. Após o episódio, o órgão conversou com o comerciante, que indicou a empresa que adquiriu o produto. “O peixe que elas consumiram veio do Pará. O empresário de Recife que vendeu para o varejista comprou 5 mil quilos no Pará. Quando estivemos na empresa, havia só 298 quilos do pescado pois o restante tinha sido vendido”, explica. “Retiramos uma amostra também do que havia lá para análise e o restante ficará reservado até a conclusão da investigação. Ressalto que não houve nenhuma reclamação dos quase 4.700 quilos que a empresa já vendeu. E diferentemente de um produto que tem lotes, no caso dos pescados cada exemplar é único”, diz Josemaryson.

“Não há restrição quanto ao consumo de peixe em Pernambuco. Ao comprar, as pessoas devem ficar atentas ao fornecedor e ao ambiente em que o peixe é conservado. Vale verificar o odor. As escamas devem estar aderentes à pele do peixe e os olhos, brilhantes”, explica o gerente. Apesar disso, as Vigilâncias Sanitárias dos municípios prometem intensificar as fiscalizações nesse período que antecede a Páscoa.

FIQUE ATENTO

O que é a síndrome de Haff?

A doença é causada por uma toxina que pode ser encontrada em determinados peixes e crustáceos. A substância gera danos no sistema muscular e em órgãos como rins. Ela se constitui em um tipo de rabdomiólise, nome dado para designar uma síndrome que gera a destruição de fibras musculares esqueléticas e libera elementos de dentro das fibras (como eletrólitos, mioglobinas e proteínas) no sangue

Por que tem esse nome?

O nome foi dado em razão da descoberta da doença em um lago chamado Frisches Haff, na região de Koningsberg em 1924. O território, à beira do Mar Báltico, pertencia à Alemanha, mas foi incorporado à Rússia posteriormente, constituindo um enclave entre a Polônia e a Lituânia

Quais são os sintomas?

A doença de Haff gera fortes dores musculares e rigidez nos músculos. Além disso, frequentemente ocorre como consequência o aparecimento de uma urina escura em função da insuficiência renal, razão pela qual é também chamada popularmente de doença da urina preta

O que faz os peixes e crustáceos produzirem essa toxina?

Infectologistas explicam que ocorre quando o peixe ou crustáceo não é armazenado em temperaturas corretas. Pesquisas indicam que a toxina não tem nem gosto nem cheiro específicos, o que torna mais complexa a sua percepção. Ela também não é eliminada pelo processo de cocção do peixe ou crustáceo

Como se prevenir?

A melhor forma de prevenir a doença é consumindo peixe com boa procedência. Se for comprar o alimento em uma feira, é necessário observar se o peixe está sendo mantido no gelo, para conservar a temperatura correta

Dicas para escolher o peixe ou crustáceo

* Saiba a procedência
* Os olhos do peixe devem estar brilhantes
* Brânquias avermelhadas
* Carne com textura mais firme
* Armazenamento em temperatura variando de -1° a 3°


Fontes: Agência Brasil, infectologista Filipe Prohaska e professor Paulo Oliveira (UFRPE)

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