Em entrevista concedida nesta quarta-feira (19), o ex-presidente Lula (PT) ressaltou que a pré-candidata à Prefeitura do Recife Marília Arraes (PT) tem grande potencial para liderar o município, e que o PT precisa do seu espaço político na cidade. Lula também comentou que a sua sua relação com o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) era 'de pai para filho'.
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Nacionalmente, o PT e o PSB têm uma boa relação. No entanto, no Recife, há divergências, prova disso é que a deputada federal e pré-candidata à Prefeitura da cidade, Marília Arraes (PT), é prima do também deputado federal e candidato ao pleito pelo PSB, João Campos, mas faz integra a esquerda oposicionista ao governo na cidade. Com isso, o ex-presidente lembrou que no segundo turno das eleições de 2014, o PSB de Pernambuco não quis apoiar a candidatura da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), e apoiou o tucano Aécio Neves.
"Foi muito desagradável. Está chegando uma situação em que o PT precisa ter o seu espaço político. Marília não é uma candidata fraca, é uma candidata com potencial extraordinário. Ela teve três mandatos de vereadora do Recife, é deputada federal, tem qualidade de defender a coisa feminina nesse mundo que está ficando cada vez mais evidente a necessidade da participação da mulher. Ela não pode ser tratada como se fosse uma coisa inferior, nem o PT pode ser tratado como se fosse uma coisa inferior. O partido decidiu que era importante o PT ter uma candidata a prefeita e indicou Marília. O PSB indicou João Campos, que se faça a disputa", disse Lula, em entrevista na noite desta quarta ao jornalista Edmar Lyra.
"Cada um defenda o seu programa, suas ideias, quando chegar a votação, se um de nós for para o segundo turno, um apoia o outro, é assim que se faz. Não pode evitar que o candidato tenha candidatura majoritária. João tem direito a ser candidato, Marília tem direito a ser candidata como os outros também têm direito. Foi por isso que criamos dois turnos nas eleições, para permitir que no primeiro turno todos os partidos pudessem mostrar seu programa", enfatizou.
A pré-candidata foi procurada pelo JC e afirmou que não se pronunciará sobre cenários políticos. "Minha preocupação é apresentar as propostas para a cidade. Essa questão política já ficou para trás". Mas em entrevista ao Resenha Política na terça-feira (18), ela afirmou categoricamente que não é chapa branca e fará oposição ao PSB durante a campanha, mas garantiu que não usará de "baixaria" para atingir os adversários". Na ocasião, a deputada lembrou do seu rompimento com o PSB e falou ter se "tornado uma das políticas mais perseguidas (no Estado)" por isso.
Lula recordou que na disputa de 1989, o Partido dos Trabalhadores o lançou para disputar com "monstros sagrados" e "a minha chance era nenhuma", mas ainda assim conseguiu chegar no segunto turno. "O PT é um partido muito grande, as pessoas precisam tratar o PT com mais respeito. Em 2018 não ganhamos pela maracutaia que foi feita contra nós, O PT está na disputa, vai respeitar os adversários e vai tratar o PSB com o respeito que merece. Mas não pode tentar que o PT prescinda com candidatura própria e o PSB não tenha candidatura própria. Se os dois acham que devem, que saiam, disputem, e discutam o seu programa, mas que se respeitem. Vai ser uma bela campanha".
Questionado sobre um possível segundo turno entre Marília Arraes e João Campos, Lula brincou "tem que reunir a família". "É bom para a democracia quando dois partidos de esquerda vão para o segundo turno, é uma evolução política, acho extraordinário. Não vejo problema nenhum, todo mundo tem o direito de ser candidato e Marília está convencida de que é a melhor do Recife, os outros também estão convencidos, vão para a rua, vai ter debate, televisão, campanha, internet, convençam as pessoas. E por favor, quem ganhar, que governe pensando no povo. Acho que Marília pode ser prefeita", pediu.
Lula salientou que existe a possibilidade de vir a Recife para a campanha de Marília Arraes, mas só se a situação do coronavírus estiver mais controlada e puder ir à rua. "Pode ficar certo que eu vou, com todo o respeito que tenho ao PSB, irei à rua fazer campanha para Marília".
O ex-presidente ressaltou que, no momento, a sua obsessão é "recuperar a cidadania do povo brasileiro". "O que aconteceu comigo foi pouco diante do que está acontecendo com o povo brasileiro, que tem que ter trabalho, renda, acesso à educação, cultura, o direito de ser feliz e andar de avião. Isso é desenvolvimento, eu sonho com isso, que é possível a gente construir um novo Brasil e fazer o Nordeste ser igual a qualquer outra região desenvolvida nesse País. O Nordeste não nasceu para ser pobre, miserável. Nasceu para ser tratado com respeito", finalizou, e disse esperar estar logo em Pernambuco.
O petista também falou que a sua relação com o ex-governador Eduardo Campos (PSB) era de "pai para filho" e que tratava todos os governadores com muita "decência". "Eu conhecia o querido e saudoso Miguel Arraes, único brasileiro que voltou do exílio e eu fui a Pernambuco para visitar, pela estima, pelo carinho. Eduardo Campos foi governador e é importante lembrar que aconteceu um fato inusitado em Pernambuco em 2006, Humberto era nosso candidato e Eduardo também, acertei que os dois seriam candidatos e subiríamos juntos no palanque. Humberto falava primeiro, Eduardo depois. Falei que estaríamos juntos no segundo turno e foi o que aconteceu. Foi um evento de eleição. Sinceramente, espero que logo logo a gente tenha no Brasil muitos governadores da qualidade de Eduardo, espero que o PT se prepare para ter candidatos a governador em Pernambuco. Não sei o que vai acontecer em 2022, mas fico sempre esperançoso", disse.