Nelson Teich deixa governadores do Nordeste sem respostas sobre ações de enfrentamento a covid-19

Oito dias após o último encontro, o ministro da Saúde não trouxe respostas concretas as demandas apresentadas pelos governadores do Nordeste
Mirella Araújo
Publicado em 29/04/2020 às 20:10
Paulo Câmara assinou decreto que foi publicado no Diário Oficial. Foto: HEUDES REGIS/ SEI


Mais pedidos do que respostas. A segunda reunião entre os governadores do Nordeste e o ministro da Saúde, Nelson Teich, realizada nesta quarta-feira (29), por videoconferência, durou pouco mais que 1h30 e não trouxe anúncios precisos. Após o primeiro contato com o gestor da pasta de Saúde, no dia 20 de abril, cada governador encaminhou um relatório com um diagnóstico da situação de cada estado diante da pandemia do novo coronavírus (covid-19).

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No encontro, há informações dos estados, de que o ministro da Saúde apenas sinalizou que os entes da região que estejam apresentando mais dificuldades em relação ao enfrentamento da covid-19, serão priorizados pelo governo federal. Há um planejamento da pasta em distribuir cerca de 180 respiradores por semana entre os 27 estados da federação, mas ainda não há um detalhamento sobre essa operação.

O ministro Nelson Teich também teria informado, que o corpo técnico do Ministério ficará em contato com os secretários estaduais de Saúde para avaliarem as demandas da região, mas não há uma nova data de retorno ao governadores do Nordeste. A reportagem entrou em contato o Ministério da Saúde, para obter mais informações sobre as medidas que serão tomadas em resposta às demandas dos gestores. A assessoria do órgão, afirmou que não tem informações a respeito do encontro.

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O governador Paulo Câmara (PSB) já havia apontado ao ministro, a necessidade de abertura de novos leitos de UTI, compra de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) - como máscaras e aventais -, para os profissionais de saúde, e testes para detectar pessoas infectadas pela doença. “Nós tivemos mais uma reunião dos governadores do Nordeste com o ministro da Saúde, Nelson Teich. Infelizmente, ainda sem um horizonte de respostas às demandas apresentadas por Pernambuco, e outros estados da região, principalmente com a chegada de novos respiradores e os EPis. Esperamos, que o ministério possa reforçar de forma planejada e efetiva, as ações que estamos realizando no Estado de Pernambuco”, declarou o gestor em comunicado disponibilizado nas redes sociais.

 

 

Presidente do Consórcio Nordeste, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), corroborou do sentimento de frustração em relação a falta de respostas por parte do Ministério da Saúde. “Não foi sinalizado nada de concreto, no curto prazo, de equipamentos, insumos e o principal item que hoje os governadores e prefeitos precisam, que são os respiradores. O sentimento geral é de frustração pela reunião. Nós esperamos conseguir reverter essa situação”, declarou Costa.

Ainda segundo o governador da Bahia, o próprio ministro da Saúde pediu o contato das empresas internacionais, onde os estado adquiriram os respiradores. “Nós então pedimos que o Ministério possa agilizar a liberação e chegada destes equipamentos, quanto para comprar novos equipamentos para que o Brasil exerça sua força enquanto nação”, completou.

“O ministério garantiu a habilitação de leitos públicos de UTI já em funcionamento e uma sistemática de distribuição de EPIs e respiradores para os estados. O momento deve ser da união de todos”, destacou o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), através do seu perfil oficial no Twitter.

 

Ele também reforçou com o ministro, a urgência no envio de respiradores e equipamentos para a abertura de novos leitos de UTI. “A nossa luta tem sido em ampliar a rede de saúde e abrir os leitos, já que muitos pacientes têm chegado em estado avançado e necessitam de UTI, principalmente com respirador. Essa questão dos respiradores têm sido a maior angustia dos governadores. Fizemos uma compra grande de respiradores de fora do Brasil (700 unidades) e infelizmente ainda não conseguimos trazer nenhum. Estamos dependendo muito desse apoio por parte do Ministério”, declarou.

