"A vitória é melhor quando é de virada", diz Marília Arraes, que vai ao segundo turno no Recife

João Campos (PSB) obteve 29,17% dos votos e Marília Arraes (PT), 27,95%. Os dois primos disputarão o segundo turno na capital
Luisa Farias
Publicado em 15/11/2020 às 23:59
16.11.2020 - VOTAÇÃO - Movimentação no Comitê de Marília Arraes e conquista da sua ida para o segundo turno da votação. Foto: BRENDA ALCÂNTARA/JC IMAGEM


A candidata do PT a prefeita do Recife, Marília Arraes, considerou sua passagem ao segundo turno - que vai disputar contra João Campos (PSB) - um recado aos que acham que "o Recife tem dono". A sua estratégia - mais intensificada na reta final - de se colocar como legítima oposição ao governo do PSB no Recife surtiu efeito no eleitorado que a credenciou para esta segunda fase do pleito. Alfinetando a campanha de João Campos, cuja candidatura representa uma continuidade ao governo do atual prefeito Geraldo Julio (PSB), Marília disse que de nada adiantou colocar "um exército de comissionados na rua". 

"Foi muito simbólico o resultado, demos um recado a quem acha que o povo tem dono, quem acha que o povo esta à venda, quem manda é o povo do Recife, não adianta estrutura. Vimos as pessoas saindo para votar com paixão porque é gostoso votar em quem a gente quer, não é na pessoa, é no projeto, mandamos recado que o Recife não aguenta mais quatro anos de PSB e somos a verdadeira oposição ao PSB, representamos um governo popular, uma gestão que colocará o povo no centro", disse a petista.

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Em discurso após o resultado das urnas, a petista cobrou que a militância siga ativa no segundo turno e não se desmobilize. "Não se enganem, ainda vão se desesperar muito quando a gente recomeçar. O segundo turno é nova eleição, é diferente, e vamos mostrar o que é militância que acredita na rua. A força da esperança está aqui e vai tomar as ruas do Recife. Não podemos nos desmobilizar", disse a candidata.

Com 100% dos votos apurados neste domingo (15), João Campos teve 233.028 votos, o que corresponde a 29,17% dos votos válidos. Marília obteve 223.248 votos, o equivalente a 27,95%. O terceiro colocado foi Mendonça Filho (DEM), com 200.551 votos (25,11%) e Delegada Patrícia (Podemos) atingiu 112.296 votos, ou seja, 14,06%. "A vitória é melhor quando é de virada", disse Marília.

Confira imagens da comemoração de Marília Arraes:

Ao longo da sua trajetória política, Marília alcançou uma série de marcos: É a única mulher no Parlamento de Pernambuco na atual legislatura, segunda mais votada no estado na eleição de 2018, e agora busca o título de primeira mulher a comandar o Recife. 

"Recife teve 50 prefeitos, tem mais de metade da sua população de mulheres, mas uma política liderada por homens, por pessoas do atraso, por gente que não olha para as forças do movimento da política. Nunca permitiram, não por falta de mulheres, que a liderança da mulher ocupasse um lugar de protagonismo político", disse João Arnaldo no seu discurso.

Comitê

O clima no comitê da candidata, no bairro de Santo Amaro, Zona Norte do Recife, era de festa desde o final da tarde, após o fechamento das urnas para o início da apuração. Músicas como "Vai dar PT" e "Vermelho", de Fafá de Belém e até uma adaptação do jingle "O homem disparou" foram tocadas diversas vezes ao longo da noite. Houve também um mini show do MC Vertinho. 

A apuração dos votos acabou sendo mais demorada do que a habitual nas eleições deste ano. A militância se animou novamente por volta das 19h40, quando a apuração saltou de 0,59% para cerca de 30%, quando a candidata chegou a aparecer na frente de João Campos com 29,05% enquanto o socialista tinha 27,09%. nova atualização só veio por volta das 22h40, com mais de 90% das urnas apuradas. A notícia era o que faltava para Marília chegar ao comitê para discursar. 

Marcaram presença no local as vereadoras eleitas Dani Portela (PSOL), Liana Cirne (PT), a deputada Jô Cavalcanti (PSOL), do mandato coletivo das Juntas (PSOL) e o presidente estadual do PSOL, Severino Alves. 

