PT deve definir em dezembro se irá ou não para oposição em Pernambuco

Ao longo do próximo mês, haverá uma série de reuniões da direção do partido para avaliar o resultado das eleições e os fatos ocorridos na campanha, em especial no segundo turno, quando João Campos (PSB) apostou na narrativa antipetista
Luisa Farias
Publicado em 30/11/2020 às 21:56
Marília Arraes disse no domingo (29) que a eleição deste ano significa um marco para a formação de uma nova oposição em Pernambuco Foto: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM


O PT de Pernambuco deve decidir em dezembro qual rumo irá tomar depois do resultado da eleição de João Campos (PSB) no Recife e a consequente derrota de Marília Arraes (PT). Não só o resultado em si, mas a campanha do segundo turno, quando o agora prefeito eleito apostou no antipetismo, põe em cheque a permanência dos petistas na gestões PSB no âmbito municipal e estadual.

"A gente vai dar uma sentada para avaliar enquanto partido sobre qual vai ser o rumo nosso em relação a essa situação. O PT de fato não conseguiu aqui a vitória em Recife, tivemos uma redução do número de prefeitos nossos aqui em Pernambuco, ampliamos o número de vereadores, mas evidente que sofremos uma campanha de muito ódio, fake news (no Recife). A gente está bastante indignado com essa postura", disse o presidente do PT-PE e deputado estadual Doriel Barros. 

Só cinco prefeitos do PT foram eleitos em Pernambuco, ate os sete na eleição de 2016. São eles Luiz Aroldo, em Águas Belas, Márcia Conrado, em Serra Talhada, João Bosco em Granito, Gueber em Orocó e Álvaro Marques em Tacaimbó. No âmbito nacional, é a primeira vez que o partido não ganhou a eleição em nenhuma capital brasileira desde a redemocratização. 

O diálogo em Pernambuco deve ser feito em pelo menos duas reuniões da Executiva Estadual e uma do diretório estadual para fazer uma avaliação da campanha, do resultado eleitoral e da expectativa daqui para a frente. Segundo Doriel Barros, tudo isso deve ser feito até o dia 20 de dezembro. Ele também deve se reunir com a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman. 

"A gente quer ter a oportunidade de escutar todo mundo e cada um dizer qual é a leitura que faz e depois o partido vai conduzir esse processo", disse Doriel. Ele também deu recados ao mencionar "erros" cometidos na campanha, sem mencionar a candidatura de Marília diretamente. "A gente não é um partido onde cada pessoa é um partido, ele é um só. Teve muita coisa errada durante todo esse período da campanha majoritária quanto de pessoas do PT e vamos fazer uma avaliação", resumiu. 

A bancada do PT na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) também deve se reunir para afinar o discurso a ser adotado na casa. Atualmente, os parlamentares petistas, Doriel, Teresa Leitão e Dulcicleide Amorim, integram a bancada do governo. A liderança do PT, inclusive, tem assento no diretório, atualmente ocupada por Dulcicleide. Na Câmara, como bancada de 2020 foi eleita no contexto de oposição, esse movimento deve ser mais natural. Serão três vereadores petistas na próxima legislatura: Liana Cirne, Jairo Britto e Osmar Ricardo, este último membro do grupo que opôs ao lançamento da candidatura de Marília. 

Cargos

João Campos adiantou na semana passada o compromisso de que na sua gestão não haveria indicação de cargos pelo PT. Isso foi visto como um aceno ao eleitorado de direita que acabou sendo decisivo na eleição da capital pernambucana. Ele reafirmou o que havia dito nesta segunda (30), em entrevista ao UOL. No domingo (29), o governador Paulo Câmara deixou espaço aberto para o diálogo. O petista Dilson Peixoto permanece no comando da Secretaria de Desenvolvimento Agrário.

Marília Arraes apontou o pleito deste ano como um marco para o início de uma nova oposição em Pernambuco, em discurso no domingo (29) ao lado do prefeito de Jaboatão dos Guararapes e presidente do PL-PE, Anderson Ferreira, e do presidente do Podemos-PE e deputado federal Ricardo Teobaldo. 

"Nós não temos condições de articular com um grupo que além de fazer tão mal na gestão, seja do estado, do município, mas também trata a política da forma que tratou", afirmou Marília. 

No Recife, Oscar Barreto saiu no meio da campanha da Secretaria Municipal de Saneamento, por orientação do partido, mas seguiu com a postura crítica à Marília. Em entrevista à Rádio CBN Recife nesta segunda-feira (30), ele disse que no futuro "o PT tem que ter a sandália da humildade e voltar a dialogar com o conjunto da Frente Popular, com as forças democráticas", afirmou. 