Camilo Santana falou sobre a necessidade do apoio com a contratação de pessoal e a reavaliação na distribuição dos recursos enviado aos estados. “Nessas contratações que o ministério está realizando solicito a urgência de disponibilizar o pessoal já contratado para alocação em Fortaleza e no estado do Ceará. Também quero lembrar um ponto que coloquei no relatório, que é a reavaliação dos recursos que estão sendo enviados para o enfrentamento da pandemia”, ressaltou.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), reforçou a necessidade de ampliação de leitos por parte da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH). “O Hospital Universitário da UFMA tem grande importância em nosso estado, é um complexo hospitalar que pode ajudar muito e tem ajudado muito pouco nas últimas semanas. Nós já temos 2.800 casos no Maranhão. Pedimos que a EBSERH providencie o pleno funcionamento ou disponibilize a estrutura para o Governo do Estado para utilizarmos e montarmos leitos”, solicitou o governador.

Também foi pedido ao Ministério da Saúde, que complementasse os 20 leitos de UTI, que o Maranhão recebeu essa semana. Segundo Flávio Dino, faltaram os respiradores na entrega. “Tivemos compromisso do Ministério para recebimento de 20 leitos de UTI. Nós recebemos a maior parte dos equipamentos, menos os respiradores relativos aos 20 kits recebidos. Solicitamos que dos 20 kits já entregues sejam completados com entrega dos respiradores”, requisitou o gestor.

RESPOSTA A BOLSONARO

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, rebateu as críticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que voltou a cupabilizar os governadores pelo aumento no número de mortes pela covid-19. De acordo com o governador, os comentários do presidente da República são "irresponsáveis" e faltam com respeito às pessoas e à vida".

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"Temos defendido, sempre, a união de esforços para superação de uma ameaça que só tem crescido no país. Estamos na luta para salvar vidas, em busca de soluções, não de conflitos.
No Brasil, governantes locais têm feito o mesmo que líderes de diversos países buscam cumprir: prevenção, proteção e cuidados, ampliação de leitos, compra de equipamentos, contratação de profissionais, adoção do isolamento social", declarou Paulo Câmara. 

"O presidente da República, com seus comentários irresponsáveis, não desrespeita apenas as orientações da ciência, ele falta com respeito às pessoas e à vida, ignorando a realidade cruel que se impõe.
Precisamos seguir resistindo, no combate ao vírus e à total insensibilidade de quem se isenta de responsabilidades e, no lugar que ocupa, acaba por expor milhares de pessoas ao risco. O caminho certo vai nos levar a superar este desafio", finaliza o gestor. 

Nesta terça-feira (28), o presidente Jair Bolsonaro se mostrou irritado ao ser questionado sobre o fato de o Brasil ter ultrapassado a China em termos de números de mortes causada pelo novo coronavírus. Bolsonaro respondeu "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”. No dia seguinte, após repercussão negativa, o presidente disse que as mortes eram culpa dos governadores e prefeitos.

 

BRIGADA DE EMERGÊNCIA

O Consórcio Nordeste, que integra os nove estados da região, criou a Brigada Emergencial de Saúde com objetivo de ampliar o contingente de profissionais de saúde no atendimento à população diante da pandemia provocada pela covid-19. Dessa forma, segundo o decreto publicado no Diário Oficial do Estado da Bahia, nesta terça-feira (28), a Brigada SUS|NE será formada por profissionais de saúde, estudantes de graduação, médicos brasileiros formados no exterior e voluntáros que atuarão na promoção, na prevenção e na assistência à saúde à população afetada pela pandemia. 

O decreto foi assinado pelo presidente do Consórcio Nordeste, o governador da Bahia Rui Costa, que enfatiza na consideração do documento, "a gravidade e o caráter absolutamente extraordinário da situação, impondo a adoção de medidas extremas de prevenção, o controle e a contenção de riscos, danos e agravos à saúde pública, a fim de evitar a disseminação da doença, com redução da curva de contágio e para a estruturação do Sistema de Saúde para o atendimento da população". 

 

 

 

 

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