O inverno começou em 21 de junho, mas em Pernambuco, os dias mais chuvosos têm sido registrados no início deste mês de agosto. Nesta semana, a Agência Pernambucana de Águas e Climas (Apac) já emitiu três alertas para informar sobre a possibilidade de chuvas com intensidade moderada a forte na Região Metropolitana do Recife (RMR) e na Zona da Mata Sul do Estado. Com o tempo chuvoso vem a preocupação para os mais de 700 mil moradores do Grande Recife que residem em áreas de risco. As chuvas deixam as barreiras encharcadas, elevando o risco de desabamento.
O medo e a apreensão são sentimentos frequentes para quem vive, por exemplo, na 1º Travessa Água Azul, no bairro de Dois Unidos, Zona Norte do Recife. Há alguns meses, parte de uma barreira cedeu e, apesar da lona plástica colocada na área, a sensação é de desproteção.
Para a dona de casa Maria Antuzia, de 53 anos, que há quatro décadas mora no local, neste período de chuvas fortes o medo é frequente. Ela e família, um total de seis pessoas, moram num imóvel com duas casas conjugadas. Por causa dos riscos, até a rotina diária muda nos dias de chuva. Segundo Antuzia, para levar o neto de 5 anos para a escola é preciso fazer um percurso maior, evitando a área de risco. "Aqui não tem só jovens, os idosos sofrem com essas subidas e descidas de ladeiras. Estamos precisando de uma solução antes que aconteça alguma morte. Não estamos pedindo nada demais. Aqui, também pagamos impostos", apela a moradora.
De acordo com os moradores, a Prefeitura do Recife visitou a área e propôs uma parceria para a entrega de materiais para construção de um muro de arrimo, utilizado na contenção das barreiras. A mão de obra ficaria por conta dos moradores. "Antes de fecharmos o acordo, conversamos com os pedreiros e o valor da obra seria de R$ 70 mil. Somos uma comunidade pequena e não temos condições de arcar com a despesa", explica Hosana da Silva, que também reside do local.
No mesmo bairro, há cerca de um ano, um deslizamento matou sete pessoas e três pessoas ficaram feridas. A tragédia deixou a população em alerta e tirou o sono de muitos moradores. "Não conseguimos dormir direito por causa da barreira que caiu. Colocam a lona, ela rasga e não adianta de nada. Até para sair de casa é complicado", completa a dona de casa Taíres Alves.
Susto que serve como alerta
Nesta quinta-feira (5), o susto de Marta Aparecida da Rocha, moradora da Comunidade do Pantanal, na UR-3, Ibura, Zona Sul do Recife, que teve parte da sua casa atingida pelo deslizamento de uma barreira causado pelas chuvas, serve de alerta. Há sete anos no local, essa é a primeira vez que isso acontece. Agora, ela e o marido, José Lourenço, não têm para onde ir. De acordo com a enteada de Marta, Liliane da Silva, o medo de que essa tragédia acontecesse era antigo. "Um ex-morador do local havia cavado o pé da barreira. Por isso, achávamos que ela poderia cair um dia. Outros moradores saíram do local. No entanto, como Marta e o marido não possuem outro local para ir, ficaram", explica. Quando o acidente aconteceu, não havia ninguém na casa.
De acordo com a Apac, as chuvas persistem na Região Metropolitana do Recife até sábado (7). "Temos previsão de que as chuvas persistam, mas com intensidade mais fraca. Nesta sexta-feira (6), na Zona da Mata Sul, por exemplo, ainda temos possibilidade de chuvas com intensidade moderada a fraca. Já na RMR, a intensidade diminui", explica Aparecida Fernandes, meteorologista da Agência.
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Perdas maiores
Além da perda material, de eletrodomésticos e móveis, o maior medo de quem mora nessas áreas é a perda de familiares e da própria vida, como aconteceu com a família Siqueira, em Cavaleiro, Jaboatão dos Guararapes, em maio deste ano. Após fortes chuvas, pai, mãe, filho e filha foram soterrados no acidente.
Os corpos de Osvaldo Pessoa de Siqueira, 39 anos, e da sua filha Isabel Pessoa de Siqueira, 12 anos, foram encontrados abraçados juntos no sofá da sala pelo Corpo de Bombeiros.
O que fazer quando houver deslizamento?
De acordo com o Coronel Cássio Sinomar, da Defesa Civil do Recife, o mais importante neste período de chuvas é reconhecer o grau de risco da área em que se encontra a residência e tomar medidas seguras a partir disso. "Há graus diferentes para as áreas de risco. Diante disso, é necessário que os moradores entrem em contato com a Defesa Civil do Município para que possamos ir no local, analisar a situação e orientar as melhores medidas protetivas", informa.
O agente também destaca que é importante não mexer no local do acidente. "Muitas pessoas ficam agoniadas para limpar o local onde houve o deslizamento ou querem voltar para pegar seus pertences. Essa atitude pode desestabilizar ainda mais o local e ocasionar outros deslizamentos", completa. O número da Defesa Civil do Recife é 0800.081.3400