Oscar argumentou que a derrota em Recife impactou no cenário nacional e no estado gerou o rompimento com a Frente Popular. "A candidata do PT além de prejudicar o conjunto da política nacional com a candidatura aqui no Recife já coloca agora, derrotada, ela coloca agora que já é oposição e já vai ser candidata a governadora de Pernambuco. Esse negócio tem que parar no PT. O PT não vai aguentar esse tipo de comportamento, que não é um comportamento que escuta, que dialoga, que respeita o partido". 

Teresa Leitão rebateu Oscar dizendo que ele deveria fazer um "silêncio obsequioso". "Uma coisa é calçar as sandálias da humildade, outra coisa é não ter hombridade para ficar levando pito desse prefeito eleito. Quem é João Campos para encher a boca para dizer que não vai ter indicação do PT? O PT não quer, o PT é oposição a ele. Ele tem que botar na cabeça que o PT é oposição", disparou Teresa, que defende a entrega dos cargos do PT nas gestões socialistas e a ida da bancada da Alepe para a oposição. 

Um grupo de dirigentes do partido no âmbito nacional enviou um pedido de instauração de processo disciplinar contra Oscar Barreto ao Diretório Nacional após as declarações do ex-secretário nesta segunda. Pelo fato de Oscar também ser membro da direção nacional, o procedimento deve correr nesta instância. 

No pedido, são citadas infrações éticas e disciplinares, de acordo com o Estatuto do Partido, que teriam sido cometidas por Oscar, como "o desrespeito à orientação política ou a qualquer deliberação regularmente tomada pelas instâncias competentes do Partido", diz trecho do artigo nº 227 do estatuto. 

Os dirigentes dizem ser "público e notório" o desrespeito por parte de Oscar, que segundo eles, desrespeitou a tática eleitoral do Recife. "No dia seguinte a uma campanha em que Marília Arraes e o PT foram submetidos a ataques violentos, misóginos e de extrema direita, é inaceitável que um dirigente nacional do PT siga perpetrando impunemente este tipo de atitude", diz trecho da nota. 

Leia a íntegra do pedido

 "À Executiva Nacional do PT

O estatuto do PT afirma no seu CAPÍTULO IV Artigo 242 que no caso de PROCESSO DISCIPLINAR, “a representação deverá ser feita por filiado ou filiada, em petição escrita, motivada e circunstanciada, acompanhada das provas em que se fundar e da indicação do rol de testemunhas, até o limite máximo de 8 (oito), devendo ser dirigida “à Comissão Executiva Nacional, se o denunciado ou denunciada for membro do Diretório Nacional, presidente ou presidenta, vice-presidente ou vice-presidenta da República, ministro ou ministra de Estado ou equivalente”.

É o caso de Oscar Barreto, membro do Diretório Nacional do PT.

O estatuto do Partido diz também, no Art. 227, que “Constituem infrações éticas e disciplinares:

I – a violação às diretrizes programáticas, à ética, à fidelidade, à disciplina e aos deveres partidários ou a outros dispositivos previstos neste Estatuto;

II– o desrespeito à orientação política ou a qualquer deliberação regularmente tomada pelas instâncias competentes do Partido, inclusive pela Bancada a que pertencer o ocupante de cargo legislativo”.

É público e notório que Oscar Barreto desrespeitou e sabotou a decisão adotada pelo DN, referente a tática na eleição de Recife.

O caso mais recente de desrespeito foi entrevista concedida no dia 30/11/2020 à rádio CBN, em que Oscar Barreto afirma que a candidatura do Recife “prejudicou o conjunto da política nacional” e foi uma candidatura “que veio de São Paulo para Recife”.

O áudio da referida entrevista circulou na lista de zap do DN e a indico como a prova exigida pelo estatuto.

No dia seguinte a uma campanha em que Marília Arraes e o PT foram submetidos a ataques violentos, misóginos e de extrema direita, é inaceitável que um dirigente nacional do PT siga perpetrando impunemente este tipo de atitude.

Peço, portanto, a instalação do devido processo disciplinar contra Oscar Barreto.

Saudações petistas

Alberto Cantalice
Patrick Araujo
Luiz Eduardo Greenhalgh
Cícero Balestro
Valter Pomar
Natália Sena"

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PT Marília Arraes PSB
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