A candidata a prefeita do Recife Delegada Patrícia (Podemos) viu seu percentual de intenções de voto diminuir ao mesmo tempo em que sua rejeição dobrou, segundo a quarta rodada da pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, divulgada na noite desta segunda-feira (9). Para especialistas ouvidos pelo Jornal do Commercio, a candidata sofreu com o impacto de publicações antigas nas redes sociais, nas quais chamou o Recife de Recífilis, e com a ausência de uma estrutura partidária que lhe desse mais força para rebater os adversários que exploraram essas publicações. O recente apoio que a delegada recebeu do presidente Jair Bolsonaro à sua campanha ainda não dá a certeza de crescimento à postulante, segundo os analistas.
Patrícia largou com 11% na primeira rodada da pesquisa e tinha uma das menores rejeições, 10%, mas era menos conhecida do eleitorado. A partir da segunda rodada, se observou crescimento da postulante, ela passou a ter 13% das intenções de voto. E na terceira rodada, Patrícia alcançou sua maior pontuação, foram 16%, disputando o segundo lugar com Mendonça Filho (DEM) e Marília Arraes (PT).
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Agora, na quarta rodada, a candidata teve uma queda de quatro pontos, saiu dos 16% para 12%, uma queda fora da margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos. No quesito rejeição, a candidata saiu dos 10% na primeira rodada para 14% na segunda, 20% na terceira e viu esse percentual dobrar, para 40%, na quarta rodada.
"Agora, se vê ela perdendo desempenho eleitoral em quase todos os segmentos depois de ela ser bombardeada pela esquerda e, também, por Mendonça Filho, por suas postagens. Então, ela aposta todas as fichas na declaração de apoio de Bolsonaro para tentar carrear o voto útil da direita. Se conseguir, ela pode encostar em Marília Arraes, mas não há certeza se ela vai ao segundo turno. Acusam ela de ser do Rio de Janeiro como algo negativo, lembram da fala do Recífilis, e no jogo político, se não quer ser atacado, não pode se apresentar nas eleições, pois prevalece quem tem os melhores recursos, dinheiro, assessores, militância, contato com lideranças para atacar com mais força e resistir às pancadas que os adversários lhe dão", afirma o cientista político e professor da Faculdade Damas Elton Gomes.
No meio da campanha, a Revista Época trouxe à tona publicações de Patrícia, ainda de 2011, chamando o Recife de Recífilis no Facebook. A candidata se pronunciou em seguida, disse que o assunto não interessa aos recifenses, que os adversários usam isso por falta do que falar de sua trajetória e que a fala era uma crítica, bem humorada, ao descaso com a saúde no Recife. Adversários da delegada utilizaram das postagens para criticá-la e o vereador Rinaldo Júnior, aliado de Joao Campos (PSB), usou as publicação como razão para pedir que seja retirado de Patrícia o título de cidadã do Recife, o projeto para a retirada tramita na Câmara do Recife e, mesmo entre os opositores, já é dado como certa a aprovação do texto.
"A campanha da Delegada Patrícia sofreu ataques de diversas outras campanhas e é muito importante para o candidato que está concorrendo na majoritária ter uma coligação forte e apoio financeiro proveniente dessa aliança igualmente forte, e isso, se comparado com os outros três principais candidatos, ela não tem. Houve certa incapacidade da delegada de responder às críticas que foram feitas pelos seus adversários, que colocaram ela em xeque para boa parte dos seus eleitores. Ela não conseguiu dar uma resposta à altura e nem houve um contra-ataque eficiente, coisas que fazem parte do jogo da política numa disputa eleitoral. Ela tinha uma taxa de rejeição muito baixa, depois a taxa de rejeição dela foi tomando dimensões inimagináveis se levarmos em consideração que ela era completamente desconhecida antes da campanha. Creio que ela não teve o cuidado de mitigar esses ataques com uma resposta, um pedido de desculpas, ela não soube tratar bem essa questão e só evidenciou os números atuais", avaliou Ernani Carvalho, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Intenção de voto
O deputado federal João Campos (PSB) segue liderando a disputa pela Prefeitura do Recife. De acordo os resultados da quarta rodada da pesquisa Ibope/JC/Rede Globo, o candidato socialista aparece com 33% das intenções de voto, oscilando dois pontos percentuais - dento da margem de erro - em relação ao levantamento do último dia 29 de outubro. Já na disputa pelo segundo lugar, o empate técnico permanece agora entre os candidatos Marília Arraes e Mendonça Filho. A candidata petista passou de 18% para 21% das intenções de voto e o democrata, de 13% para 17%. Já Delegada Patricia, como citado acima, oscilou quatro pontos percentuais para menos, indo de 16% para 12%, tecnicamente empatada com Mendonça.
Bolsonaro
No último sábado, um fato novo na eleição do Recife chamou a atenção. O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), decidiu apoiar a candidatura de Delegada Patrícia. Diante de vários candidatos que se colocam como bolsonaristas na capital pernambucana, o presidente disse ter ouvido de grupos de direita que a delegada seria a candidata com mais chances de vencer a esquerda na eleição. Assim, para os especialistas, o apoio do presidente foi a cartada final da delegada para tentar um segundo turno.
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Para Priscila Lapa, cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), o apoio de Bolsonaro pode acabar retirando votos da delegada. "A prova é que candidatos alinhados mais diretamente com ele não conseguiram sair de 1% no Recife. Tiveram oscilação baixa no percentual de intenção de votos", comentou. A professora ainda analisou os cenários de segundo turno e lembrou que, hoje, Patrícia perderia de qualquer um dos outros três candidatos melhores pontuados num eventual segundo turno, de acordo com a pesquisa. "A candidatura dela se centrou em uma única proposta: combate à corrupção e Decasp. Sem distinguir de forma mais clara outros temas e serviço para o eleitor. Acredito que faltou substância importante numa disputa municipal, que é a capacidade de resolução de problemas. Isso não fica claro, ela não tem um portfólio de serviços para mostrar, como Mendonça filho tem. Isso é fator importante numa eleição municipal", completou Priscila Lapa.
O professor Ernani também não enxerga grande mudança de cenário com o apoio do presidente. "Agora, ela trouxe o Bolsonaro para tentar mobilizar a sua campanha e eu acho que isso não vai ter efeito, porque a campanha é uma disputa muito local, pelo menos por enquanto. Pode ser que no segundo turno essa dimensão nacional surja com mais força", comentou.
Por outro lado, Elton Gomes questiona que, sem tempo de TV, sem recursos vultosos e sem partidos, o que a delegada teria a perder? "Bolsonaro ficou sem partido e não conseguiu influenciar as eleições municipais. Ele apostou as fichas na criação do Aliança pelo Brasil e não conseguiu registrar em tempo hábil e, agora, faz sua live apoiando alguns candidatos. O fato é que ele demorou a dar apoio a Celso Russomano, a Patrícia. E, ao mesmo tempo que o apoio é bem vindo, pois ela está nas cordas, mas ele é pesado, pois os apoios de nomes como Lula e Bolsonaro carregam em si uma grande rejeição. Marília, por exemplo, usa Lula em doses homeopáticas, ela sabe o peso disso. Mas, Patrícia assumiu esse risco, pois o que tem a perder? O que mais a delegada pode fazer? Não tem muitos apoios, não tem tempo de TV, não tem dinheiro, Sergio Moro não apoiou candidatos, e ela se identificava com esse eleitorado do lavajatismo, então resta a ela surfar no bolsonarismo", destacou o analista.
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