Desde a última sexta-feira (15), um perfil no Twitter, intitulado "placar do impeachment", vem pressionando parlamentares a se posicionar sobre um possível afastamento do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).
>> 'Não vou dizer que eu sou um excelente presidente', diz Bolsonaro a apoiadores
>> Mourão: Forças indisciplinadas ou com projetos ideológicos comprometem democracia
>> Especialistas questionam declaração de Bolsonaro sobre Forças Armadas
A página vem recolhendo posicionamentos de deputados nas redes sociais a fim de mostrar para a população como eles votariam em relação ao impeachment. Em última atualização, publicada na manhã desta terça-feira (19), 110 deputados se mostraram a favor do impedimento e 53 são contra. Outros 350 não se posicionaram.
Você pode conferir os dados coletados pelo perfil no site 'Impeachment_Bolsonaro'. Clique aqui e confira!
Além de apresentar os números, o perfil vem marcando deputados e cobrando que eles se posicionem. Deputados que se pronunciaram em favor do impeachment têm suas publicações compartilhadas pela página. "Já são mais de 60 pedidos de impeachment do presidente Bolsonaro. Negacionismo ao tratar da pandemia. Fracasso nas negociações de vacinas, seringas e agulhas. Promessas não cumpridas. Sem contar as falas desastrosas, uma atrás da outra", escreveu o deputado federal Vinicius Poit (NOVO).
Outra a se pronunciar sobre foi a deputada federal Tabata Amaral (PDT), namorada do prefeito do Recife, João Campos (PSB). Segundo a parlamentar, o impeachment é uma "questão de sobrevivência". "Bolsonaro, com sua omissão e incompetência, é responsável por somarmos mais de 10% de todas as mortes mundiais. O que ele faz é um crime contra a humanidade. Basta de impunidade para alguém que causa tanta dor ao próprio povo", escreveu.
A conta na rede social intitulada @sos_impeachment existe desde 2019, mas o placar do impeachment só foi inaugurado na sexta-feira (15). Eles também destacam posicionamentos de personalidades da política que estão sem mandato, como Marina Silva (Rede), Fernando Haddad (PT), entre outros.
A vice-governadora de Pernambuco e presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, é uma das que se manifestaram em prol impeachment. Em conjunto com PT, PSB, Rede e PDT, o partido de Luciana apresentou um novo pedido de impeachment.
Luciana alega que entre os motivos está a falta de incentivo "ao uso de máscaras e incentivar o uso de medicamentos ineficazes, por difundir desinformação, além de violar o pacto constitucional entre União, Estados e Municípios. O Brasil está morrendo sufocado por este presidente", escreveu a pernambucana.
Caso Rodrigo Maia (DEM) ou o próximo presidente da Câmara, que será definido no início de fevereiro, decida levar à votação o impedimento, seriam necessários ao menos 342 deputados (dos 513) votando a favor, ou seja, dois terços da Casa. Isso para que o processo siga em frente, pois a votação da Câmara é apenas uma das etapas. Se aprovar o parecer, a Câmara está autorizando a instauração de processo contra a presidente da República. Caberá ao Senado processar e julgar a presidente. Se a Câmara rejeitar, o caso não vai ao Senado – é arquivado.
Também há parlamentar que discorda de uma discussão sobre impeachment neste momento. É o caso do deputado federal pernambucano Felipe Carreras (PSB). Em publicação nesta semana, ele destacou ser oposição a Bolsonaro, mas disse que o momento deve ser de foco na vacinação contra a covid-19.
Em seguida, o parlamentar ressaltou ser de oposição. "Que fique claro: sou oposição ao Governo. A abertura de um processo de impeachment cabe, exclusivamente ao presidente da Câmara. Não concordo que seja o momento para isso. É hora do parlamento mostrar compromisso e atenção com a vacinação. O foco deve ser salvar vidas", escreveu Carreras, no Twitter.
Já o candidato à Presidência da Câmara deputado Marcel van Hattem (Novo) afirmou, em entrevista à Jovem Pan, que, até agora, os pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro protocolados na Casa não apontam para crime de responsabilidade claramente definido. "É algo que o [Rodrigo] Maia tem dito e que o Novo tem avaliado. O impeachment é um processo que demanda crime claramente definido. Há fatos pretéritos que dão preocupação, como o uso da Abin para fins pessoais, o Novo requereu informações para entender melhor o assunto. Se não é apenas mais um tumulto na democracia e nas instituições, o que não é bem-vindo", afirmou.
