No início da tarde desta quinta-feira (18), uma equipe de reportagem da TV Jornal foi hostilizada e expulsa da delegacia do Espinheiro, Zona Norte do Recife, enquanto estava ao vivo no jornal Por Aqui. Policiais civis, entre eles o delegado da unidade, Francisco Diógenes, tentaram retirar os profissionais do pátio da unidade, enquanto uma entrevista era realizada.
>> Liberdade de imprensa no Brasil como direito fundamental
No vídeo ao vivo, é possível ver que a repórter Suelen Brainer entrevista um cidadão em frente à porta da delegacia - imóvel que se categoriza como departamento público, de livre acesso à qualquer cidadão. Um agente interrompe a conversa e pede para ela se retirar do local. Mesmo a profissional acatando o pedido e tentando conduzir o entrevistado e toda a equipe para fora do espaço, o policial e outro homem pegam na câmera do cinegrafista e tentam impedir as filmagens. “Espera aí, calma, deixa eu ir lá fora para terminar o ao vivo. Calma, não precisa tocar na câmera da gente, não tem necessidade”, protesta Suelen diante da ação dos policiais civis.
A equipe havia chegado ao local por volta das 11h30 para conversar com um parente de um motorista de aplicativo morto durante um assalto na unidade onde o entrevistado iria formalizar um Boletim de Ocorrência. "Ficamos lá na frente e estávamos conversando com ele [entrevistado]. Nos posicionamos de uma forma que não atrapalhasse a passagem e nem expusesse os policiais. No entanto, na hora do ao vivo, fomos abordados daquela forma. Eu não entrei na delegacia e estava com identificação de câmera e microfone. Já estamos acostumados a fazer o ao vivo daquele jeito", relata a repórter.
Ainda de acordo com Suelen, após o desligar das câmeras, a abordagem continuou. "O delegado não estava identificado, não queria dizer o seu nome, estava sem distintivo e queria me levar para dentro da delegacia. Eu disse que não e permaneci fora. Não veio uma policial feminina para me conduzir, como deveria ser o procedimento. Ele me chamou de mal educada, disse que eu não tinha educação e nos acusou de querer invadir a delegacia. Ele quis constranger a equipe", afirma a profissional.
Ao JC, a repórter disse ter recebido apoio nas redes de outros colegas policiais após a repercussão das imagens. "A atitude deles foi uma falta de respeito com o senhor que estava comigo sendo entrevistado. Me senti constrangida, nunca fui tratada em delegacia assim. Isso tudo foi uma falta de respeito com a sociedade", finalizou Suelen.
O Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco (SINJOPE) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) repudiaram o ocorrido na delegacia do Espinheiro. "O Sinjope e a FENAJ acreditam sempre no bom jornalismo, aquele que exerce sua função social de ajudar as pessoas e não aceitará de maneira alguma que nenhum profissional seja impedido de realizar o seu trabalho da forma como aconteceu, hoje, no Recife", declararam os órgãos em nota.
Em nota, a Polícia Civil informou que o comportamento da equipe da delegacia do Espinheiro, será apurado. O Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco (SINPOL-PE) disse que os servidores Policiais Civis devem prezar pela orientação de sempre prezar pelo bom atendimento ao público, à PM e à imprensa. A atitude é descrita pelo órgão como “um dos pilares da Operação Polícia Cidadã”.
O SINPOL-PE também justificou a ação devido às condições de atuação dos profissionais da segurança pública. “Não sabemos as razões que ensejaram a atitude dos colegas… Sabemos do nível de estresse que a própria função policial exige, e que o quadro piora dentro de uma realidade com baixo efetivo, baixíssimos salários, condições precárias de trabalho e falta de respeito funcional”, declarou.
A Associação dos Delegados de Pernambuco (Adeppe) definiu a ação como um “mal-entendido” e apresentou uma versão diferente da afirmada pela repórter. “O Delegado Francisco Diógenes já havia solicitado à equipe de TV que realizassem suas gravações da matéria na calçada fora das dependências da Delegacia. Os pedidos do Delegado não foram atendidos”, disse em nota.
Confira as notas na íntegra:
SINPOL
"O Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco - SINPOL-PE, tomou conhecimento do acontecido com a equipe de reportagem da TV Jornal na delegacia do Espinheiro. Não sabemos as razões que ensejaram a atitude dos colegas, porém a orientação do Sindicato é que os servidores Policiais Civis devem sempre prezar pelo bom atendimento ao público, à PM e à imprensa, pois isso é um dos pilares da nossa Operação Polícia Cidadã.
Sabemos do nível de estresse que a própria função policial exige, e que o quadro piora dentro de uma realidade com baixo efetivo, baixíssimos salários, condições precárias de trabalho e falta de respeito funcional.
Reforçamos o compromisso da categoria com o bom atendimento e bons serviços a TODA sociedade."
ADEPPE
"A Adeppe lamenta o mal-entendido, mas esclarece que o Delegado Francisco Diógenes já havia solicitado à equipe de TV que realizassem suas gravações da matéria na calçada fora das dependências da Delegacia. Os pedidos do Delegado não foram atendidos. A equipe da TV estava realizando suas gravações na porta, impedindo a circulação, de entrada e saída, dos usuários da Delegacia. Por fim, a Adeppe reforça seu compromisso com o livre exercício da imprensa."
Sinjope
"O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco (Sinjope) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) repudiam o fato ocorrido nesta quinta-feira (18), com a jornalista Suelen Brainer, durante uma reportagem ao vivo na TV Jornal, dentro do programa ‘Por Aqui’. O fato aconteceu na Delegacia do Espinheiro, no Recife, quando a repórter entrevistava um parente de um motorista de aplicativo que foi assassinado, em Vitória de Santo Antão.
Na hora da entrevista, a jornalista foi surpreendida com a ação descabida de policiais civis que saíram do prédio e interromperam o trabalho da profissional, com intimidações e ameaças, na tentativa de censurar o trabalho jornalístico.
Vale ressaltar que a entrevista não tinha nenhuma ligação com a delegacia acima mencionada.
O Sinjope e a FENAJ acreditam sempre no bom jornalismo, aquele que exerce sua função social de ajudar as pessoas e não aceitará de maneira alguma que nenhum profissional seja impedido de realizar o seu trabalho da forma como aconteceu, hoje, no Recife.
Cobramos providências e esclarecimentos da Secretaria de Defesa Social, SDS.
Solidariedade e apoio à repórter Suelen Brainer!"