Necessidade de uma reforma política, maior participação da população e críticas à reeleição no Brasil. Esses foram temas debatidos na Rádio Jornal, nesta quinta-feira (1º), pelo ex-senador Cristovam Buarque, pelo deputado federal Paulo Ganime (Novo-RJ) e pela cientista política Priscila Lapa.
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A formação do eleitor e a necessidade de pressão popular nos parlamentares foram colocados como principais pontos para qualificar a política no Brasil. Mas, mexer em benesses dos políticos é algo, ainda, difícil de acontecer, na visão de Cristovam. "Reformas tocam nos interesses imediatos dos parlamentares e, lamentavelmente, o interesse individual prevalece. São precisas pressões de fora, para pressionar os deputados. A reforma fiscal e administrativa são mais urgentes e a reforma política é a mais importante a longo prazo. É preciso a conquista de credibilidade pelos agentes políticos, depois dar mais eficiência e dar melhor formação ao eleitor. É preciso reforma na educação, garantia de escola de base para todos", comentou.
Confira o debate:
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Por sua vez, Ganime trouxe para discussão a necessidade de um bom serviço público para diminuir o 'mal voto'. Com o serviço público apresentando problemas, cidadãos, principalmente os mais carentes, ficariam nas 'mãos' de políticos, destaca o parlamentar. "O que impacta não necessariamente é a escolaridade. Mas, a dependência do eleitor, o fato do sistema de saúde funcionar mal faz com que o eleitor dependa de seu político para furar uma fila de atendimento, ter acesso a uma ambulância, uma vaga na escola para o filho. O eleitor depende muito do estado seja o mais pobre ou, às vezes, o empresário que tem relação promiscua com o estado. Esses vão depender do político e votar mal. Não é porque é mais instruído, é por ser dependente. Consequentemente, quem é mais rico tem segurança, escola particular, plano de saúde e quem é pobre depende mais. Critico quem faz isso, mas é difícil julgar uma mãe que quer uma vaga para o filho na creche e depende de político", ressaltou.
A falta de clareza sobre o papel dos políticos brasileiros foi levantada pela especialista Priscila Lapa. "O eleitor está confuso, sendo levado a pensar de forma partidária e não a pensar em projeto de sociedade. Uma reforma política pode apontar diversas direções, mas é preciso pensar em quais problemas uma reforma pode resolver, saber como outros países fizeram reformas. É preciso saber o que se pode ganhar e o que é possível abrir mão. O grande debate é se você quer aumentar a representação, se quer um sistema mais inclusivo, se você quer aumentar controle social, equacionar o recurso privado no financiamento político", comentou.
Questionado sobre como retomar a credibilidade nos nossos representantes, Cristovam Buarque apontou caminhos que poderiam ser adotados pela classe política brasileira. Entre eles, o fim da reeleição. "Para retomar a credibilidade, precisa acabar com as mordomias, privilégios, isso desmoraliza. Alguns defendem o fim por razões fiscais, eu concordo, mas não pesaria tanto no buraco enorme do déficit. Então, o fim das mordomias é algo moral. Além disso, o fim da reeleição para o Executivo e da segunda reeleição para proporcionais, dois mandatos não três, que os parlamentares prestem contas, para que dê resultado e acabar com o fundo partidário, essa quantidade de dinheiro público aos partidos, acima de tudo a quem tem mandato", afirmou.
Ganime disse acreditar em uma mudança, mas admitiu ser difícil. "Acredito ser possível se a população entrar em cena. Claro que é difícil em meio à pandemia ir às ruas fazer manifestação. Da mesma forma que precisa de maior participação popular, temos um sistema que dificulta o entendimento da população. Fiz planejamento estratégico e uma das pautas é aproximar a população da política, mas só isso não basta, precisa mudar o formato do sistema político. Enquanto tomam decisão pelo próprio interesse, é difícil mudar. Vários parlamentares, por exemplo, já defendem a volta da coligação e até mesmo distritão, que favorece o caciquismo político, que favorece o que tem muito voto", destacou o deputado.
"É preciso separar o que é prerrogativa de poder. Mas se confunde e transforma em privilégio. Isso porque não se tem transparência de critérios para contratação e falta de clareza para a população sobre para que serve esse aparato, para que serve um deputado, um senador, um vereador", concluiu Priscila Lapa.