O tempo sempre foi o maior inimigo do folião pernambucano. Não importa a época do ano, o calendário parece querer contrariar. Quem aqui nasce, canta saudade antes, durante e depois do Carnaval. Isso porque os cinco dias teimam em passar ligeiro e demoram a chegar novamente, deixando apenas uma dolorosa despedida que é amargada por meses; mas a hora de voltar ao cotidiano sem cor ficava mais fácil com a certeza de que no ano seguinte os clarins iriam voltar a tocar e uma multidão de gente iria novamente tomar as ruas do interior à Região Metropolitana.
"SAUDADE TÃO GRANDE":
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Isso é mais que festa - é ode à alegria, à cultura, à tradição. É identidade e reafirmação de um povo que “extravasa a rotina difícil que vive no resto do ano.” Palavras de Amílcar Bezerra, conterrâneo que, por ter nascido em “berço de frevo”, escolheu dedicar a vida para estudar a festa popular. “Cria-se uma expectativa muito grande pelo Carnaval, e a saudade faz parte disso. É um momento em que as pessoas vivem experiências únicas de felicidade, confraternização, encontro e de afeto”, derrete-se o carnavalesco.
O ciclo, todavia, foi interrompido, e o inimigo mudou. Invisível e letal, um vírus fez o que ninguém conseguiu: silenciar Pernambuco por dois anos, em uma melancolia que “é de fazer chorar”. Mas se acalme, cidadão. Nem mesmo o tempo é capaz de apagar o Carnaval que continua a viver nas memórias de cada folião; e para eternizá-las, as histórias, as dores e a esperança por dias melhores serão contadas até a Quarta-Feira de Cinzas em uma série de reportagens neste JC, em uma tentativa de matar um pouco dessa “saudade tão grande.”