Autora do pedido de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), a deputada estadual de São Paulo Janaina Paschoal (PSL) foi ao Twitter, nesta terça-feira, afirmar que não vê elementos para impeachment de Bolsonaro. Ainda assim, ela aconselhou ao governo que "cuidem um pouco mais da forma, levem as questões sérias mais a sério, não façam tanta piada, tanta ironia, evitem cair em provocações, não entrem em guerra com Prefeitos e Governadores.... Apenas o Presidente tem a perder com tudo isso", escreveu a jurista.
Em entrevista à Rádio Jornal, na manhã desta terça-feira (19), o senador Lasier Costa Martins (Podemos) explicou que as discussões sobre um impeachment de Bolsonaro ganharam corpo por conta de declarações do presidente e sua postura em relação à pandemia do novo coronavírus. "O senhor Jair Bolsonaro, no qual votei, mas tenho decepções, tem feito tolice, tem feito declarações inconvenientes, conspirando com essa tragédia que é a pandemia", afirmou.
>> Bolsonaro e Centrão próximos acordo sobre escolha do presidente da Câmara dos Deputados
O senador destaca que mesmo com pressões em favor do impeachment, a situação de Bolsonaro não é tão delicada, visto que o presidente se aproximou do chamado 'Centrão' no Congresso Nacional. "Bolsonaro tomou precauções quando se alinhou ao Centrão, ele mudou sua promessa de que não seria presidente de toma lá da cá, de conchavos, mas foi obrigado a fazê-los quando percebeu os riscos que corria. Ele teve visão do que poderia acontecer e vem acontecendo agora", afirmou.
Lasier destacou que por conta dessa aliança com o Centrão, que conta com siglas como PTB e PP, a Câmara ainda não tem número de votos para aprovar o seguimento de um impeachment. Mas o senador reforça que o presidente vem "piorando a situação". "Bolsonaro está numa derrocada. A cada semana ele se encarrega de piorar a situação. Se ele ficasse quieto, poderia conter isso", afirmou.
Fator decisivo para o seguimento, ou não, de um processo de impeachment será a eleição do novo presidente da Câmara. Até o momento, são nove candidatos e dois com maiores chances: Arthur Lira (PP) e Baleia Rossi (MDB). Para Lasier Martins, se Arthur Lira vencer, Bolsonaro estará "salvo", visto que o presidente da República apoia a candidatura do alagoano na Câmara.
"Acho, ainda, imprevisível (a eleição na Câmara), mas acho que esse descalabro de Bolsonaro pode retirar votos de Lira, como sendo seu representante, seu apoiado. Arthur Lira no momento está em vantagem, mas ainda não se pode ter certeza de sua vitória. Se de fato ele vencer Bolsonaro está salvo, Arthur Lira não colocará em discussão qualquer pedido de impeachment", concluiu.
A avaliação negativa do governo de Jair Bolsonaro, assim como a percepção de sua atuação no combate à crise do coronavírus, pioraram em janeiro, apontou pesquisa XP/Ipespe divulgada nessa segunda-feira (18). Segundo a sondagem, subiu de 35% para 40% a fatia dos entrevistados que consideram o governo “ruim” ou “péssimo”, patamar semelhante ao verificado em abril do ano passado, no início da pandemia. Aqueles que consideram o governo “ótimo” ou “bom” passaram a 32%, contra os 38% verificados em dezembro.
Na avaliação do cientista político Adriano Oliveira, Bolsonaro tem uma queda na popularidade por conta de motivos como a pandemia e o fim do auxílio emergencial. "O auxílio ajudou a popularidade de Bolsonaro no segundo semestre de 2020, principalmente nas classes C, D e E. Essa popularidade, no momento, o conduz ao segundo turno da próxima eleição presidencial. E não é apenas o auxílio, há identificação de parcela do eleitorado com a personalidade do presidente", explicou Adriano em entrevista à Rádio Jornal.
Mesmo com a queda na popularidade do presidente, o professor Adriano não vê um impeachment como saída para o País. "Bolsonaro recuou, por determinação do centrão, quando atacou o STF em 2020. Espero que ele recue sobre a vacinação. Incluir em toda essa crise um impeachment será muito ruim. Espero que ele apresente um plano de vacinação detalhado, toque uma reforma administrativa, uma reforma tributária, o plano de privatizações", comentou.
Adriano Oliveira destacou que Bolsonaro ainda é competitivo nas urnas. "As pesquisas mostram que em 2022 Bolsonaro vence Lula/Haddad. Ele tem um governo baseado em ideologia. Ele tem parcela do eleitorado evangélico por conta da agenda conservadora, depois a defesa das polícias e a agenda antiambientalista permite popularidade em outra parcela. E, por fim, o antipetismo que ainda é forte na sociedade", concluiu Adriano.
Outros parlamentares pernambucanos fizeram publicações em defesa do impeachment: