De receitas a ações de governo: como João Campos tem governado de olho nas redes sociais

Jovem, novo prefeito do Recife tenta manter no governo estratégia de "humanização digital" que deu certo durante a campanha eleitoral
Mirella Araújo
Publicado em 12/02/2021 às 19:18
Desde o período eleitoral, João Campos intensificou o uso das redes sociais para apresentar propostas e compartilhar alguns fatos da sua vida pessoal Foto: WELINGTON LIMA/JC IMAGEM


Na democracia contemporânea, o uso das redes sociais como principal interlocutor entre as figuras políticas e a população se tornou um caminho sem volta, desde as eleições do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em 2018. Mas, não é só na campanha eleitoral que esse tipo de ferramenta tem um alcance de peso na estratégia política dos candidatos. Após vencer as eleições no Recife, o prefeito João Campos (PSB) tem compartilhado nas suas redes não só anúncios importantes da gestão, mas fatos do seu cotidiano com direito até a receitas culinárias e estímulo a prática de exercício físico. Por trás dessa interação, existe o que tem sido chamado de “humanização digital”.

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Esse acesso personalizado à classe política tem impacto nas estratégias de governo e na forma como se dará o relacionamento com público. Em meio aos nomes cotados para assumir o primeiro escalão do secretariado da Prefeitura do Recife, João Campos utilizou suas redes para anunciar os 18 nomes do time de titulares. As primeiras medidas da gestão, como o Plano de Vacinação do Recife contra a covid-19 e, mais recentemente, o Auxílio Municipal do Carnaval, também foram amplamente divulgadas pelo seu perfil.

Por outro lado, o chefe do Executivo não se limita a mostrar apenas o passo a passo dentro da Prefeitura do Recife ou das agendas públicas. Ele também exibe alguns fatos da sua vida pessoal, ao lado da família e com declarações para a namorada e deputada federal, Tabata Amaral (PDT-SP).

Para o diretor da Paradox Zero, agência de tecnologia e transformação digital, Paulo Rebêlo, a personificação dos políticos é algo cultural da América Latina, as pessoas votam nos candidatos e não nos partidos, e no ambiente das redes sociais essa característica é extrapolada, o que provoca a reflexão sobre que tipo de mensagem se quer passar para quem o acompanha.

“Como diretor e consultor, o que percebo é que falta um entendimento maior sobre que tipo de mensagem o prefeito (João Campos) que passar, como gestor. O que se avalia do lado de fora, é que às vezes a comunicação nas redes sociais é muito boa e às vezes é muito juvenil. O que não necessariamente é algo ruim para muitas pessoas, mas é uma particularidade observada”, pontua. Rebêlo também ressalta que esse posicionamento não é meramente ligado a idade de Campos, que tem 27 anos, mas que pode soar como negativo para “um público eleitor mais qualificado”.

“O uso das redes sociais por políticos melhorou bastante porque eles entenderam que é preciso profissionalizar essa gestão. Ainda existem falhas, que estão sendo corrigidas, uma delas é achar que rede social é assessoria de comunicação e não é”, destaca Paulo. Ele também avalia que o trabalho feito durante a campanha não só por João Campos, mas pela deputada federal e adversária do pleito, Marília Arraes (PT), foi um reflexo desse entendimento político da necessidade de personalização de suas imagens nas redes sociais. “O mundo inteiro está nas redes sociais, é nossa vida diária. De um modo geral eles fizeram um trabalho muito bom”, afirma.

CURTIDAS

Como nem tudo são “likes”, a exposição também traz a necessidade de ter estratégias qualificadas para gerenciar crises. “Os riscos precisam estar alicerçados de uma boa estratégia porque existe um teor de responsabilização sobre o que é dito. Então, ele será cobrado pelo que diz e não existe unanimidade nas redes sociais, ninguém está isento de polêmicas”, avalia a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa.

Nas eleições para a presidência da Câmara dos Deputados, o PSB viu sua bancada rachar entre os apoiadores do deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP) e uma ala que defendia o deputado federal Arthur Lira (PP-AL) apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro. Dentro do partido, sabia-se que a preferência de João Campos era pela vitória de Lira, ele teria assinado inclusive um indicativo para que o partido pudesse formalmente apoiar o parlamentar alagoano.

Nas redes sociais, Campos foi cobrado duramente para assumir um posicionamento. O ator e apresentador João Vicente Castro fez uma publicação pedindo para João Campos se posicionar contra Arthur Lira, e vários seguidores foram até o perfil do prefeito fazer os mesmos questionamentos.

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A resposta não veio de imediato. Posteriormente, João Campos usou o  Twitter afirmar que, como prefeito e por não ser mais deputado federal, não poderia “interferir no voto” dos parlamentares do PSB, sem responder ao principal questionamento sobre apoiar ou não Lira. “Essa capacidade de liderança e a sua experiência será reforçado pelo que está escrito nas redes sociais, tem que ser coerente sobre o que mostra nas redes no dia a dia com aquilo que se coloca como gestor”, afirma Priscila.

 

PERFIL

Os perfis das redes sociais do prefeito João Campos (PSB) são administrados por ele, com suporte operacional de uma empresa especializada na área, a Hermanos . De acordo com Campos, as redes são uma ferramenta de escuta importante para o mandato.

“Recebemos respostas, sugestões e outros elementos, por meio de comentários e outras formas de interação, que nos ajudam a identificar respostas que o poder público precisa dar em determinadas áreas. E ainda é importante ressaltar a transparência que as redes proporcionam, com a população acompanhando o que o seu governante tem feito pela cidade”, afirma o prefeito, ao JC.

Diferente da estratégia adotada por Bolsonaro, em 2018 , gerando todo esse boom do uso das ferramentas digitais para além dos meios tradicionais, e que hoje tem sido um espaço exclusivo para divulgar posicionamentos e promover ações do governo, João Campos tem uma familiaridade natural nesses espaços.

“É algo geracional, como um meio prioritário de se expressar e se comunicar. Não só ele, mas uma geração de políticos mais jovens como o deputado federal Túlio Gadelha (PDT), o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (MDB). João traz isso de forma muito clara para o mandato”, pontua Priscila Lapa.

 

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