Paulo Câmara aponta influência ideológica em decisão de Bolsonaro sobre compra de vacinas chinesas

Ministério da Saúde e o presidente anunciaram que não há intenção em comprar o imunizante produzido na China
JC
Publicado em 21/10/2020 às 12:26
Paulo Câmara e Jair Bolsonaro Foto: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM


O governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), posicionou-se por meio de suas redes sociais após o Ministério da Saúde anunciar que "não há intenção de compra de vacinas chinesas" e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmar que o imunizante produzido na China "não será comprado" pelo governo brasileiro.

“A influência de qualquer ideologia em temas fundamentais, como a saúde, só prejudica a população. Defendemos que todas as vacinas consideradas seguras, avalizadas pelas autoridades, sejam disponibilizadas ao povo brasileiro. É preciso dar este passo na superação da Covid-19”.

Em reunião com governadores sobre a vacina, o presidente do Consórcio Nordeste, Wellington Dias, defendeu que a saúde do povo vinha em primeiro lugar.

"O compromisso assumido ontem foi de comprar vacina produzida no Brasil, da FIOCRUZ. A saúde do povo em primeiro lugar! E neste caso a saída da crise econômica que permite recuperar empregos e trabalhar solução para a calamidade social, é a vacina. Compromisso do Ministro Pazuello que selou entendimento com todos os Estados e Municípios, foi claro, comprar da Fiocruz e Butantã."

O anúncio oficial sobre a recusa das vacinas foi feito pelo secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, nesta quarta-feira (21). Ele afirmou que "não há intenção de compra de vacinas chinesas" contra a Covid-19. Nessa terça-feira, no entanto, a própria pasta anunciou uma negociação para adquirir 46 milhões de doses da CoronaVac, imunizante desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac contra a Covid-19.

"Não houve qualquer compromisso com o governo do estado de São Paulo ou seu governador no sentido de aquisição de vacinas contra Covid-19", disse Franco. "Tratou-se de um protocolo de intenção entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan, sem caráter vinculante", afirmou.

"Mais uma iniciativa para tentar proporcionar vacina segura e eficaz para a nossa população, neste caso com uma vacina brasileira, caso fiquem disponíveis antes das outras possibilidades. Não há intenção de compra de vacinas chinesas", acrescentou o secretário.

No entanto, o Ministério da Saúde divulgou uma nota na terça-feira (20) que previa a edição de uma medida provisória para disponibilizar R$ 1,9 bilhão para a aquisição: "Além das vacinas já adquiridas previamente (AtraZeneca e Covax), o Governo Federal assinou protocolo de intenções para a compra de 46 milhões de doses da Butantan-Sinovac, após negociações com o Instituto Butantan. Para tanto, será editada uma nova Medida Provisória para disponibilizar crédito orçamentário de R$ 1,9 bilhão. O Ministério da Saúde já havia anunciado, também, o investimento de R$80 milhões para ampliação da estrutura do Butantan – o que auxiliará na produção da vacina", diz o texto.

Declaração de Bolsonaro

Ainda nesta quarta, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já tinha afirmado que a vacina contra o novo coronavírus produzida na China "não será comprada" pelo governo brasileiro. A mensagem foi publicada no Facebook, em resposta a um comentário crítico ao anúncio do Ministério da Saúde de que tem a intenção de adquirir 46 milhões de doses da Coronavac, vacina da farmacêutica chinesa Sinovac que será produzida pelo Instituto Butantan, de São Paulo.
"Presidente, a China é uma ditadura, não compre essa vacina, por favor. Eu só tenho 17 anos e quero ter um futuro, mas sem interferência da Ditadura chinesa", comentou um usuário. O presidente respondeu: "NÃO SERÁ COMPRADA", em caixa alta.
>> Bolsonaro volta a dizer que vacina contra covid-19 não será obrigatória 
Outra usuária que disse para o presidente exonerar o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, "urgente" porque ele estaria sendo cabo eleitoral do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), Bolsonaro respondeu que "tudo será esclarecido hoje". "NÃO COMPRAREMOS A VACINA DA CHINA", voltou a dizer em caixa alta.
Na terça-feira, o Ministério da Saúde assinou um protocolo de intenções para adquirir 46 milhões de doses da Coronavac. O acordo foi fechado durante reunião do ministro Pazuello com governadores. "A vacina do Butantan será a vacina do Brasil", disse Pazuello, ao anunciar o acordo, depois de atritos com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ex-aliado.
A outro usuário que disse que Pazuello os traiu ao comprar a vacina chinesa e disse que o presidente "se enganou mais uma vez", Bolsonaro afirmou que "qualquer coisa publicada, sem qualquer comprovação, vira TRAIÇÃO".
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