Para Humberto Costa, condução do 2º turno no Recife dificulta aliança do PT com PSB em Pernambuco

No Recife, já é consenso que PT será oposição. Situação no Estado também enfrenta dificuldades depois dos acontecimentos do segundo turno na capital pernambucana
Luisa Farias
Publicado em 01/12/2020 às 19:54
Humberto Costa e Marília Arraes na campanha de 2016 Foto: DIVULGAÇÃO


Uma das principais lideranças do PT em Pernambuco, o senador Humberto Costa (PT) falou pela primeira vez nesta terça-feira (1º) sobre os rumos que o partido deve tomar depois do resultado da eleição do Recife. Para o senador, a postura adotada pela campanha do agora prefeito eleito João Campos, de ataques ao PT durante o segundo turno, traz dificuldades para a permanência do PT até mesmo em cargos do governo de Pernambuco.  

"Acho que agora a gente tem que tentar encontrar um roteiro para o PT aqui no Estado, um modo de superar essas divergências que existiram e tocar para frente. Do ponto de vista da nossa relação com o PSB aqui na prefeitura, o PT vai ser oposição e o próprio eleitorado, na medida que deu a vitória a ele, nos colocou na oposição. Esse argumento de que não vai dar cargo ao PT, o PT não está pedindo cargo, o PT sabe da sua postura de oposição. Acho que da forma como a campanha foi feita, da forma inclusive como o próprio prefeito agiu, me parece um ambiente de muita dificuldade", alertou Humberto.

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O petista faz referência às afirmações reiteradas do prefeito eleito João Campos de que não terá indicação política do PT na sua gestão. "Nós temos o compromisso de não ter nenhuma indicação política do PT e vamos cumprir com esse compromisso", repetiu João na CBN na segunda (30).

O socialista também avaliou nesta terça (1º), em entrevista à Globo News, que o insucesso do PT na conquista das capitais brasileiras é consequência da falta de negociação com outros partidos do campo progressista. "O PT não quis fazer parte de bloco nenhum nas eleições de 2020 quando tomou a decisão de lançar candidaturas em quase todas as grandes cidades brasileiras, muitas delas de maneira isolada, e o resultado foi dado pelo povo", disse João Campos. 

No governo estadual, a situação é diferente, pois em 2018 o PT compôs formalmente a Frente Popular. Naquele ano, o governador Paulo Câmara foi reeleito e o próprio Humberto escolhido senador. Nacionalmente, o PSB apoiou Fernando Haddad (PT) no segundo turno da eleição para a Presidência da República. Atualmente, o PT ocupa a Secretaria de Desenvolvimento Agrário, com Dilson Peixoto. No último domingo (30), durante a comemoração da eleição de João, Paulo Câmara minimizou as divergências entre os partidos e disse que iria "continuar a conversar com quem queira". 

"O formato que essa disputa no Recife tomou acho que abalou esse relacionamento de uma forma mais ampla. O PT vai ter que se sentar para discutir qual é o roteiro", ponderou Humberto. "Eu acho que a relação do PT e PSB agora tem que ser conduzida pela direção nacional do PT, da nossa parte aqui eu não vejo como fazer isso", completou o senador. 

A aposta da campanha de João Campos no antipetismo no segundo turno repercutiu mal entre os dirigentes do PT. Muitos saíram naturalmente em defesa da sigla, a exemplo do presidente do PT-PE e deputado estadual Doriel Barros (PT). O entendimento de alguns petistas é que o PSB foi ingrato em relação ao PT diante do histórico de alianças dos dois partidos, até mesmo na gestão de João da Costa (2009-2012), em que Milton Coelho (PSB) era o vice-prefeito.

"A eleição do segundo turno representou o ponto de vista da postura do PSB uma grande decepção. Foi uma campanha rasteira que foi feita no segundo turno, extremamente agressiva, utilizando o antipetismo, tanto em termos nacionais como localmente, apesar de durante vários momentos, ao longo desse inicio do século XXI, PSB e PT terem estado juntos tanto no governo federal, tanto em prefeito tanto no governo estadual", disse Humberto.

Ele associou a questão religiosa, presente no segundo turno, a uma temática explorada de forma mais comum pela direita. Avaliação semelhante já havia sido feita por Teresa Leitão. Panfletos apócrifos com questionamentos sobre a fé de Marília Arraes chegaram a ser distribuídos no Recife. João Campos negou envolvimento no caso, o que não foi comprovado, mas como era o candidato beneficiado pelo material, a Justiça Eleitoral determinou que ele se abstivesse de distribuí-lo.

"Uma campanha que explorou temáticas que quem sempre explora é a direita, religiosos, de aborto, quer dizer, uma campanha baseada em informações que são claramente falsas e onde o peso da máquina foi usado violentamente. Isso para nós foi uma coisa inaceitável, até porque já tivemos eleições em que disputamos com o PSB, em 2006, agora mesmo em 2012, e até mesmo em 2016 que o PT e o PSB foram para o segundo turno com Geraldo Julio (PSB) e João Paulo (na época no PT), e no entanto não foi marcado por essa falta de cordialidade, de respeito. Então, infelizmente, a eleição foi decidida por essas questões", argumentou o petista.

Marília

Ao contrário do afirmado por Oscar Barreto (PT), de uma percepção negativa do resultado da eleição, Humberto adotou um tom mais otimista e teceu elogios à Marília Arraes. "Chegamos ao segundo turno, o PT deu uma demonstração que tem uma base social importante aqui na capital. Esse resultado também foi muito em função do desempenho de Marília, nossa candidata a prefeita, que se mostrou alem de muito guerreira, combativa, demonstrou que ela tem carisma, talento político e sai como uma liderança forte", disse Humberto. 

Em entrevista à CBN Recife na segunda-feira (30), Oscar Barreto destacou o fato de Marília ter obtido apenas 15 mil votos a mais do que João Paulo (PCdoB), na época no PT, na eleição de 2016. Marília teve 348.126 votos, enquanto João Paulo teve 333.516. Porém, o percentual de Marília foi de 43,73%, superior ao de João Paulo, de 38,70%. Isso pode ser explicado devido ao alto índice de abstenções, votos em branco e nulos na eleição deste ano. 

"A candidata do PT, além de prejudicar o conjunto da política nacional com a candidatura aqui no Recife, já coloca, agora derrotada, que já é oposição e já vai ser candidata a governadora de Pernambuco. Esse negócio tem que parar no PT. O PT não vai aguentar esse tipo de comportamento, que não é um comportamento que escuta, que dialoga, que respeita o partido", disse Oscar, na segunda (30). 

Um grupo de dirigentes do partido no âmbito nacional enviou um pedido de instauração de processo disciplinar contra Oscar Barreto ao Diretório Nacional após as declarações do ex-secretário. Pelo fato de Oscar também ser membro da direção nacional, o procedimento deve correr nesta instância.

Os dirigentes dizem ser "público e notório" o desrespeito por parte de Oscar, que segundo eles, desrespeitou a tática eleitoral do Recife. "No dia seguinte a uma campanha em que Marília Arraes e o PT foram submetidos a ataques violentos, misóginos e de extrema direita, é inaceitável que um dirigente nacional do PT siga perpetrando impunemente este tipo de atitude", diz trecho da nota.

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