Atualizada às 19h40
Um dos pré-candidatos do PSDB para a disputa presidencial de 2022, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, visita Pernambuco nesta sexta-feira (13), quando cumpre agenda ao lado da prefeita de Caruaru, Raquel Lyra (PSDB), dando start à sua campanha pelo Nordeste.
Mais jovem governador do país, Leite não poupa críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o tucano afirmou que o ex-capitão do Exército está mais preocupado com a pauta do voto impresso e tentativas de ataques à democracia do que com as demandas do Brasil.
Confira a entrevista completa:
O senhor está trabalhando para viabilizar a sua candidatura em um momento difícil para o seu partido que está muito desmilinguido. Temos a situação de saúde do senador Serra, sem condição de trabalhar a candidatura de alguém do partido, já tivemos Fernando Henrique dizendo que vota em Doria, já temos Alckmin dizendo que vai sair do partido para ser candidato a governador de São Paulo e aí o senhor cada vez mais fica desarmado para trabalhar a sua candidatura. Mesmo assim o senhor acha que vai prosperar?
Olha, eu estou muito entusiasmado nessa jornada. Eu fui prefeito de Pelotas aos 27 anos e governador do Rio do Rio Grande do Sul eleito aos 33 anos, o mais jovem da história do Brasil. Sempre tive que enfrentar os consensos da cartilha política. Ser prefeito aos 27, ser governador aos 33 por si só já um ato de ousadia que contrariou a visão de muita gente que achava que era cedo demais, que não ia dar certo. O PSDB no Rio Grande do Sul é um partido pequeno, não é um partido grande. O Rio Grande do Sul tem grandes forças políticas no MDB, no PP, dentro desse campo político, que disputam o protagonismo do processo eleitoral. Não havia no PSDB uma expectativa que pudesse protagonizar o processo político e aos 33 anos, saindo de uma região mais empobrecida do estado, que há 100 anos não elegia um governador. A região Sul do Rio Grande do Sul, para quem não conhece, é uma região mais empobrecida. Quem é mais conhecido no Rio Grande do Sul fora do estado são as cidades da Serra Gaúcha, onde está Caxias do Sul, grande polo metal mecânico e Bento Gonçalves, com os vários dos vinhedos, Gramado. A região Sul é uma região mais empobrecida e foi de lá que eu vim, Pelotas é polo dessa região, e virei governador do estado. Então, eu já venho na minha trajetória política sempre contrariando esses consensos da cartilha política e enfrentando os desafios graças a Deus e a muito trabalho. Por isso, olho para o cenário nacional, tendo sido desafiado a liderar um projeto para o nosso país com muito otimismo, muita confiança, e estou fazendo todo o meu melhor aqui para ajudar a resgatar as pessoas a confiança no Brasil do futuro, para a gente discutir os problemas do País e não ficarmos em um enfrentamento uns contra os outros como infelizmente a política se tornou nos últimos anos.
O senhor é governador de um estado do extremo Sul do país, depois de ter sido prefeito de uma cidade do extremo Sul do seu estado. Que juízo o senhor faz dos problemas regionais desse Brasil, em especial da Região Nordeste? Como o senhor imagina que enfrentaria tantos desafios que temos pela frente?
