A quinta rodada da Pesquisa Ibope/JC/Rede Globo para a eleição do Recife, divulgada na noite deste sábado (14), véspera do primeiro turno, mostra que João se consolidou na liderança e apareceu com 39% dos votos válidos nesta quinta rodada. O levantamento também mostra pela primeira vez a candidata Marília Arraes (PT) sozinha no segundo lugar, com 26% dos votos válidos, em um vantagem acima da margem de erro de três pontos percentuais em relação a Mendonça Filho (DEM), que aparece com 18% dos votos válidos.
O cenário é diferente das rodadas anteriores, quando a disputa pelo nome que iria contra João Campos (PSB) estava mais embolada, com uma situação de empate técnico entre a petista, o democrata e a Delegada Patrícia (Podemos).
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Considerando a margem de erro, especialistas ouvidos pelo JC apontam que a diferença entre Marília em Mendonça segue apertada, o que mostra que o a busca pela segunda vaga em um segundo turno deve ser conquistada no voto a voto.
A Delegada Patrícia veio estagnando ao longo dos levantamentos. A estimativa de votos válidos saiu de 16% na primeira rodada para 14% nesta última. A sua rejeição cresceu consideravelmente, tendo dobrado de 20% para 40% na rodada anterior, e agora oscilado para 42%.
Esse fenômeno pode ser explicado pela repercussão das declarações antigas da candidata nas redes sociais em que, entre outras coisas, chama o Recife de Recífilis e do apoio do presidente Jair Bolsonaro à sua candidatura no último domingo (8).
"A delegada Patrícia Domingos foi a que sofreu mais ataques dos seus concorrentes. Por ser uma candidata outsider e de baixa rejeição ela era ameaça tanto para o campo da esquerda e/ou centro esquerda, como também ao candidato Mendonça Filho. O apoio do presidente Bolsonaro e o não crescimento da candidata pode ser observado por dois fatores: o primeiro - o aceno na reta final de campanha pode ter sido tardio para Patrícia Domingos. O segundo, o presidente também possui uma alta rejeição na capital pernambucana", afirma o cientista político Alex Ribeiro.
Na esteira do conceito de voto útil, outro dado chama atenção nesta véspera de primeiro turno: 23% dos entrevistados consideram a possibilidade de mudar de candidato até o dia da eleição, enquanto 74% afirmam que a sua escolha é definitiva e 2% não souberam ou não quiseram responder.
No recorte de idade, esse percentual de indecisos é maior entre os mais jovens, de 16 a 24 anos (32%) e de 25 a 34 anos (29%). No quesito renda, o maior índice é entre os entrevistados que recebem até um salário mínimo (28%), seguida do grupo que recebe mais de cinco salários mínimo (25%).
"Se a tendência de voto útil, de migração da Delegada para Mendonça se confirmar nas urnas amanhã, Mendonça é um candidato bastante competitivo e pode estar no segundo turno com João Campos. É algo que a gente precisa ficar atento também à essa movimentação", pontuou o cientista político Arthur Leandro.
Uma eventual migração de votos dos eleitores mais à direita da Delegada Patrícia para Mendonça também é apontado pela cientista política e professor da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho) Priscila Lapa. "O levantamento divulgado neste sábado, pouco tempo antes de irmos às urnas, reflete a intenção de voto neste momento. A população receberá os resultados como informação e, a partir dela, numa equação que combina outros fatores como noticiário, expectativas e avaliação dos candidatos, considerável parte desse grupo definirá sua opção nas urnas. Marília se descolou de Mendonça, mas amanhã (domingo, 15), o eleitor de Patrícia pode olhar os dados e decidir dar um voto útil ao democrata para tentar impedir o PT de chegar no segundo turno", apontou.
A possibilidade de um segundo entre os primos João Campos e Marília Arraes contraria o que era projetado por especialistas no início do pleito de que a eleição municipal iria repetir a polarização vivida na eleição de 2018 entre as candidaturas de esquerda e direita. "Eu penso que esse cenário tem duas causas: uma fadiga muito forte do PSB e a fragmentação da direita em múltiplos candidatos. Isso gerou esse cenário tão atípico", resume o cientista político Vanuccio Pimentel.
Já para Priscila Lapa, os números levam à percepção de que o eleitor recifense está orientado pela conjuntura de 2020. "com a crise econômica, pandemia e tantas outras coisas. Ele está preocupado com os problemas da cidade, com capacidade de gestão e de governança", argumentou a cientista.
Outro ponto levantado por Priscila é de que, segundo ela, faltou clareza para o eleitorado sobre qual dos candidatos de oposição representaria uma mudança, devido ao discurso difuso entre Marília, Mendonça e Patrícia. "Todas as pesquisas apontaram que a gestão de Geraldo Julio é mal avaliada, mas eles não conseguiram demarcar bem a posição de mudança neste primeiro turno", avaliou Priscila.
Sempre é dito que o segundo turno é considerado uma outra eleição. O cientista político Alex Ribeiro explica que nessa nova etapa há uma uma readequação de votos de eleitores de candidatos derrotados para os que foram passaram para o segundo turno. "Se a próxima etapa do pleito for entre João Campos e Marília é preciso avaliar alguns pontos: primeiro, a rejeição ao prefeito Geraldo Julio mostra um desgaste da gestão do PSB na capital. Segundo, o antipetismo é considerável também no Recife. Esses dois pontos podem levar a disseminação de votos da direita ou centro direita para os dois postulantes. O que, em tese, pode favorecer o candidato que já está à frente da disputa", explicou.