ELEIÇÕES 2022

Fator "Lula" na campanha eleitoral de 2022 pode trazer PT e PSB para o mesmo palanque

A reaproximação dos partidos tem sido articulada diretamente pelo ex-presidente que já externou estar disposto a conversar em torno da unidade de uma frente ampla para 2022. Sobre esse aspecto, os socialistas avaliam como positiva a mudança do tom impositivo de um projeto político encabeçado pelo PT, para um tom mais conciliador

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Mirella Araújo

Publicado em 17/04/2021 às 10:10
Em 2018, apoio do ex-presidente Lula foi fundamental para reeleição do governador Paulo Câmara no primeiro turno - Foto: reprodução do Facebook

Desde a decisão do ministro Edson Fachin, no início do mês de março, em anular as condenações do ex-presidente Lula referentes à Lava-Jato e, consequentemente, possibilitando a recuperação dos direitos políticos do líder petista, o PSB tem se posicionado com cautela sobre possíveis alianças no âmbito nacional e local. A reaproximação dos partidos tem sido articulada diretamente pelo ex-presidente que já externou estar disposto a conversar em torno da unidade de uma frente ampla para 2022. Sobre esse aspecto, os socialistas avaliam como positiva a mudança do tom impositivo de um projeto político encabeçado pelo PT, para um tom mais conciliador.

Na avaliação do cientista político e professor da Asces/Unitas, Vanuccio Pimentel, ter o ex-presidente Lula como candidato à presidência seria benéfico para o PSB na disputa pela permanência no poder do Governo do Estado. Apesar das trajetórias distintas dos dois partidos de esquerda, o ex-presidente tem uma característica inegável de conseguir unificar forças. “Em 2018, Lula teve um papel importante para garantir a reeleição do governador Paulo Câmara logo no primeiro turno. Justamente pela capilaridade que Lula tem, muito mais que o próprio PT”, afirma Pimentel.

O cientista político também destaca que essa aliança tem ainda mais peso caso o nome para a sucessão de Paulo Câmara seja, de fato, o do ex-prefeito Geraldo Julio - atual secretário estadual de Desenvolvimento Econômico. “É muito importante ter essa eleição casada com Lula, porque se o candidato for Geraldo Julio, ou qualquer outra pessoa, não há projeção estadual, nem carisma ou mesmo uma liderança que seja reconhecida”, avalia o docente.

Prefeito do Recife por dois mandatos, Geraldo é naturalmente mais conhecido na Capital. Em 2018, um dos objetivos do PSB em se aliar com o PT era ganhar votos no interior do Estado, onde o peso do lulismo é ainda mais forte. Na época, o governador Paulo Câmara (PSB) e o então presidenciável Fernando Haddad (PT) fizeram um dos principais atos da campanha de ambos em Caetés, no Agreste, cidade onde o ex-presidente nasceu.

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O fato é que, oficialmente, o Partidos dos Trabalhadores e o Partido Socialista Brasileiro firmaram um compromisso de tratar diretamente sobre a conjunção nacional para as eleições de 2022, a partir do início do ano que vem. “Nós estamos debatendo internamente sobre este assunto, mas temos outras prioridades com relação à pandemia, ao enfrentamento do desemprego. O PSB ainda não tem decisão formada se terá candidato próprio ou não, portanto não há discussão para quem será o candidato à presidência ou a vice”, afirma o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, ao JC.

Ele, inclusive, reforçou que neste momento a legenda passa por um processo de autorreforma e de discussão de um projeto para o Brasil com foco na área econômica e social. “Não estamos discutindo nome de pessoas”, cravou Siqueira. No entanto, o dirigente socialista declara que o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, teria todas as qualidades para ser uma das apostas do partido para vir a compor uma chapa como vice, apesar de não especificar se esta composição seria com o PT.

“Claro que o governador é um grande nome para qualquer composição, mas não estamos fazendo essa discussão. Fizemos uma reunião a convite do presidente Lula, porque estamos conversando com todas as forças políticas. Na semana anterior, também tivemos uma reunião com Ciro Gomes, então da nossa parte, vamos procurar fazer o debate”, destaca. Anteriormente, Carlos Siqueira já havia conversado com a reportagem, deixando claro que qualquer decisão do partido passaria por Pernambuco, por ser considerado um estado estratégico para o partido.