Sem dúvidas, as questões regionais precisam ser olhadas com especial atenção. Eu sou de um desses extremos que tem demandas regionais específicas e que portanto sofrem também com um olhar pouco atento, boa parte das vezes pelos governos em geral, tanto pelo governo do estado quanto pelo governo federal que pouco olha para a situação específica de demandas regionais que precisam de um olhar atento para o desenvolvimento. Afinal, boa parte da nossa população brasileira se concentra no Sudeste, e boa parte da economia está lá também, pelos seus méritos, pelo seu trabalho, não é nenhuma crítica a isso, é uma característica do País. Então, se nós queremos desenvolver o País por igual, precisa-se olhar para investimentos que possam ser feitos de forma a compensar essas características regionais. Por exemplo, Pernambuco, a gente sabe, tem demandas de infraestrutura que são históricas e que precisam ser tratadas, como a Transnordestina para ligar o Porto de Pecém até o Porto de Suape e que infelizmente recentemente o Ministério da Infraestrutura apresentou não dar prioridade para a obra no sentido ao Porto de Suape, ou o Arco Metropolitano para fazer a conexão dos polos industriais do Litoral Norte ao polo industrial do Porto de Suape. Obras de infraestrutura que visam reduzir os custos logísticos para que a gente tenha melhor capacidade de competir com as outras regiões. Porque como as regiões já são mais afastadas dos grandes centros consumidores e produtores dos principais insumos que são demandados na indústria, se não houver infraestrutura, acaba ficando tudo mais caro e se fica mais caro compete em piores condições ou até não consegue competir e se inviabiliza qualquer investimento nessas regiões. Então, a primeira coisa, a gente que olhar diante da demanda de infraestrutura que reduza o custo da logística e estimule o investimento privado para gerar emprego, gerar renda para a população de cada uma das regiões de acordo com as suas vocações locais. É claro que a gente tem que olhar também as questões sociais específicas. Determinadas regiões do Brasil, por consequência da falta de desenvolvimento econômico ao longo de determinado período, têm uma parcela substancial da sua população, uma parcela expressiva da sua gente que precisa de apoio do governo com políticas públicas específicas de transferência de renda, como é o caso do Bolsa Família ou de programas habitacionais, programas de saneamento, serviços públicos de saúde. Onde as pessoas carecem de governo, tem que ter mais governo, tem que ter mais atuação do governo para atender a essas pessoas. Essas desigualdades regionais do Brasil precisam ser enfrentadas com esse olhar, sem dúvida nenhuma, específico para o que é a demanda mais premente, mais urgente de cada uma das regiões, e uma atuação firme e decisiva do governo de atender mais onde mais se precisa do governo.
O senhor pegou um estado em crise, o Rio Grande do Sul, com uma crise profunda, e o senhor assumiu. Já resolveu a sua crise aí para poder agora se preocupar com a crise dos outros?
Estamos a passos largos aqui enfrentando a nossa crise e superando esse cenário de crise do Rio Grande do Sul. Quando eu assumi o governo, fazia três anos que os servidores não recebiam os seus salários em dia. Desde o ano passado, o estado voltou a pagar o salário dos servidores na data certa. Eu assumi o governo, hospitais estavam com três meses de atraso nos pagamentos por parte do governo. Os municípios estavam por seis meses sem receber os pagamentos na área da saúde por parte do estado e o estado não estava pagando os fornecedores de medicamentos. Está tudo rigorosamente em dia. O estado paga os hospitais, paga os municípios em dia e quitou as dívidas já deixadas por governos anteriores na área de medicamentos. A gente fez as reformas, harmonizou o governo, diminuiu o gasto com o próprio governo para dentro para poder gastar mais com a população nos serviços públicos. E é isso que eu penso para o Brasil também, a gente precisa ter um olhar de gestão focado em resultados para atender a população que mais precisa dos serviços públicos de forma decente. Imagina a gente estar na pandemia, que a gente enfrentou esse período mais crítico do ano passado para cá, com os hospitais recebendo em atraso? Fechando os serviços, parando cirurgias, parando consultas? Seria o caos. A gente conseguiu fazer um enfrentamento melhor da pandemia por conta dos recursos sendo utilizados de forma correta e a gente colocou os pagamentos dos hospitais em dia já no primeiro ano de governo, antes da pandemia. Foi um esforço concentrado para colocar as contas em ordem. Não é um fim em si mesmo o equilíbrio das contas do estado, mas é um meio fundamental. Sem ter as contas em ordem, você não consegue planejar o futuro. Isso é assim na casa da gente, se a gente está devendo, se alguém está devendo para vários credores, não consegue se planejar para fazer um investimento dentro de casa. Se está devendo para os outros, tem que pagar as contas para conseguir planejar o que vai fazer para melhorar a sua própria casa. O estado é a mesma coisa, a gente tem que ter o estudado funcionando bem, gastando direitinho, pagando as suas contas, para poder planejar e fazer os investimentos para melhorar a vida das pessoas.
