Mesmo com divergências entre os projetos nacionais do PSB e do PT no que diz respeito à tática a ser adotada contra o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em Pernambuco, ao menos por enquanto, essa dinâmica não tem interferido na atual aliança entre as duas siglas, segundo petistas ouvidos pelo JC. O PSB divulgou, na última semana, uma resolução em defesa da formação de uma “amplíssima” frente em defesa da democracia em prol do impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas o ex-presidente Lula, principal liderança do PT, tem se posicionado contra esse movimento.
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“Tem muita gente querendo compor essa frente ampla para derrotar Bolsonaro apenas, mais é a favor das políticas neoliberais desse governo, da destruição das estruturas públicas, dos retrocessos sociais e ambientais. O presidente não está contra os partidos dos campo de esquerda. Em tampouco do PSB, muito pelo contrário o PT tem respeito é história de lutas com o PSB”, defendeu o presidente do PT-PE e deputado estadual Doriel Barros. Vice-presidente do PSB, o governador Paulo Câmara participou da reunião virtual que teve como fruto o posicionamento dos socialistas a favor da frente ampla.
Doriel alega que a relação de diálogo entre os dois partidos em Pernambuco é “mais amadurecida” do que em outros estados. “Ganhamos juntos o governo do estado, estamos trabalhando para melhorar a vida dos pernambucanos(as). Tem eleições municipais em todo o estado, não somente em Recife. Portanto continuamos conversando com o PSB, pois acredito que queremos a mesma coisa. Derrotar Bolsonaro e fortalecer e uma agenda que permita o nosso povo voltar a sonhar novamente”, afirmou o petista.
A deputada estadual Teresa Leitão (PT) acredita que os partidos tendem a não contaminar as alianças regionais com esses desencontros no âmbito nacional. “Desde que ela não tenha divergências de estratégia, está com uma divergência de tática. Eles conseguem separar isso das questões municipais eleitorais, sobretudo nesse ano que é uma eleição municipal, claro que a eleição vai ser nacionalizada e as contradições tem um peso, mas na aliança com o governo do PSB aqui acredito que não vai influenciar”, afirmou a parlamentar.
Apesar disso, a pré-candidatura da deputada federal Marília Arraes (PT) para a Prefeitura do Recife segue posta, referendada pela direção nacional do PT, o que implicaria em um afastamento entre os partidos nas eleições. Em paralelo, o diretório municipal do PT permanece defendendo a manutenção da aliança com o PSB.
No fim de maio houve mais um capítulo no embate entre as duas correntes, com a deflagração de uma operação da Polícia Federal que investiga compra de respiradores para o combate ao novo coronavírus (covid-19) e cumpriu mandados de busca e apreensão na Prefeitura do Recife. Marília apoiou publicamente a operação e acusou a gestão do prefeito Geraldo Julio de “falta de transparência”, enquanto o diretório municipal divulgou nota rechaçando o posicionamento da deputada, que classificou como “posicionamento pessoal”.
O PT mantém cargos no governo estadual e na Prefeitura do Recife. Apenas Odacy Amorim, que presidia o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), deixou o cargo devido ao prazo de desincompatibilização para concorrer à Prefeitura de Petrolina.
Presidente do PT do Recife, Cirilo Mota acredita que a relação atual de distanciamento entre as pautas do PT e do PSB nacionalmente pode ganhar outros contornos a longo prazo. “Não nos preocupa essa posição do PSB porque a gente entende que está no campo do diálogo, de construir essa agenda em comum da frente de esquerda. Uma posição hoje não quer dizer que está nos afastando. Já tivemos posições que são vistas de forma de não unidade, mas o PT depois se aproximar, não vai ser uma fala que vai afastar essa possibilidade dessa frente de esquerda”, afirmou Cirilo.
Cirilo pondera que uma reorientação na unidade dos partidos de esquerda só seria possível com uma pauta comum além do “Fora Bolsonaro”. Ele segue a mesma linha do ex-presidente Lula, crítico a uma frente ampla sem plano de governo. “Muita gente que grita o fora bolsonaro mas não quer mudar a política econômica, social. Eu vejo o PSB muito próximo a gente, como o PCdoB, PSOL, PDT, mas acho que a construção não vai se dar de uma hora para a outra”, afirmou.
Está marcado para o dia 28 de junho uma reunião do PT do Recife para deliberar sobre a eleição municipal. "A gente acredita que realizar o encontro (virtual) é uma decisão mais correta no momento da conjuntura, para que a gente construa o diálogo, para que as decisões sejam acatadas tanto pela unidade local e como nacional. Nessa data sai a deliberação de qual é a posição da tática do PT nas eleições de 2020, é o dia que a gente decide a política adotada para o partido", afirmou Cirilo Mota.
Em abril, a Comissão Executiva Nacional do PT determinou que, em municípios com mais de 100 mil eleitores e com propaganda eleitoral de rádio e TV, as decisões das táticas eleitorais pelos diretórios municipais do partido devem passar pelo crivo da própria Executiva.
Aliada de Marília Arraes, Teresa Leitão afirma que o martelo já foi batido "e a ponta do prego já está virada". "Porque foi definido na instância superior do PT (candidatura de Marília). O problema é de outra natureza, de como vai se harmonizar o PT, o programa (de governo). Mas sobre a candidatura, foi tomada a decisão desde abril, agora tem um setor que não aceita, está no seu direito", afirmou a deputada.
Marília Arraes foi procurada pelo JC, mas não retornou o contato até a última atualização desta matéria.