O acidente com um paramotor que resultou em uma morte nessa quinta-feira (4) na Praia de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, acende a necessidade de fazer um alerta: voos turísticos com esse tipo de aeronave são proibidos no Brasil, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
Ainda, mesmo os voos com paramotores realizados de forma regular não podem ser operados sobre “áreas densamente povoadas ou aglomeração de pessoas” - como praias urbanas, por exemplo. Assim, a prática só é autorizada em espaços de voo designados pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).
Mas, na prática, a regra não é obedecida, já que são amplamente ofertados pelo litoral de Pernambuco. Em uma busca rápida no Google, é possível encontrar opções que variam entre R$ 300 e R$ 400 em vários destinos turísticos, como Porto de Galinhas, em Ipojuca, e em Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guararapes.
O aumento da procura pelo passeio, que acontece principalmente no período do verão, preocupa o presidente da Associação para o Desenvolvimento Sustentável da Praia dos Carneiros (Adesc), Danilo Oliveira, do município de Tamandaré.
“No final do ano passado, havia uma pessoa fazendo o voo de paramotor. Hoje já têm quatro, todas decolando da praia, voando por cima das pessoas e dos bancos de areia cheios de barcos. Gera perigo para ele, para quem está voando com ele e para quem está embaixo”, afirmou.
MPF INVESTIGA CASOS
A Adesc denunciou a prática formalmente à Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), por ser uma área de proteção ambiental, e ao Ministério Público Federal (MPF), que abriu procedimento em 2023 para investigar o caso.
À época o MPF, informou ao JC que “instaurou procedimento administrativo para apurar notícia de possível ocorrência do crime tipificado no Artigo 132, do Código Penal Brasileiro (CPB)” por “suposta atividade clandestina de parapente/paramotor que decola de maneira irregular e comercial na Praia de Carneiros, Tamandaré-PE”.
Isso aconteceu após abril de 2023, quando uma tragédia semelhante aconteceu na Praia do Sossego, no Litoral Norte. Pai e filho caíram de uma altura considerável do paramotor, provocando a morte do filho. “É um problema que está crescendo. Sabemos que essas pessoas estão utilizando isso em vários pontos do litoral”, disse Danilo.
O JC entrou em contato com o MPF para ter uma atualização do procedimento, mas não teve resposta. O espaço segue aberto.
ENTENDA O CASO
O acidente dessa quinta-feira (4) aconteceu na Av. Beira Mar, na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. Duas pessoas estavam no paramotor: o instrutor do voo, Gleison José de Lima, de 48 anos, e a professora Edjane Maria da Silva, de 50 anos. Ele ficou ferido, mas não corre risco de vida. Já ela, que foi socorrida até o Hospital da Restauração, na área central do Recife, faleceu na manhã seguinte.
Esse era o segundo vôo de paramotor feito pela professora. Três dias atrás, ela mesmo filmou a visão que tinha lá alto. Gostou tanto que decidiu refazer o passeio. Foi quando o acidente aconteceu. No local, ainda ficaram alguns pedaços da élice do motor e da corda.
Por nota, a família de Gleison explica que ele estava há 6 anos no ramo e que contabilizava mais de 2 mil voos no currículo, sem histórico de acidentes, credenciado pela Anac e pela Associação Brasileira de Paramotor (ABPM). Os parentes explicaram que o acidente foi provocado por uma linha de cerol que danificou o equipamento. Segundo os parentes, está abalado psicologicamente e sem condições de dar entrevista. "O piloto e sua família se solideraliza com a família da outra vítima. E lamenta muito pelo fato ocorrido", disse.