O partido do senhor, o PSDB, acumulou diversos erros de estratégia durante o período pós Fernando Henrique. A começar por 2022, quando o PSDB lançou José Serra para concorrer com o eleito presidente Lula naquela ocasião e o eleitorado naquela ocasião pedia um governo de mudança, um candidato de mudança, e lançou um candidato de continuidade. Quando foi em 2006, o eleitor também queria um candidato de continuidade, é tanto que elegeu Lula, mas o PSDB resolveu lançar o ex-governador Geraldo Alckmin,. Então em 2010, novamente o PSDB estava nas mãos do ex-governador José Serra e ele se fez candidato para concorrer contra Dilma, que era uma candidata de continuidade quando naquela ocasião o PSDB tinha um governador assim como o senhor hoje, bem avaliado, estava por cima, tinha organizado o seu estado também, que era Aécio Neves, que não viabilizou a sua candidatura em detrimento de José Serra. Em 2014, Aécio sim conseguiu ser candidato a Presidência da República, mas já tinha perdido aquele encanto de ser um governador bem avaliado, foi um senador também um tanto apagado e então não conseguiu o sucesso naquela eleição como sabemos. Ai veio 2018, Geraldo Alckmin foi novamente candidato e naquela ocasião, ele escolheu a estratégia de bater em Bolsonaro, quando o eleitor naquele momento queria alguém com sangue no olho contra o PT, é tanto que Bolsonaro foi eleito. Qual a deve ser a estratégia e o que é que o senhor entende do posicionamento do eleitor para para a eleição de 2022? Como seria o Eduardo Leite candidato à Presidência pelo PSDB?
Depois do jogo jogado, é fácil analisar e fazer pelo replay, olhar por outro ângulo o que deveria ter sido feito. Eu costumo dizer que a gente fazer a análise crítica do jogo sob os diversos ângulos, acaba sendo fácil dizer: "Ó, devia ter cruzado a bola para cá, devia ter jogado para lá, devia ter feito tal lance e não fez". Mas enfim, a gente analisa com clareza esses episódios e o importante é a gente falar de futuro. Eu acho que esse é o grande ponto para a eleição de 2022. O Brasil entrou não só em uma crise profunda por conta da forma com que os governos governaram nos últimos anos, com gasto público desequilibrado, gastando mais do que se arrecada, sem políticas públicas bem planejadas, fazendo com que isso gere uma crise de desconfiança no nosso país. Essa crise de confiança gera aumento do preço do câmbio, o preço do câmbio do dólar pressiona a inflação, os produtos ficam mais caros, a população sofre para conseguir colocar comida na mesa. A gente sabe da realidade de boa parte da população que tem que escolher os dias que vai comer carne. Essa é a realidade para boa parte da população por conta da inflação alta chegando a quase dois dígitos. A gente tem combustível, energia, alimentação com preços sendo muito elevados. Isso está conectado a essa crise de confiança e aí gera a necessidade do governo ter que aumentar juros. Se o governo aumenta juros, ele gasta mais para pagar dívidas. Se ele paga mais a dívida, ele deixa de investir em programas para a população e se os juros vão ficando mais altos, vão desestimulando os investimentos na nossa economia para gerar emprego e renda para a população. É um efeito cascata, tem todo um círculo vicioso com essa crise de confiança no País. A gente tem que falar de futuro. Enquanto a gente deveria falar de futuro, o governo fica discutindo voto impresso, fica criando confrontos, conflitos entre as Forças, os Poderes da República, ameaças de golpe, tentativa de ameaça com tanques na rua, ataques ao Judiciário, ataques ao Parlamento, ataques à imprensa, ataques aos governadores. É muito desperdício de energia em confrontos completamente inúteis, sem qualquer interesse público, enquanto os problemas com os quais o governo deveria estar tratando e brigando efetivamente, esses acabam ficando solto. Os problemas verdadeiros do Brasil não estão sendo enfrentados, enquanto o presidente da República foca em uma política de enfrentamento pessoal aos seus adversários. Eu entendo que a eleição de 2022, a gente tem que falar de futuro, do Brasil que a gente quer. Mais de 20% da população jovem no Nordeste, pesquisas apresentam isso, está desempregada, procurando um caminho para si, para a sua vida, para a sua vida profissional, para sustentar a si e as suas famílias. Se a gente não oferecer perspectiva de futuro, a gente vai sofrer graves consequências no curto prazo por esse desalento para parte da população. Então, a gente tem que fechar um capítulo de uma política que foi muito divisiva entre nós e eles, uns contra os outros, para abrir um capítulo de uma política focada em atacar verdadeiramente os problemas e não a destruir adversários políticos.
Tem um conterrâneo seu, o ex-deputado e ex-governador Germano Rigotto, que ele ficou conhecido aqui no Congresso Nacional como deputado da Reforma Tributária. Ele presidiu duas vezes a comissão, foi relator de uma comissão da Reforma Tributária, mas apesar de todo o empenho, não andou. Como o senhor quer tratar a questão da questão da Reforma Tributária já agora na sua proposta de campanha para chegar ao Palácio do Planalto?
