Em frente a um hotel de luxo, o aposentado Benjamin Cavalcanti, 63 anos, segurava com uma mão no corrimão da escada que dá acesso à Praia de Boa Viagem, enquanto, na outra, mantinha a guia do cachorro. Cauteloso, descia um a um dos degraus com o corpo de lado. No final, a falta de duas tábuas de madeira fizeram com ele precisasse pular até o chão, o que quase o fez escorregar. Na orla que é o cartão postal do Recife há pelo menos quatro equipamentos em situação semelhante, conforme contabilizou a reportagem do JC na última quinta-feira (26), o que dificulta a acessibilidade e põe em risco os banhistas.
Uma queda nestas escadas, que são a única forma de ir até o mar em muitos pontos, pode render graves machucados. Isto porque, entre os buracos onde faltam as tábuas, não há areia para amortecer o corpo, mas pedras pontiagudas e ferragens do que sobrou da estrutura. Para crianças, idosos e pessoas com mobilidade reduzida, o perigo aumenta. “As escadarias estão péssimas, com riscos de idosos [caírem]. Ontem, o pessoal da barraca ajudou uma senhora a descer. Não tem degrau suficiente. É lamentável uma pessoa chegar de fora e ver esse estado. A beleza é exuberante, mas está terrível”, lamentou Benjamin, que é morador do bairro de Boa Viagem e vai à praia com frequência.
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Comerciante há quase 30 anos em Boa Viagem, Roberto Silva, de 59 anos, mais conhecido como “Roberto da Praia”, conta que até mesmo os clientes reclamam do estado atual da orla e das escadas, que, segundo ele, são deterioradas pelo próprio mar, apesar da gestão municipal consertá-las. “Aqui tem manutenção, mas o avanço do mar leva as pedras. Essa escada está quebrada há mais de meses, porque o mar avançou. Fica difícil, porque o pessoal não pode descer. Os clientes reclamam que não estão cuidando das escadarias”, relatou. Outras cinco escadarias visitadas em áreas de maré mais baixa, entretanto, estavam intactas.
Em todas as que estão depredadas, as tábuas faltantes são as mais próximas da faixa de areia, na beira mar. “É difícil descer as escadarias, algumas estão quebradas, e eu, um velho de 78 anos, vai pelas pedras. É um risco grande, uma maratona”, disse o aposentado Marco Massa. Por nota, a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) informou que a "manutenção das escadarias da praia de Boa Viagem, assim como o enrocamento das pedras de contenção do mar, está em processo licitatório, que deverá ser concluído dentro de quinze dias, possibilitando o início dos serviços".
Marco Massa também citou outros que tem visto na Avenida Boa Viagem, como a insegurança no local e o abandono dos quiosques. "Venho assiduamente à praia, e infelizmente os quiosques estão destruídos. Faz pena vermos a orla de Boa Viagem hoje. Inclusive, a barraca 45, já foi assaltada quatro ou cinco vezes”.
Sobre a insegurança citada, a Polícia Militar de Pernambuco disse manter "policiamento ostensivo em Boa Viagem através de Guarnições Táticas e policiais em motocicletas que patrulham diuturnamente, e de unidades especializadas reforçam a segurança no bairro”. A corporação afirmou ainda que “o comandante da unidade está ciente da demanda e tem empenhado esforços e efetuado várias prisões na região”, e orientou “a população a sempre que notar alguma movimentação estranha em suas comunidades, acionar a PM, através do telefone 190".
Em 5 de julho deste ano, o JC havia noticiado a situação de abandono de vários dos 60 quiosques que compõem a orla da praia recifense, que viraram alvos de assaltos, locais para uso de drogas e de abrigo para pessoas em situação de rua. Os pontos comerciais são alvo de projeto de revitalização aprovado em dezembro de 2020 que ainda não teve a ordem de serviço assinada pela Prefeitura do Recife, com planta feita em conjunto pelo arquiteto recifense Bruno Ferraz, historiador Leonardo Dantas, xilógrafo Severino Borges e pela Associação Pelo Cordel em Pernambuco (Acordel).
O projeto foi encabeçado pela Associação de Barraqueiros de Coco do Recife (ABCR) por meio de acordo com uma empresa privada, que realizará o serviço em troca de publicidade. Ou seja: não precisará de recursos dos tesouros municipais, estaduais ou federais. As tratativas com a prefeitura estão acontecendo e Josy Miranda, presidente da ABCR, espera que a autorização para as obras seja dada ainda neste mês de setembro. “Acredito que vão dar o alvará depois do dia 15. Virá um novo conceito de orla. Estamos animados, vai melhorar nosso trabalho e trazer mais turistas para a orla”, celebrou.
A Secretaria de Política Urbana e Licenciamento da Prefeitura do Recife esclareceu estar "em elaboração um projeto para requalificação da orla, cujas obras têm início previsto para este ano", e que a recuperação dos quiosques de coco "faz parte desse projeto, sendo uma das etapas prioritárias". Entretanto, não confirmou a data citada pela ABCR.