Após uma semana marcada por disputas judiciais envolvendo materiais publicados pelas campanhas João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT), os candidatos a prefeito do Recife se enfrentaram na noite desta sexta-feira (27) no último debate antes do segundo turno. Promovido pela Rede Globo, o embate entre os postulantes foi duro e cercado de acusações, mas também foi usado como plataforma para que o socialista e a petista apresentassem ao eleitor recifense suas principais propostas de governo e dessem suas próprias versões sobre as informações que circularam nas redes e no guia eleitoral nos últimos dias.
A primeira a elevar o tom no debate foi Marília, que ao comentar a proposta de João Campos de emprestar até R$ 3 mil para empreendedores da cidade, afirmou que "prefeitura não é agiota para emprestar dinheiro a juros". A seguir, a candidata apresentou uma ideia semelhante a do oponente, com a diferença de que não seriam cobrados juros dos pequenos empresários e parte do valor disponibilizado seria subsidiado pela gestão municipal.
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Mais adiante, ao ser questionado sobre o grande volume de obras paralisadas na cidade, João defendeu a gestão do prefeito Geraldo Julio (PSB), atacou os governos petistas no Recife e detalhou algumas das ações que pretende colocar em prática a partir de 1º de janeiro, caso seja eleito. "É inegável que o Recife avançou nos últimos anos. É só você lembrar como o PT deixou o Recife, com lixo em todo canto, com a cidade maltratada, faltando carinho e cuidado com as pessoas. O nosso compromisso é fazer o Recife avançar, é poder apresentar projetos concretos para nossa cidade. Por isso vamos construir um parque no antigo aeroclube e na Tamarineira, vamos fazer a triplicação da BR-232 e focar na melhoria da vida do recifense", declarou.
Ao ouvir o adversário criticar ações petistas no Recife, Marília ressaltou o fato de que o PSB era aliado do PT nas gestões João Paulo (PT) e João da Costa (PT) e que até hoje governa junto com o partido no Estado. "É importante dizer que na época em que o PT governou o Recife eu não era do PT, mas o PSB apoiava o PT e inclusive tinha a vice. Ou seja, é muito oportuno. Faz três eleições que o PSB faz desse jeito, culpa o PT, o governo federal, diversas pessoas. Daqui a pouco vai estar culpando o povo do Recife", disparou a deputada federal.
As operações deflagradas pela Polícia federal na Prefeitura do Recife durante a pandemia provocada pelo coronavírus e as investigações do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) sobre supostos "funcionários fantasmas" lotados no gabinete de Marília na época em que ela era vereadora também vieram à tona no embate.
"É impressionante como Marília insiste em fazer um discurso de ódio, um discurso contra o PSB. O candidato é João Campos nessas eleições, candidata Marília, e aqui coloco à disposição, se você quiser comparar. (...) Vamos comparar as nossas vidas públicas. Quem está sendo acusada pelo MPPE de improbidade administrativa, de mau uso do dinheiro público para a contratação de funcionário fantasma é a candidata Marília. Ela deve essas explicações ao povo recifense e ao MPPE", argumentou João Campos.
Em sua defesa, Marília Arraes afirmou que foi inocentada pelo Ministério Público e citou, sem mencionar nomes, o bloqueio do espólio do ex-governador Eduardo Campos, pai de João, que morreu vítima de um acidente aéreo em 2014. A decisão refere-se a uma ação de improbidade administrativa da Operação Lava Jato na qual Eduardo era um dos investigados.
"Eu estou muito tranquila, podem fazer quantas acusações de quantos processos forem porque eu sou inocente, eu não faço isso, agora a corrupção do PSB está bem pertinho da sua porta, do seu endereço. O diretor financeiro da Secretaria de Saúde é seu amigo pessoal, está sendo acusado, obrigado a devolver R$ 20 milhões. São R$ 150 milhões em desvio de recursos. Não sou eu que tenho bens bloqueados pela Justiça, não, você sabe muito bem quem é", cravou Marília.
Em resposta à adversária e prima, João se disse surpreso com a referência ao ex-governador. "Eu, de fato, achava que a candidata Marília era capaz de tudo, mas ela me surpreende. Ela está falando de Eduardo Campos, um homem que trabalhou muito pelo estado de Pernambuco e não está aqui para se defender. Não se faz isso, candidata", disse.
Durante o debate, apesar dos ataques mútuos, os candidatos também usaram o tempo que tinham disponível para destacar ações que pretendem desenvolver na cidade se eleitos. Para melhorar o transporte público, por exemplo, João afirmou que uma das ações que pretende implementar é a ampliação das corredores exclusivos para ônibus. "Nós vamos fazer a priorização do transporte público na cidade. Vamos ampliar em 50% a rede de faixas azuis, que são as faixas exclusivas de ônibus e vamos ocupar com grande vigor nossa posição no Grande Recife Consórcio para cobrar melhores rotas, rotas mais otimizadas que passem mais rápido e possam dar maior conforto para o usuário. Além disso, vamos fazer um programa de reestruturação das paradas de ônibus da cidade e implementar mais de 100 km de ciclovias e ciclofaixas", prometeu o socialista.
Marília, por sua vez, ao tratar sobre o tema da educação, afirmou que pretende priorizar o aumento do número de vagas em creches na rede municipal. "Nós temos, sim, propostas para educação, inclusive propostas que vocês fizeram e não cumpriram, como por exemplo as 21 escolas de referência que vocês prometeram e não entregaram. Isso é saber fazer? Se maneira alguma, muito pelo contrário. Hoje o Recife tem um dos maiores custos por aluno com pouco resultado sendo entregue. Conosco vai ser diferente, vamos entregar no mínimo oito escolas de referencia e vamos investir em creche, na educação infantil, pois eu sou mãe e sei a importância da educação infantil na vida das pessoas", garantiu a petista.
Ao longo do programa, os candidatos ainda discutiram sobre diversidade, combate às drogas, geração de empregos e acusaram um ao outro de disseminação de fake news. Por fim, Marília encerrou sua participação no debate defendendo o voto no seu nome pela sua experiência na política, pela sua posição enquanto mulher e afirmando que "o tempo ruim do PSB" já estaria no fim. João ressaltou ações desenvolvidas durante o seu primeiro mandato como deputado federal, afirmou que está disposto a encarar o desafio de governar a capital pernambucana e convocou a população a comparecer às urnas no próximo domingo (29).