Mais quatro policiais envolvidos em ação contra manifestação no Recife prestam depoimento
Os depoimentos foram realizados na Delegacia de Polícia de Santo Amaro, nesta quarta-feira (16)
Mais quatro policiais militares envolvidos na ação policial durante a manifestação contra o governo Bolsonaro no Recife, em 29 de maio, que resultou na perda de visão de dois homens e na vereadora Liana Cirne (PT) atingida por spray de pimenta, foram ouvidos. Os PMs prestaram depoimento na Delegacia de Polícia de Santo Amaro, área central da capital pernambucana, nesta quarta-feira (16).
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Segundo o advogado Rafael Nunes, que defende os PMs, quem prestou depoimento nesta quarta-feira não estava na mesma viatura de onde saiu o jato de spray que atingiu a vereadora. "Na primeira oportunidade, foram ouvidos quatro policiais que estavam em uma única viatura, hoje foram ouvidos mais quatro que estavam em uma segunda viatura", disse.
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Os policiais também são investigados por omissão de socorro ao adesivador Daniel Campelo, de 51 anos, que perdeu a visão do olho esquerdo após ser atingido por disparo de bala de borracha. O advogado, no entanto, nega as acusações. "O que as imagens não mostram é que tinha uma viatura do Samu a metros de distância", disse.
Depoimentos de outros quatro PMs
Os quatro policiais militares envolvidos na agressão à vereadora do Recife Liana Cirne (PT) na manifestação contra o governo Bolsonaro, na área central do Recife, em 29 de maio, prestaram depoimento na Delegacia da Rio Branco no dia 8 de junho. A parlamentar também foi ouvida pela manhã. O delegado Breno Maia, um dos responsáveis pelo inquérito, informou que o próximo passo será ouvir os dois trabalhadores que perderam a visão após serem atingidos nos olhos.
Segundo a vereadora, na delegacia, foi reforçado o que foi dito na Central de Plantões da Capital (Ceplanc) no dia 29, quando foi aberto um boletim de ocorrência. "Eu estava em casa, prestando um plantão jurídico para o caso de algum manifestante precisar de socorro. E, por volta de 11h30, o telefone do meu gabinete e o meu celular começaram a tocar bastante, com muitos relatos de violência, que até então tudo transcorria bem, que eu estava indo para Brasília Teimosa fazer entrega de cestas básicas. Troquei de roupa, fui prestar assistência às pessoas que estavam detidas", relatou a parlamentar.
A vereadora disse, ainda, que ao chegar na Ponte Princesa Isabel se deparou "com uma cena de guerra". Segundo Liana, no local, muitas pessoas pediam por socorro e, por isso, desceu do carro em que estava e se identificou como vereadora. No entanto, ao tentar dialogar com o policial que conduzia a viatura, não teria sido ouvida.
"Eles voltaram para o carro e não me responderam, mas sinalizaram que continuariam a perseguição. Eu fui novamente tentar conversar com eles. Foi quando eles dispararam, covardemente, o jato de spray de pimenta a um palmo do meu rosto", relatou.
A vereadora relatou que foi atacada às 11h57. Nesse mesmo horário, segundo o advogado dos policiais militares, Rafael Nunes, havia um manifestante detido dentro da viatura e a parlamentar estaria tentando impedir que o levassem.
"Tinha um preso dentro da viatura. Esse preso foi autuado em flagrante. Ela queria que a polícia tivesse liberado o preso. Ela queria segurar a viatura ali", disse.
A Secretaria de Defesa Social (SDS) aponta que, às 11h57, duas equipes da Radiopatrulha detiveram um homem que teria atirado uma pedra em uma das viaturas.
No entanto, de acordo com a vereadora, os próprios policiais informaram, em declaração prestada no boletim de ocorrência, que o homem em questão foi detido apenas às 13h25, na Avenida Conde da Boa Vista. Ou seja, 1h28 minutos após as agressões à vereadora e em local distinto daquele em que a agressão ocorreu.
O advogado dos PMs discordou da atitude da vereadora. "Não teria outra alternativa de contê-la. O que se espera da Polícia Militar? Usar os meios necessários. Vinha uma multidão depredar a viatura. Tinha um infrator dentro da viatura", disse. "O que não havia necessidade era dar tiro de bala de borracha, bater com cassetete, dar empurrões. A única forma que se tinha de contê-la naquele momento era spray de pimenta", completou.
A vereadora disse que os manifestantes não apresentavam perigo aos policiais, mas, mesmo assim, os militares dispararam tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo às 12h53, 17 minutos após o então secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, ter entrado em contato com o comandante geral da PM para determinar que a operação fosse encerrada.