Candidato a prefeito do Recife pela Frente Popular, o deputado federal João Campos (PSB) possui uma vantagem importante com relação a sua adversária, a deputada federal Marília Arraes (PT), a predileção do voto dos eleitores evangélicos. De acordo com a primeira pesquisa Ibope/JC/Rede Globo do segundo turno, divulgada no dia 18 de novembro, o socialista possui 44% das menções de votos dos entrevistados que declararam ser evangélicos, contra 32% do que votam na candidata petista. Brancos e nulos somaram 22% e não souberam responder com 2%.
Diante de um momento em que o conservadorismo tem se sobressaído nas discussões políticas do país, este é um segmento religioso que não pode ter seu peso subestimado. Prova disso são as movimentações que o prefeiturável e o arco de partidos que dão sustentação ao seu palanque já começaram a fazer. No mesmo dia em que o prefeito reeleito de Jaboatão, Anderson Ferreira (PL), declarou que apoia a candidata Marília Arraes neste segundo turno, o pastor e deputado estadual Cleiton Collins, emitiu uma nota na terça-feira (7), reafirmando seu apoio a Campos.
O parlamentar disse que buscaria os votos dos líderes evangélicos que estiveram ao lado do então candidato Mendonça Filho (DEM), terceiro colocado nas urnas. A reunião de mobilização ocorreu nesta quinta-feira (19), e os acenos foram positivos em relação à Campos. “Estamos trabalhando também para garantir que todos exerçam sua cidadania e evitando assim, o alto número de votos nulos ou brancos. É importante a participação de todo o povo para eleger João, que garantiu governar para todos sem discriminação, mas vendo e apoiando o trabalho que a igreja faz nos bairros, tirando a cidade da violência”, havia destacado Collins.
Segundo a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa, apesar de existir muita dissidência dentro do movimento evangélico, o PSB construiu um apoio forte nos últimos anos, ainda que não os coloque dentro de um discurso central. “No PSB, tanto no governo municipal, quanto no governo estadual, o segmento evangélico sempre esteve muito forte. Acredito que quem teve mais base e penetração nesse segmento tenha sido a candidatura de João. A intenção de votos para ele explica um pouco do antipetismo que há no meio evangélico”, comenta.
Segundo a docente, no cenário nacional há uma associação maior do público evangélico com o presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) e o seu campo ideológico, o que torna esse eleito claramente antipetista. O cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Ernani Carvalho, também corrobora desse contexto, acrescentando a ele, as agendas encabeçadas pela esquerda. “Há uma oposição natural entre petistas e evangélicos por causa da agenda de ações afirmativas, que a esquerda no mundo e no Brasil levanta”, afirma.
“Essa pauta transborda para vários espectros, entre eles discussões de gênero, à qual se opõem a questão evangélica e o católico tradicional. Mas, no caso do Recife, em especial, há uma articulação forte do PSB com esses setores e reforça essa tendência do voto evangélico para João. Essa articulação política não é de hoje. Então é um setor que é difícil Marília avançar mesmo com essas movimentações”, completa Carvalho.
Durante o primeiro turno, as amostras divulgadas pelo Ibope/JC/Rede Globo mostraram uma manutenção de João Campos na lideranças das intenções de votos do evangélicos. Apenas na amostra do dia 29 de outubro, foi possível notar um recuo significativo nesse eleitorado, que passou de 35% para 27%.
“Por isso que a sinalização do apoio de Anderson Ferreira se faz tão importante. Ainda que ele tenha hoje seu segmento de votos não seja majoritariamente no Recife. A família Ferreira tem muito votos no Recife, eles têm o vereador Fred Ferreira, tudo isso mostrando claramente que é mais uma questão simbólica”, avalia Priscila Lapa, sobre o apoio do gestor à Marília. “Isso pode ser utilizado nas estratégias de quem tá na base pedindo voto para Marília e dizendo, Anderson Ferreira é evangélico, mas está com ela”, complementa.
Na última quinta-feira, os candidatos debateram na Rádio Jornal; confira:
Ainda com base no recorte apresentado pela primeira pesquisa do Ibope/JC/Rede Globo, neste segundo turno, entre os eleitores a partir de 55 anos em diante , o candidato João Campos possui 44% das menções de voto, enquanto Marília Arraes possui 38%. O cenário também é favorável entre os eleitores de 25 a 34 anos, mas bem acirrado. O socialista aparece com 43% e a deputada federal com 42% das intenções de voto.
“João representa, de certa forma, estabilidade e o eleitor mais velho pode não receber bem mudanças. Diferente do eleitorado mais jovem que é mais sensível a mudanças. Tem a ver com geração e não questão político partidária, pessoas com mais experiência veem que nem toda mudança é boa”, avalia o cientista político Ernani Carvalho.
No entanto, o que antes foi utilizado pelos adversários como ataque, passou a ser enaltecido na reta final do primeiro turno: a juventude de João Campos. "Houve mudança na estratégia, tentando acabar com a insegurança das pessoas de votar nele por ser jovem, apesar de que candidatos jovens têm despontado no Brasil", afirma Priscila Lapa
"Mas aqui no caso Local, falamos de eleição em que estão sendo estimulados, resgatados, sentimentos dos eleitores em relação a governos que passaram seja o PSB tentando trazer memória positiva de Eduardo Campos, seja Marília Arraes tentando trazer a liderança de Arraes e Lula e quem potencialmente tem nessas figuras uma imagem positiva e pode usar isso como argumento favorável na campanha é o perfil do eleitorado que viveu essas eras. Então entra em cena a diferença de percepção dos mais jovens e mais velhos", ressalta a docente.