Baiano de Salvador, José Eduardo Cavalcanti de Mendonça, mais conhecido como Duda Mendonça, havia completado 77 anos na última terça-feira (10), sem, todavia, muitos motivos para celebrar. Internado há cerca de dois meses no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, o publicitário estava com um câncer no cérebro, que foi agravado em decorrência da covid-19, levando-o à morte nesta segunda-feira (16).
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Dono de um vasto currículo com mais de 45 campanhas eleitorais no Brasil, na Argentina e até em Portugal, Duda Mendonça, que chegou a ser considerado o maior especialista brasileiro do marketing político, diferente do que muita gente imagina, começou sua trajetória no ramo em uma imobiliária. Isso porque Mendonça desistiu do curso de Administração na Universidade Federal da Bahia (UFBA) para se tornar corretor de imóveis. Foi nessa área, ao desenvolver ideias de vendas para uma agência, que teve contato com a publicidade pela primeira vez.
Em 1975, em sua cidade natal, criou a agência de publicidade DM9 para atuar, inicialmente, no ramo imobiliário. Em pouco tempo, conquista vários prêmios nacionais e internacionais na área, como o Leão de Cannes, que Duda levou para casa por três anos seguidos.
Dez anos depois, após o fim da ditadura militar, Mendonça decide entrar no ramo do marketing político na campanha de Mário Kertész (à época no PMDB) para a prefeitura de Salvador. Pela primeira vez, Duda Mendonça usa o coração como marca de um político.
Já em 1992, repete a estratégia – e a ideia de logo – ao comandar a campanha de Paulo Maluf para a prefeitura de São Paulo. A vitória dá projeção nacional para Duda Mendonça, que em 1998 comandou a campanha de Miguel Arraes (PSB) à reeleição ao governo de Pernambuco. O socialista, no entanto, foi derrotado pelo ex-aliado Jarbas Vasconcelos (PMDB).
"Lulinha paz e amor"
Em 2002, ficaria marcado por uma de suas campanhas mais conhecidas, ao coordenar a publicidade de Lula na disputa pela presidência depois de três tentativas frustradas do petista de chegar ao poder. Coube a Duda tornar a alcunha “Lulinha paz e amor” famosa naquela época.
No livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais, do pernambucano Antônio Lavareda, de quem Duda foi sócio, o marqueteiro conta que sua tarefa na eleição de 2002 era apresentar ao Brasil "não o Lula das greves, dos sindicatos, mas um Lula humano, tranquilo, que tinha família, filhos e netos".
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O publicitário também foi o responsável pela campanha de reeleição da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, em 2004, também pelo PT. Em outubro deste mesmo ano, ainda durante as eleições, o marqueteiro foi preso em flagrante em uma operação da Polícia Federal (PF), junto com outras 200 pessoas, em uma rinha de galos na zona oeste da capital paulista.
O publicitário também atuou nas campanhas dos irmãos Ciro e Cid Gomes no Ceará, respectivamente a deputado federal e a governador, em 2006, pelo PSB. Os dois se elegeram. Dois anos depois, em 2008, Duda também atuou no marketing político de outras campanhas do Nordeste. Ele coordenou e ajudou a eleger prefeitos em Fortaleza e João Pessoa.
Mensalão
Quando estourou o escândalo do mensalão, o publicitário foi acusado de receber por serviços ao PT por meio de uma offshore nas Bahamas. Em 2005, Mendonça confessou à CPI dos Correios ter recebido R$ 10,5 milhões pela campanha à eleição de Lula via caixa 2.
A defesa do publicitário argumentou que ele cometeu o crime de sonegação fiscal, não o de lavagem de dinheiro, e que pagou o que devia ao fisco - R$ 4,8 milhões. Além disso, afirmou que o marqueteiro não tinha conhecimento da origem ilícita dos valores recebidos do partido e nunca tentou ocultá-los.
O baiano chegou a virar réu no processo do mensalão, mas foi absolvido. Para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), prevaleceu a tese da defesa de Mendonça, não ficando demonstrado que ele tinha conhecimento da origem ilícita dos recursos e, consequentemente, não houve prova de sua intenção de ocultar os valores.
Em entrevista à Folha em 2018, indagado sobre se é possível fazer campanha sem caixa 2, Duda disse que acha "que sim, sobretudo para os que trabalham de forma correta. Acrescentamos os impostos nos custos e dormimos em paz".
O maior arrependimento
Apesar dos envolvimentos nos escândalos, o maior arrependimento que Duda diz ter na carreira não tem a ver com isso.
"O maior arrependimento é quando ajudamos a eleger alguém e depois ficamos desencantados com ele. Chegamos a uma conclusão frustrante: Deus nos deu um dom e verificamos que ajudamos a eleger a pessoa errada", disse, sem citar nomes. "Não é correto dar os nomes das pessoas. Não há quem nunca erre."