 

Primos

João e Marília são primos de segundo grau. Mas, a petista disse que não faz da política "assunto de família". "É um adversário como qualquer outro. Rompi com PSB há anos pela forma como se posicionam ideologicamente e politicamente. Além disso, pela gestão abandonada com governo pífio que abandona quem precisa", afirmou. "O que está em jogo é o futuro do Recife, a continuidade de gestão que não dá certo ou o projeto popular que priorize as pessoas de verdade", completou a candidata.

Agora, no segundo turno, Marília Arraes acredita ter uma disputa mais igualitária. "Teremos o mesmo tempo de TV, não tem exército de vereadores nas ruas e o povo ao nosso lado, vimos agora que não é em toda eleição, as pessoas vestiram a camisa animadas e é o papel da política resgatar a esperança das pessoas", comentou.

Sobre eventuais apoios vindos dos candidatos que não passaram para o segundo turno, ela disse que irá buscá-los, mas não a qualquer custo. "O apoio importante é o apoio do povo do Recife. É esse apoio que a gente está tendo desde sempre. Mas é claro que a gente precisa se articular, conversar com quem deseje declarar o apoio, sem dúvida alguma. A gente vai estar a disposição, vai fazer as articulações necessárias mas sem ter em vista o projeto que a gente tem. Apoio é uma coisa flexibilização do projeto, das ideias é outra. E isso nós não flexibilizamos", disse. 

Vale lembrar que todos os outros candidatos figuram na centro-direita e na direita. A Delegada Patrícia (Podemos), inclusive, já declarou que não apoiaria Marília nem João. 

Vice

O candidato a vice-prefeito João Arnaldo (PSOL) também falou sobre a passagem ao segundo turno e destacou que o PT preferiu não fazer escolhas pragmáticas e, sim, colocar o povo no centro do debate. 

"Temos que colocar o povo no centro das decisões, as escolhas de coligação devem passar por isso, as escolhas do PT não foram pragmáticas, foram por um desafio de buscar ampliações e o PSOL entendeu que esse movimento vai de encontro com nosso desafio atual, derrotar as forças do obscurantismo que infelizmente colocaram o País na situação de hoje e o PSB foi um dos partidos protagonistas no processo de destruição da democracia desde o golpe, que destruiu o jogo democrático que estava se consolidando", disse.

Ainda de acordo com João Arnaldo, o PSB faz escolhas "convenientes". "Foram aliados de Lula, de Mendonça, e vimos agora que, se no futuro for conveniente, podem estar aliados de Bolsonaro. O melhor que o Recife pode fazer ao PSB é fazer o partido entrar numa reflexão, quando se comete erros o melhor é deixar o poder, repensar seus erros, repetidos nos últimos anos", disse.

Reforço

A coligação de Marília - Recife a Cidade da Gente - conseguiu para os partidos que a integram um resultado mais favorável para a Câmara do Recife do que nas eleições anteriores. Foram eleitos três parlamentares do PT: Liana Cirne, Jairo Britto e Osmar Ricardo. Este último, membro do grupo que se opôs ao lançamento de candidatura própria pelo PT, quando teve o seu nome mencionado pelo locutor, houve vaias dos presentes. Mesma situação ocorreu quando o nome do vereador João da Costa - que não conseguiu reeleger - também foi mencionado. 

O PSOL, que só tinha Ivan Moraes como vereador, conseguiu reeleger ele e eleger Dani Portela, a vereadora mais votada desta eleição. "Eu não tenho dúvida que a vereadora mais bem votada na cidade do Recife e o vereador reeleito Ivan Moraes vão contribuir de forma decisiva nessas eleições, que serão grandes cabos eleitorais para eleger Marília no segundo turno", afirmou o presidente do PSOL-PE, Severino Alves. 

Durante uma live transmitida na noite da última sexta-feira (13) nas redes sociais, o ex-presidente Lula havia levantado a possibilidade de vir ao Recife para participar de algum ato de campanha de Marília caso ela passasse para o segundo turno. Questionada a respeito, Marília pondera que a estratégia ainda está sendo avaliada. "É importante lembrar que o presidente Lula é idoso, é do grupo de risco. A gente quer preservá-lo porque ele tem um projeto muito maior para o País e está nos apoiando, está de cabeça nessa eleição, está muito animado e isso também nos dá um gás e uma responsabilidade muito grande, contar com a confiança do ex-presidente Lula", disse Marília ao JC. 

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