O município de Cumaru, no Agreste de Pernambuco, é a cidade do Brasil com a maior diferença entre o número absoluto de eleitores e de habitantes. O município tem 15.335 eleitores para 10.192 moradores, uma diferença de 5.143 pessoas. É o que dizem os dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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O comerciante Givaldo Gomes, 58 anos, nasceu na cidade de Cumaru, mas há mais de 20 anos mora na capital pernambucana, para onde veio em busca de emprego. Ele, no entanto, não perdeu o vínculo com sua terra natal e anualmente volta ao município para rever os familiares e, a cada dois anos, escolher novos governantes. “Nunca deixei de votar, mesmo morando no Recife. Minha família vive lá, e levo isso em consideração para poder fazer a melhor escolha. Afinal, quem sente na pele os problemas de Cumaru são eles”, conta ele, lamentando que, em virtude da pandemia do novo coronavírus, não poderá viajar para votar em 15 de novembro, data do primeiro turno das eleições.
Essa realidade não é exclusiva do cumaruense Givaldo. Segundo o chefe do cartório da 91ª Zona Eleitoral, que abrange Cumaru e Passira, Paulo Lima, a diferença acontece por causa do fato de pessoas que moram em cidades maiores da região para trabalhar ou estudar, mas voltam para seus municípios de origem para votar.
“O censo do IBGE acontece a cada dez anos e vai usando uma projeção estimada da população, que pode ficar defasada em relação à realidade”, afirma Paulo, lembrando que para ser eleitor em um determinado município não é necessário morar lá. “A pessoa pode ter família, ou um terreno, casa, fazenda na cidade, mas viver, por exemplo, no Recife. Isso não é impedimento para ser eleitor”, explica.
Os dados da estimativa populacional são calculados através da Taxa de Crescimento Geométrico (TCG), obtido a partir da Projeção de população dos estados. Para a fórmula, o IBGE leva em conta as taxas de fecundidade, mortalidade e migração. Esses números são acrescidos da tendência de crescimento populacional, verificada pelos censos demográficos - feitos a cada 10 anos. Por esse cálculo, atualmente, a densidade demográfica de Cumaru, que tem 292,231 km² de extensão, é 58,8 habitantes por quilômetro quadrado. Seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita chega a R$ 8.445,18.
Governada por Mariana Medeiros (PP), a cidade é a 116ª mais populosa entre as 185 existentes em Pernambuco. A gestora, porém, contesta os dados. Para ela, o problema começou com a realização de um censo, em 2000, que apontou uma quantidade muito maior de moradores do que "existiria na realidade, na época".
O levantamento feito no ano 2000 mostrou que a cidade tinha 27.489 pessoas. Dez anos depois, no entanto, censo apresentou uma queda populacional. Em 2010, segundo IBGE, Cumaru, tinha 17.103 habitantes. “Menos de 16 mil pessoas não temos. Só no sistema de saúde nós temos 15.880 pessoas cadastradas”, alega.
A faixa etária predominante de eleitores aptos a votar em Cumaru fica entre 45 a 59 anos. Isso representa cerca de 22,2% do percentual total. Em seguida, representando 21,4% do eleitorado estão os eleitores com faixa entre 35 a 44 anos e em terceiro lugar com 19,3% do eleitorado estão os eleitores com idade entre 25 a 34 anos.
O município não é a único em Pernambuco com a disparidade. Além dela, outros três estão na lista. Segundo o TSE, Brejinho (com 7.488 habitantes e 7.722 eleitores), Calumbi (com 5.747 habitantes e 6.154 eleitores), ambas no Sertão, e Sairé (com 9.764 pessoas e 10.683 aptas a votar), no Agreste, completam o rol de cidades onde o número de moradores supera o de eleitores.
A cidade com a maior diferença proporcional é Severiano Melo (RN), que tem 6.482 eleitores registrados no TSE e 2.088 habitantes, segundo estimativa do IBGE. O número de pessoas aptas a votar no município é mais de três vezes maior do que a quantidade de habitantes.
Segundo a Justiça Eleitoral, o número de cidades que possuem mais eleitores que habitantes cresceu 60% desde as últimas eleições, em 2018. Atualmente, são 493 municípios brasileiros com essa situação. Há dois anos, eram 308.