Depois de sair o Mapa da Fome da ONU, em 2014, o Brasil voltou a fazer parte dessa vergonhosa geografia em 2021. A pandemia da covid-19 agravou o problema, mas o avanço do empobrecimento da população vinha acontecendo desde 2016. O novo coronavírus criou uma rede de solidariedade no País para ajudar as populações vulneráveis e as iniciativas continuam acontecendo. Estudante de Ciência da Computação do Centro de Inormática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Rafael Leão, criou uma ferramenta para tentar localizar as populações em situação de rua no Estado.
Intitulada Mapa da Fome, a ideia é indicar a localização de pessoas em situação de vulnerabilidade e apontar que tipo de alimentação elas estão precisando. A ferramenta funciona de forma colaborativa, com os próprios cidadãos que circulam pelas cidades, podendo contribuir com a geolocalização das pessoas em situação de insegurança alimentar.
A ideia do Mapa da Fome surgiu da inquietação de Rafael sobre como reduzir a fome por meio da mobilização social. “Quem está em situação de rua fica invisível na internet, e muitas vezes na rua também, mas quem tem celular e dados móveis conseguiria colocar essas pessoas no mapa. É uma contribuição mínima de baixo custo para um problema grande”, explica o estudante.
A proposta do Mapa da Fome foi inspirada no projeto “Onde Fui Roubado”, que atua de forma semelhante, mas com foco na segurança urbana. Para contribuir com o Mapa da Fome, não é necessário fazer nenhum cadastro, login ou baixar aplicativo, toda a plataforma funciona na web. O endereço pode ser inserido manualmente ou utilizando a localização atual do usuário.
Além disso, é preciso escolher entre as opções ‘Alimento não-perecível’, para quem tem condições de preparar a refeição, ‘Alimento pronto’, para quem necessita do alimento de forma imediata, e ainda ‘Recebo para doar’, voltada a instituições e voluntários que realizam distribuição de alimentos regularmente. A iniciativa ainda está em versão beta, aberta a contribuições nas áreas de design e marketing.
Em sua trajetória acadêmica no Centro de Informática, Rafael já teve a oportunidade de desenvolver outros projetos baseados na colaboração e na solidariedade, como a Bolha, plataforma destinada ao compartilhamento de material de estudo de períodos anteriores para serem reaproveitados por outros alunos. Desta vez, o anseio é alcançar um público mais amplo e causar um impacto social maior: “Espero contribuir com meu conhecimento e formação para uma transformação social positiva, e que minha ferramenta contribua ou seja alguns passos para reduzir a desigualdade social”, declara.
O Brasil tem hoje 19,1 milhões de pessoas passando fome, enquanto em 2018 este número era de 10,3 milhões. Além dos que sofrem com a fome (deixam de fazer alguma refeição por dia), outros vivem em situação de segurança alimentar, precisando substituir alimentos ou fazer outros 'malabarismos' para conseguir comer. Esse universo é de 116,8 milhões de pessoas, o equivalente a quase metade da população.