Com informações dos repórteres Julianna Oliveira e Emerson Barros, da TV Jornal
O pai da criança de 6 anos que foi morta com um tiro no peito nessa quarta-feira (30) na Comunidade Salinas, em Porto de Galinhas, Litoral Sul de Pernambuco, negou que a tragédia tenha acontecido durante uma troca de tiros entre a Polícia Militar de Pernambuco e suspeitos de tráfico de drogas — contrariando a versão dada pela corporação.
Segundo ele, que estava no momento em que Heloysa Gabrielly foi atingida, os policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) já “desceram atirando”, e que não viu outro grupo revidar.
“Minha menina brincava de bicicleta na rua, e eles já desceram atirando. A vizinha disse que ela foi atingida. Peguei minha menina no braço, que já estava virando os olhos, e disse [ao policial] ‘seu filho da p***, você matou minha filha. Me jogaram na viatura para socorre-la para o hospital, e diziam: ‘vocês não viram que eles atiraram?’, e eu dizia que não vi nada”, disse o homem, abalado.
O tio também estava no local e disse que, aparentemente, a polícia estava seguindo um homem que passava de moto, mas que ele não atirou contra o BOPE. “O menino não atirou em polícia nenhuma, ela que chegou atirando, amedrontando a população. A ação foi desnecessária. Naquela rua só tem criança brincando e pai e mãe assistindo televisão o dia todo”, afirmou.
Após ser atingida, a criança chegou a ser levada até a Unidade de Pronto Socorro (UPA) de Porto de Galinhas pelos próprios policiais, e depois foi transferida para a UPA de Ipojuca, onde morreu.
As entrevistas com os familiares, que não quiseram ser identificados, foram dadas à TV Jornal no Instituto Médico Legal (IML) do Recife, onde a família aguarda pela liberação do corpo. Heloysa será enterrada no Cemitério de Nossa Senhora do Ó, também no município do Ipojuca.
Os PMs que participaram da ocorrência que resultou na morte da menina chegaram ao Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), no Recife, com a viatura cravejada de balas. Eles entregaram três armas, que serão periciadas. Em depoimento, contaram ter atirado contra um suspeito que estaria em uma motocicleta, que estaria armado e tria efetuado disparos contra a polícia.
Protesto
Um dia após o caso, nesta quinta-feira (31), praticamente todas as lojas do Centro de Porto de Galinhas amanheceram fechadas. Até mesmo a programação social do evento nacional de procuradores fiscais que aconteceria no balneário foi cancelada, supostamente a pedido de traficantes locais.
A população da Comunidade Salinas protestou pedindo por justiça e menos truculência nas operações policiais na região, fechando os dois sentidos da via que dá acesso à praia. "Estou muito revoltada porque a polícia fez isso com uma criança. Ela chega atirando e não quer saber de nada. A gente só quer paz. Fora BOPE, a gente não aguenta mais", disse a moradora Ana Clara Maria Ferreira.
Há duas semanas, duas pessoas da vizinhança também foram mortas em ação da PMPE, que alegou ter revidado os disparos feitos inicialmente contra a guarnição. "A comunidade tem pessoas de bem. Tem mãe, tem pai, tem cidadãos, não só tem bandido, não", defendeu a comerciante Jaqueline Maria da Silva.
Investigações
Sobre o caso, a Polícia Civil de Pernambuco informou que está "investigando as circunstâncias da morte de uma criança, na comunidade de Salinas, em Porto de Galinhas, onde há uma operação da PMPE para combater associações criminosas com atuação no tráfico de drogas". Ainda, afirmou que é "prematuro, neste momento, fazer afirmativas."
Já a Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social (SDS) pontuou que, logo após tomar conhecimento do fato, determinou "a imediata averiguação". "O Departamento de Inspeção (DEPINSP) da Corregedoria, responsável pelo Grupo Tático de Ações Correcionais (GTAC), enviou equipes a Porto de Galinhas para colher as informações, para verificar se há indícios de autoria e de materialidade por conduta que represente infração disciplinar, visando a subsidiar um procedimento apuratório."