Olha, a Reforma Tributária ela é super importante, porque a gente tem um sistema tributário que é muito complexo, é muito difícil de administrar. As pessoas podem achar que esse assunto é mais distante, mas se a gente tem um sistema tributário que é complexo de um lado, torna difícil a vida de quem empreende. Eu acabei de falar para vocês, de outro lado, o governo precisa aumentar juros, aí a vida para quem tem dinheiro acaba sendo fácil de resolver. Compra títulos do governo, se remunera com os juros, e ao invés de empreender e gerar empregos, porque é tão difícil empreender, é tão difícil administrar esse sistema tributário complexo, é mais fácil comprar títulos do governo, ganhar juros e não gerar emprego nenhum, simplesmente negociando um governo endividado. É isso que acontece no Brasil, é isso que precisa ser observado. A gente precisa reduzir essa complexidade. Como é que reduz isso? Tem que analisar o conjunto dos impostos. É difícil porque parte dos impostos são municipais, especialmente o ISS, o Imposto Sobre Serviços, o Imposto Estadual, o Imposto de Circulação de Mercadorias, o ICMS, depois você tem os impostos federais, IPI, PIS, Cofins, que precisam ser reunidos, como em outros países acontecem, em um único imposto, um imposto de valor agregado, que seja mais simples de ser cobrado. Agora, é claro que tem discussões muito difíceis, porque o setor de serviços acaba reagindo por conta das alterações que vai gerar em alíquotas, os municípios acabam também ficando ansiosos na expectativa do que vai gerar com as suas arrecadações. Tem que ter um esforço grande de diálogo, de liderança do presidente da República para que essa reforma aconteça. E é isso que não acontece, porque os presidentes, e atualmente a gente tem observado isso, pouco conhecem, pouco entendem desse assunto e não querem liderar esse processo, não têm convicção na pauta para liderar um processo como esse que é difícil de ser entendido mas que é de grande impacto na vida da população. A gente diminuiu alíquota de ICMS e vamos continuar diminuindo alíquotas de imposto no estado para estimular a nossa economia. A gente tem que tornar a vida de quem empreende mais fácil para que ao invés de comprar títulos da dívida sendo remunerados com juros opte por pegar o seu dinheiro e aplicar em investimentos que gerem emprego, que gerem renda para a população para movimentar a sua economia. Esse é sem dúvida o caminho que a gente deve trilhar para o Brasil se desenvolver e ser o país que a gente quer.
Nós já tivemos uma inflação fantástica que aí o seu partido chegou e acabou com ela. Essa inflação está voltando. Se o senhor for presidente, a gasolina baixa?
Olha, boa parte do valor do combustível está atrelado ao preço do câmbio do dólar, e o dólar está atrelado ao risco do Brasil. Quando a gente tem ambiente doméstico interno de tensão por conta da forma como a política tem sido conduzida, gerando muita expectativa, muita ansiedade no mercado, isso faz com que o preço do dólar aumente. O dólar mais alto está diretamente conectado a um ambiente interno também de tensão política. Por isso é importante que o presidente da República não seja um fator de tensão. Se ele tensiona, se ele cria conflitos, ele dificulta esse ambiente, gera falta de previsibilidade e a falta de previsibilidade faz com que o dinheiro saia do País e se sai o dinheiro do País a gente tem escassez de dólar e o aumento do preço do câmbio. Como a gente está falando de uma commoditie que é o petróleo, precificado internacionalmente, o aumento do câmbio pressiona o valor do combustível aqui também. É claro que ele é precificado internacionalmente, o barril do petróleo tem as suas oscilações, enfim, mas o ambiente interno está também sendo decisivo nesse aumento no preço dos combustível. É isso que a gente tem que criar, condições. Você não faz por decreto a diminuição do preço do combustível, mas você tem que criar o ambiente para que esse preço possa reduzir. Pode ter certeza que é um dos focos nossos, combater a inflação para diminuir o custo de vida em todas as frentes para a população. Como eu disse, a gente está no Rio Grande do Sul avançando em redução de impostos e vamos avançar inclusive na redução de impostos sobre o combustível no Rio Grande do Sul agora para o ano de 2022.
Durante muito tempo o "brizolismo" no Rio Grande do Sul era quase uma religião, de certa maneira uma continuidade do "getulhismo". Hoje os políticos gaúchos ainda seguem o "brizolismo" ou pensam totalmente diferente do que se pensou no passado?