Um auxiliar do Palácio do Campo das Princesas, esclarece que não há um trabalho sendo feito “dia e noite” para que o nome do governador esteja na prioridade da construção de uma possível chapa formada com o PT .”Esse é um processo muito mais complexo, que não será definido agora e envolve todo o partido. Se houver essa composição de chapa em que a escolha seja do PSB, é preciso ter um debate interno”. Vale registrar, que o cenário mais provável a respeito do futuro de Paulo Câmara, seria disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Decisão que será referendada em abril de 2022, prazo máximo para desincompatibilização do cargo.

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SITUAÇÃO DO PT

Do outro lado, o PT de Pernambuco já fincou que todas as decisões sobre 2022 serão guiadas em comunhão com a Executiva Nacional. Nem mesmo as rugas deixadas pelas eleições municipais de 2020, devem se sobressair ao projeto político nacional. Segundo o presidente estadual do PT, o deputado estadual Doriel Barros, os petistas saíram “machucados” das eleições municipais - o que acabou culminando na saída do PT no governo Paulo Câmara - mas que o momento pede como prioridade os interesses da população. “O nome de Lula é muito forte e unifica muita gente, estamos confiantes na sua candidatura e na sua vitória, para isso, vamos precisar conversar com todos os partidos do campo da esquerda, de centro, e todos aqueles que são contrários ao governo Bolsonaro”, destaca Barros.

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O fortalecimento do partido será a prioridade, com foco na ampliação de deputados estaduais e federais, mas na questão envolvendo as disputas majoritárias, Doriel explica que tudo vai depender do projeto a ser defendido pelo PT Nacional. Ele não descarta, inclusive, que o partido tenha candidatura própria em Pernambuco. “Nós temos quadros preparados para isso, como o senador Humberto Costa, que já disputou uma eleição com o PSB. Agora, claro que vamos estar fazendo essa construção sintonizada com o projeto nacional. Podemos eventualmente ter candidatura própria ou fazer uma composição com a Frente Popular, desde que o compromisso seja de participar do projeto nacional do PT”, declarou, sem citar entre os quadros para a disputa majoritária a deputada federal Marília Arraes, rifada pelo partido em 2018.

O senador Humberto Costa afirma que há uma consciência de que a entrada de Lula no cenário eleitoral, influencia diretamente nas estratégias não só do PT, mas de outros partidos. “Sem dúvida ele será um grande eleitor, e poderá interferir na disputa pela sucessão estadual, para a eleição no Senado. Nós temos essa consciência, mas não tomamos uma posição. Pode ser que Lula sendo candidato, isso possa facilitar um entendimento com outras forças políticas que estiverem com ele”, afirma Costa, acrescentando que o foco é a eleição presidencial.

Para o cientista político Antônio Lucena, mesmo com uma vertente antipetista em Pernambuco, o ex-presidente continua sendo bem avaliado, e sua imagem acaba se “descolando” um pouco do PT. “A gente viu isso na campanha de Marília Arraes e essa é uma questão bastante complicada. Tudo vai depender dos arranjos regionais e como isso pode impactar no macrocenário”, afirma Lucena. O especialista rememora as eleições estaduais em 2018, em que foi feito um arranjo entre o PSB e PT para que Marília Arraes não saísse candidata, mas que o mesmo não pôde ser replicado na disputa pela Prefeitura do Recife.

“Se isso se repetir em 2022, há o risco do partido ter o mesmo desempenho da eleição de 2020 para a PCR, ou seja, isso contribuir para a reeleição de um candidato do PSB. Tudo isso depende do jogo estratégico que vai estar envolvido para 2022. Como vão ser os acordos aqui em Pernambuco, em outros Estados, porque o PSB pode considerar estratégico garantir Pernambuco, ceder mão de outras localidade, mas isso é algo que precisa estar presente nas nossas mente”, avalia.

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