Nesta sexta-feira (24) o ministro da Justiça, Sergio Moro anunciou sua saída do governo Jair Bolsonaro após uma série de embates com o chefe.
O, agora, ex-ministro havia chegado à pasta após ficar conhecido nacionalmente por ser o juiz responsável pelos processos da Operação Lava Jato na primeira instância, chegando a condenar nomes como Luiz Inácio Lula da Silva e Eduardo Cunha.
Sergio Fernando Moro nasceu em Maringá, no Paraná, em 1972. Filho do professor de Geografia, Dalton Áureo Moro e da professora de português, Odete Moro, que viveram juntos por quase quarenta anos até a morte de Dalton, em 2005.
Ele prestou vestibular e entrou no curso de Direito da Universidade Estadual de Maringá (UEM), concluindo o curso em 1995. Posteriormente, concluiu o mestrado e o doutorado na Universidade Federal do Paraná.
Em 1996, recém-formado, com 24 anos, foi aprovado no concurso para juiz. Seu destino foi a sede da Justiça Federal na cidade de Curitiba. Na vara previdenciária, chegou a ser conhecido como o “juiz dos velhinhos”, por sua tendência a julgar a favor deles e contra o INSS.
Em 1998, Sérgio Moro foi selecionado em um concurso da Associação dos Juízes Federais do Brasil para fazer um curso de questões constitucionais - o Programa de Instrução para Advogados da Harvard Law School, nos Estados Unidos.
E cinco anos depois, em 2003, ele assumiu a Primeira Vara especializada em crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro, em Curitiba. A criação da vara respondia a uma demanda crescente, sobretudo no Paraná, de processos de lavagem de dinheiro, entre eles o caso das contas CC5, que analisava remessas ilícitas de dinheiro para o exterior, que foi a sua primeira grande experiência com o crime de colarinho branco.
Em 2010, outro processo investigado por Moro foi a Operação Banestado – escândalo de evasão de bilhões de reais do Banco do Estado do Paraná na década de 1990.
No caso do Escândalo do Mensalão, por sua especialização em crimes financeiros e no combate à lavagem de dinheiro, Sergio Moro foi convidado pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber para ser juiz instrutor do Supremo. Ele passou um ano assessorando a ministra.
Moro ganhou notoriedade em sua atuação na Lava Jato. Comandando a 13º Vara Federal de Curitiba, o magistrado sentenciou 46 processos, que condenaram 140 pessoas por crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Entre os políticos condenados estão o deputado cassado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB). E o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A prisão de Lula, inclusive, deu a Moro o status de "herói" para os adeptos do antipetismo. Doleiros, ex-diretores da Petrobras e empresários ligados a grandes empreiteiras do país também já foram condenados por Moro.
Em abril de 2016, Sérgio Moro foi eleito “uma das cem personalidades mais influentes do mundo” pela revista americana Time, onde aparece na mesma categoria de líderes internacionais. E em 2018, recebeu o título de Doctor of Laws, honoris causa, pela University of Notre Dame du Lac, South Bend, Indiana.
Sergio Moro aceitou ainda em 2018 o convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para chefiar o Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Após o encontro, Moro divulgou nota dizendo que aceitou "honrado" o convite e que aceitava o cargo com "certo pesar" pois terá que abandonar a carreira de juiz após 22 anos de magistratura.
De lá para cá, ele contabilizou derrotas em embates com o presidente Bolsonaro, mas comemorou queda nos indicadores de criminalidade no País.
Em junho de 2019, o site The Intercept Brasil divulgou um diálogo onde Serio Moro colaborando e planejando os rumos da Operação Lava Jato com o procurador Deltan Dallagnol.
Em uma das mensagens, Moro sugeriu que o Ministério Público Federal alterasse as ordens da Operação e fornecesse uma série de conselhos e pistas à Dallagnol.
O vazamento acendeu rumores de possíveis anulações de condenações porque, segundo o Código de Processo Penal brasileiro, um juiz não pode aconselhar nem interferir nas partes do processo.
Moro anunciou sua demissão do governo federal após a decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar a diretoria-geral da Polícia Federal (PF).
O comando da PF estava sendo ocupado por Maurício Valeixo, amigo e braço direito de Moro. Mas ele foi "exonerado a pedido", nesta manhã.
Desde 2019, Bolsonaro já ameaçava trocar o comando da PF para, assim, ter controle maior sobre a atuação da polícia.