Eu acho que tem uma diferença de momentos, de circunstâncias. Getúlio Vargas e Brizola foram muito importantes para o Rio Grande do Sul e para o Brasil em uma determinada circunstância histórica em que se tinha uma outra realidade da geopolítica, outra realidade econômica. Era outra lógica do papel do estado na vida da sociedade e da economia. A gente precisa atualizar esses pensamentos. Eu respeito o que eles fizeram no passado dentro das suas circunstâncias, do seu momento histórico, mas o mundo é outro. A gente tem uma economia que muda profundamente por conta da tecnologia, o mundo globalizado. A gente precisa pensar o Brasil de forma grande, o Brasil no mundo, dentro dessas mudanças que o mundo sofre por conta da tecnologia que aproxima cada uma das regiões, as populações. A tecnologia gera uma mudança de hábitos, comportamentos na população em geral, então não tem como a gente olhar para o passado sem tirar do contexto ou sem colocar no devido contexto cada um desses momentos. A gente respeita o que foi feito no passado, mas a gente não vive do passado, a gente vive de futuro e é esse futuro que a gente tem que construir.
Voltando a questão das estratégicas que o seu partido adotou nas eleições, mas tocando em outro viés agora, no viés mais programático. Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, foi responsável pela reestruturação do estado brasileiro, o enxugamento do estado brasileiro, a implementação de uma moeda forte, o real, que conferiu ao Brasil mais credibilidade no cenário internacional. Porém, os candidatos posteriores, como Serra, Alckmin, Aécio, todos eles em todas as eleições negaram essas bandeiras históricas do PSDB e talvez por isso o PSDB tenha tido um desempenho tão pífio na eleição de 2018. Ao contrário do PT, que mesmo com todas as denúncias que sofreu ao longo dos mandatos de Lula e Dilma, com Operação Lava Jato, com Mensalão e tudo, ainda conseguiu colocar naquela casa dos 30% um candidato no segundo turno na eleição passada contra Jair Bolsonaro. Dessas bandeiras históricas que o PSDB teve no governo Fernando Henrique, que ajudaram a mudar a imagem econômica do Brasil perante o mundo econômico, quais o senhor acha que devem ser resgatadas?
O governo Fernando Henrique, também como eu disse, tem que ser colocado no seu contexto, embora mais recente do que os exemplos trazidos aqui dos gaúchos, Getúlio Vargas e Brizola. Vamos lembrar que o Brasil tinha acabado de eleger em 1989 o seu primeiro presidente pelo voto popular depois do regime militar e ele sofre um processo de impeachment. Isso gera um ambiente também de desconfiança do ponto de vista institucional. Precisava estabilizar o país, amadurecer institucionalmente o país, então não era só a estabilização econômica que o Plano Real gerou, do combate à inflação, da redução desse crescimento dos preços que consome, a capacidade de compra, especialmente da população mais pobre, tinha um processo ali de estabilização institucional para amadurecer a nossa democracia e garantir que a gente pudesse consolidar as nossas instituições. Fernando Henrique foi determinante para isso, com a sua sobriedade, sensatez, que está faltando na vida pública nacional nesse momento. Falta equilíbrio, falta bom senso, falta colocar as energias realmente onde interessa para enfrentar os problemas da população. O presidente Fernando Henrique fez processos de privatizações que são importantes para modernizar a nossa economia. A gente tinha a dificuldade de acesso de telefonia fixa, quem dirá telefonia móvel no Brasil antes do processo das privatizações. A gente teve um avanço importante com a entrada do setor privado em setores que eram de monopólio público antes. Então, esse processo de privatização é importante, não significa a ausência do governo nos setores, porque o governo deve ser um regulador, um fiscalizador da prestação de serviços para que eles funcionem de forma adequada, sob regras claras para atender o interesse da população. Mas ele não precisa ser um governo operador direto com empresas públicas, porque ele não é um bom operador, ele não é eficiente e acaba a população pagando um preço caro ou sequer conseguindo acessar o serviço. E o presidente Fernando Henrique também criou lá no seu governo os primeiros programas sociais, o Bolsa Escola, o Vale Gás, o Vale Alimentação, entre outros que acabaram sendo reunidos depois no Bolsa Família, que são programas de transferência de renda importantes para a população mais carente. Eu acho que tem bons exemplos da forma de atuação do governo do PSDB, do presidente Fernando Henrique, das privatizações aos programas sociais, passando pela sobriedade, pela sensatez, pelo equilíbrio que está faltando ao Brasil agora, que eu espero que a gente possa recuperar a partir das eleições do ano que vem.
Ouça a entrevista:
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