RESTAURO

Inéditas intervenções na Fundação Gilberto Freyre assinam a importância de preservar memória do pernambucano

Instituição onde funciona a casa-museu onde o escritor morou passa por uma série de ações de restauro e conservação financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)

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Katarina Moraes

Publicado em 07/11/2021 às 6:00
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Quando começaram a trabalhar na Fundação Gilberto Freyre (FGF), as conservadoras Kátia Santana e Marleide Irineu nem conheciam o escritor pernambucano (1900-1987) que dá nome à instituição situada em Apipucos, na Zona Norte do Recife. Foi só através do convívio na casa, do manejo com os objetos colecionados e da presença significativa do seu legado que elas o descobriram. E se apaixonaram. Hoje, ambas são parte da grande mobilização que revirou o local de cabeça para baixo na maior intervenção de restauro e conservação já feita na FGF, que futuramente vai permitir, além delas, que visitantes também se aprofundem na vida e obra do sociólogo.

No conjunto histórico tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), pintores, marceneiros e outros artistas passam pelos cômodos em ritmo frenético. Gradis recebem novas mãos de tinta, azulejos são limpos com capricho, obras de arte são mantidas em quartos reservados e móveis antigos cobertos por lonas pretas para evitar danificação. Dezenas de pessoas estão envolvidas na reforma patrocinada pela Lei Rouanet através de um convênio com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que cedeu R$ 4.487.526,32 à FGF, em um processo que se arrasta desde 2014.

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Fundação Gilberto Freyre, em Apipucos, Zona Norte do Recife - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Obras de restauração na Fundação Gilberto Freyre, em Apipucos, Zona Norte do Recife - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Obras de restauração na Fundação Gilberto Freyre, em Apipucos, Zona Norte do Recife - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Obras de restauração na Fundação Gilberto Freyre, em Apipucos, Zona Norte do Recife - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Memorial da Fundação Gilberto Freyre, em Apipucos, Zona Norte do Recife - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Obras de restauração na Fundação Gilberto Freyre, em Apipucos, Zona Norte do Recife - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

A primeira etapa das obras começou ainda em 2019, com readequações na Casa-Museu, no Sítio Ecológico, no Memorial Gilberto Freyre, no Laboratório de Restauro e no Espaço Cultural. Devido à pandemia, as outras etapas foram adiadas e retomadas só em junho deste ano com pintura, revisão das cobertas, da rede elétrica e de revestimentos, e com a instalação de rampas e iluminação no Sítio Ecológico, que dá acesso às trilhas das Pitangueiras, das Orquídeas e do Pau-Brasil. Agora, chegou a vez das 3.590 peças do acervo serem renovadas por uma equipe formada por 13 pessoas.

Entre elas, estão imagens sacras católicas, peças de origem africana, azulejos portugueses, peças da arte popular brasileira, porcelanas orientais, prataria inglesa e portuguesa, livros e uma pinacoteca que conta com quadros de artistas como Cícero Dias, Lula Cardoso Ayres, Baltazar da Câmara, Eliezer Xavier, Fédora do Rego Monteiro e Rosa Maria da Paz.

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Foram catalogadas 3.590 peças do acervo em processo de conservação e/ou restauro - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Foram catalogadas 3.590 peças do acervo em processo de conservação e/ou restauro - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Foram catalogadas 3.590 peças do acervo em processo de conservação e/ou restauro - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Foram catalogadas 3.590 peças do acervo em processo de conservação e/ou restauro - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Obras de restauração na Fundação Gilberto Freyre, em Apipucos, Zona Norte do Recife - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Obras de restauração na Fundação Gilberto Freyre, em Apipucos, Zona Norte do Recife - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

As obras que necessitam de limpeza e polimento os recebem dentro da própria instituição, mas caso precisem de uma restauração elaborada, são levadas até ateliês especializados. “A fundação realiza o trabalho de conservação diariamente, mas no dia a dia, e pela quantidade de peças, ela é limitada. Por sermos uma casa-museu, o que é positivo, os objetos não ficam protegidos em vitrines, como em outros museus, e recebem poeira, excrementos de insetos, etc. Por isso, as intervenções mais complexas estão sendo feitas agora”, explicou a restauradora Suzana Omena, responsável pela orientação da equipe.

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Restauradora Suzana Omena, responsável pela orientação da equipe - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

A inauguração da Fundação Gilberto Freyre foi o último sonho realizado pelo sociólogo, meses antes dele morrer. A sede está instalada na casa onde Freyre morou por mais de 40 anos ao lado da esposa, Maria Magdalena Guedes Pereira (1920 - 1997), e seus dois filhos, Sônia Freyre e Fernando de Mello Freyre. A casa-museu é um verdadeiro mergulho em sua vida e arte, já que preserva as características originais do tempo em que era habitada pelo autor de Casa-Grande & Senzala e Sobrados e Mocambos, com objetos e móveis dispostos nos mesmos lugares.

Mais que um ofício técnico, a conservação do acervo do sociólogo é, para Kátia, a chance de entender porque a obra dele foi e é importante”. “Eu acho incrível trabalhar com isso, porque descobrimos a história da peça e o que acontecia no período em que ela era utilizada. A gente acaba se envolvendo e se apaixonando. Estamos sempre descobrindo alguma coisa, é muito mais que um processo técnico. Cada vez admiramos muito a grandiosidade que foi aquele homem, e entendemos todos os títulos que ele tem”, relatou.

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Conservadoras Kátia Santana e Marleide Irineu - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Reabertura e novidades na Fundação Gilberto Freyre

Fechada ao público desde o começo da pandemia, a Fundação Gilberto Freyre tem expectativa de retomar as visitações em março de 2022, no mês de aniversário do escritor. “Enquanto muitos museus paralisaram as atividades e ficaram em compasso de espera, a fundação aproveitou, por questões de contexto mesmo, iniciar esse projeto. Estamos atravessando esse momento de uma forma positiva, com um controle maior do nosso acervo, o que facilita sua gestão”, avaliou Jamille.

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Jamile Barbosa, gerente editorial e de acervos da Fundação Gilberto Freyre - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Também é esperado para o primeiro semestre do próximo ano o desenvolvimento de uma base de dados para pesquisa, a publicação de um minicatálogo e o lançamento de um site que possibilitará visitas virtuais em 360° pelos cômodos da casa.

Apesar de toda importância histórica da fundação, o presidente e neto do escritor, Fernando Freyre Filho, comentou que, até hoje, a instituição “sobreviveu”. Mas é otimista pela chegada de novos tempos por ter como missão, a partir de agora, buscar parcerias com instituições privadas. Com o único objetivo de manter a memória de Gilberto Freyre viva. “Nós sentimos uma responsabilidade muito grande em preservar e difundir as ideias dele. Não queremos que ele morra no tempo, queremos que suas ideias continuem a ser debatidas e aprimoradas”, afirmou.

FUNDAÇÃO GILBERTO FREYRE/DIVULGAÇÃO
Gilberto Freyre, em frente à casa em Apipucos, onde morou por 43 anos - FUNDAÇÃO GILBERTO FREYRE/DIVULGAÇÃO

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